sexta-feira, 13 de março de 2009













Marolinha econômica, tsunami político

Até o momento, o presidente Lula parece estar conseguindo convencer a população de que pode mesmo se manter firme na prancha, surfando na "marola" da crise econômica, sem maiores respingos na sua popularidade. Mas a maré anda mudando tão rápido que, se não ficar esperto, Lula pode assistir à sua popularidade levar um tombo dos grandes nos próximos meses.

O alerta vem sendo feito nas últimas semanas por analistas políticos do próprio Palácio do Planalto. O presidente tem sido advertido para que, embora mantenha os discursos otimistas que vem fazendo pelo País, comece a olhar com mais cautela para os efeitos imediatos da crise.

Dois deles são, no mínimo, preocupantes: primeiro, a queda de 3,6% do Produto Interno Bruto (PIB), a maior registrada desde 1996. Por tabela, o PIB puxou para baixo a taxa de juros, reduzida pelo Copom esta semana em 1,5 ponto percentual, maior corte desde novembro de 2003. Se, por um lado, a redução tenta melhorar o PIB no próximo trimestre, por outro assusta investidores, sobretudo os estrangeiros.

O segundo efeito imediato da crise, porém, é o que pode efetivamente dar uma rasteira na popularidade presidencial. Uma pesquisa encomendada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), divulgada ontem, revela que 80% dos empresários brasileiros adotaram medidas de contenção, e 54% já começaram a demitir funcionários. Somente em São Paulo, 236,5 mil já foram dispensados.

Produto Interno Bruto e taxa de juros são temas difíceis para a maioria da população. Mas o emprego, ou melhor, a falta dele - que significa, trocando em miúdos, falta de comida na mesa - é um fator capaz de desmanchar qualquer tipo de discurso político, seja ele otimista ou mesmo realista.

No setor público, além do Planalto anunciar para este mês o contingenciamento de R$ 19 bilhões destinados às emendas parlamentares, há o agravamento dos problemas dos prefeitos, às voltas com cortes profundos nos repasses do Fundo de Participação dos Municípios (FPM). Essa é a verba que, via de regra, sustenta as cidades pequenas e garante não só obras e serviços, mas os salários dos servidores.

Esses sinais da crise já se mostravam há alguns meses, embora o presidente tenha insistido no discurso da "marolinha", preocupado, inclusive, com seus efeitos sobre a disputa sucessória de 2010, que envolve a sua candidata, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff.

Lula, é claro, nega que esteja relacionando as duas situações. Mas de acordo com seus próprios analistas, se continuar a pintar apenas um cenário confortável nos seus pronunciamentos, ele pode amargar em breve um revés político, provocado pelo cenário real. E ver comprovada a máxima que diz que um bom discurso pode até sustentar a política, mas jamais conseguirá segurar a economia.


Nenhum comentário: