segunda-feira, 30 de março de 2009






















Os cães ladram e as caravanas passam

Inspecionar obras para verificar seu andamento é um dos esportes preferidos dos políticos. Uns, porque as referidas obras fazem parte da sua gestão, e garantir seu bom andamento significa garantir popularidade. Outros, pelo motivo contrário: como opositores, estão ali para fiscalizar e, quiçá, encontrar defeitos que possam servir de munição contra o gestor da obra.

É claro que para saber sobre o andamento de uma obra pública não é preciso ir até lá pessoalmente. Todo mundo sabe que político - sobretudo com mandato - tem um enorme séquito de assessores, que inclui técnicos muito mais capacitados que os próprios chefes, para avaliar a execução de projetos. Mas como ficaria o marketing, se o próprio mandatário não der uma passadinha por lá, vez por outra? Lembrando, é óbvio, de avisar antes à imprensa.

Dois casos exemplares que ocorreram em Pernambuco embasam perfeitamente toda essa teoria. Há duas semanas, o governador Eduardo Campos (PSB) percorreu mais de 30 municípios do Estado, visitando obras da sua gestão. Foi acompanhar seu andamento e, de quebra, colher os frutos pelas realizações, sobre palanques previamente montados em cada ponto do itinerário governista.

Eduardo segue à risca a cartilha do presidente Lula, que toda semana dá uma passadinha em alguma obra ou inauguração pelo País. E sempre que pode, leva a tiracolo sua candidata, a ministra Dilma Rousseff, presidenciável do PT, para com ela dividir os lucros políticos.

Hoje foi a vez do outro lado. A cúpula nacional do Democratas, maior opositor do governo Lula, iniciou por estas bandas a sua "Caravana da Transparência". Trata-se de uma inspeção às obras bancadas com recursos do Programa de Aceleração do crescimento (PAC) - carro-chefe do Planalto - nos Estados. Os ex-pefelistas escolheram Pernambuco para dar a largada por ser o Estado que mais verbas captou até agora do PAC. E ainda pelo sentido emblemático da coisa. Afinal, trata-se da terra natal de Lula. Se conseguirem identificar falhas por aqui, o impacto pode ser mais proveitoso.

Marqueterismos à parte, o que resta de concreto nessas caravanas? O que elas trazem para o cidadão dos grotões do interior? É tão somente uma forma de o político marcar presença. O fato de o presidente ou o governador passar por lá vai acelerar a obra? Certamente que não. Da mesma forma, a presença de opositores no local, documentando a situação, vai fazer com que o gestor agilize as ações? Também é pouco provável.

No fundo, parece mesmo um acordo de cavalheiros - embora saibamos que não o é -, com os governistas tirando sua fatia de proveito das ditas obras, fazendo seus discursos positivos, enaltecendo a si mesmos e aos companheiros que ajudaram a realizar aquele "sonho" da comunidade e deixando gravados seus números na cabeça do eleitor local. Saem de cena para dar lugar aos opositores, que ali vão criticar a lentidão do projeto, questionar sua necessidade e assegurar que, uma vez eleitos, farão mais e melhor, esforçando-se, ao final, para ficar na lembrança da população na próxima disputa eleitoral.

O processo das "caravanas" tem sido mais ou menos assim há muitos anos no Brasil, desde que o próprio Lula, após a eleição de 1989, lançou a "Caravana da Cidadania", e passou a percorrer o Brasil com seu ministério paralelo, fiscalizando as ações do presidente Fernando Collor de Mello, que o derrotara nas urnas.

Há alterações no processo, claro, porque às vezes é a oposição que chega antes dos governistas. Mas o efeito, no final das contas, é praticamente o mesmo. Tudo pode acontecer. Inclusive, nada.



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