sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Como nos velhos tempos

Foto: Clemilson Campos
JC Imagem









Os defensores da campanha propositiva que me perdoem, mas o debate entre os candidatos ao governo de Pernambuco, realizado ontem à noite pela TV Jornal, lembrou bem a fórmula do passado: provocações, ataques e farpas misturados com pitadas de propostas administrativas. Esse é, definitivamente, um modelo que prende o eleitor. E a prova disso é que hoje pela manhã, nos vários locais em que estive, o debate era o assunto do dia.

Ao contrário das repercussões de outros confrontos - como o presidencial de segunda-feira passada - não ouvi de ninguém a análise de que o embate de ontem tenha sido fraco, ou morno. O eleitor comum, pelo menos, pareceu satisfeito. É verdade que a maioria sequer assiste. Muda de canal, prefere a novela. Uma reação construída pelos próprios políticos, fruto de anos de desmandos cometidos por eles, provocando o desinteresse e o descrédito do eleitor.

Mas quem assistiu, pôde verificar o funcionamento da velha polarização governo x oposição. Nada mais natural que Eduardo Campos (PSB), governador e candidato à reeleição, virasse alvo prioritário dos ataques adversários. Estranho se assim não fosse. Ataques temperados por uma rivalidade antiga - e até pessoal - entre ele e Jarbas Vasconcelos (PMDB), que cuidou de explicitá-la bem protestando a todo momento contra o fato de o governador "não desejar a existência de oposição no Estado".


Como era esperado, a carga mais explosiva ficou por conta de Edilson Silva (PSOL). Representante da ultraesquerda, ele negou ser "radical", mas foi quem mais endureceu nos ataques à gestão de Eduardo, lançando desafios e caminhando até o oponente para encará-lo de perto no momento de fazer a pergunta.


Adepto da filosofia verde, Sérgio Xavier (PV) assumiu o personagem ponderado da noite. Chegou, inclusive, a tentar atuar como bombeiro, pedindo "calma" aos adversários nos momentos mais quentes. Mas talvez por isso mesmo tenha saído do debate sem deixar uma marca mais forte. Assim como sua presidenciável Marina Silva (PV), exagerou no estilo propositivo, abrindo um flanco aberto para os rivais mais agressivos.


No cômputo geral, é provável que este tenha sido o debate entre os candidatos a governador mais assistido da campanha, graças à fórmula em que se enquadrou. É bem verdade que há ainda mais dois confrontos agendados. Entre eles, o da TV Globo, na próxima terça-feira. Ótimo. Quem sabe a mistura se repete, atraindo a atenção de um eleitor que a cada dia se torna mais apático diante dos embates eleitorais.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

A cara da política brasileira





O governador-candidato Eduardo Campos (PSB) foi "surpreendido", ontem, com uma festa num bar da cidade para marcar a "adesão" do deputado Pedro Eurico (PSDB) ao seu palanque. Surpresa, porém, é uma palavra que passa longe desse episódio.

Durante os dois anos em que ocupou a liderança das oposições na Assembleia Legislativa, o parlamentar tucano recebeu inúmeras críticas dos seus próprios liderados pelo tratamento excessivamente cortês que dispensava ao governo do ex-aliado.


Ao justificar a virada de casaca, ontem, o próprio Pedro Eurico lembrou ter sido secretário de Habitação de Miguel Arraes, e reafirmou sua antiga amizade com Eduardo. Só faltou explicar porque decidiu trocar o PSB pelo PSDB exatamente no ocaso da liderança de Arraes.

Durante praticamente todo o período em que esteve na oposição, Pedro Eurico fez questão de manter na parede do seu gabinete na Assembleia uma foto de Arraes, para quem quisesse ver. E nas sessões do Legislativo, quando se tratava de bater forte no governo Eduardo, delegava a tarefa à colega tucana Terezinha Nunes - jarbista de carteirinha e inimiga figadal do governador - ou ao demista Augusto Coutinho, que hoje ocupa a liderança das oposições.

Mas ninguém se engane: Eurico não estava, com isso, preparando o terreno para um retorno às origens. Ele, na verdade, nunca se desligou delas. Tanto que, mesmo investido no comando do bloco adversário, sempre recebeu tratamento diferenciado por parte do governador-amigo. Nos bastidores do Palácio, seu retorno era tido como favas contadas.

O tucano anunciou a "virada" de lado por razões bastante pragmáticas e nada inéditas. São motivos que o eleitor já está cansado de ver na política brasileira. Primeiro, é bem verdade, ele levou em conta o clima de indisposição criado com Jarbas Vasconcelos (PMDB) depois das suas críticas à condução da campanha majoritária das oposições, quando afirmou, na imprensa, que o palanque do peemedebista estaria desagregado.

Mas a adesão na reta final deve ser vista mesmo como uma manobra derradeira do parlamentar tucano para tentar renovar o próprio mandato. Algo que já estava difícil dentro do bloco adversário, e ficou impraticável após a briga interna com Jarbas.

Agora, mesmo que ainda tenha de se submeter à matemática eleitoral da sua coligação - que não deverá ter cacife suficiente para renovar os mandatos de todos os parlamentares oposicionistas - o tucano estará livre para pedir votos ungido pela alta popularidade de Eduardo Campos.

É esperar o resultado das urnas para saber se a manobra - por mais questionável que seja - aconteceu a tempo de salvar o mandato de Eurico, um dos deputados mais antigos na Assembleia Legislativa de Pernambuco.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

A casa caiu. No Amapá







Já imaginaram se a Polícia Federal começasse a investigar a vida de cada candidato ao governo ou Senado, faltando menos de um mês para as eleições? É claro que a maioria deve ter a ficha limpa, transparente até. Mas sempre aparece um ou outro com um rabinho de palha. Foi o que aconteceu hoje no distante Amapá.


Talvez por avaliarem que estavam tão longe de onde as coisas acontecem, o governador Pedro Paulo Dias (PP) e o ex-governador Waldez Goes (PDT) tenham montado um esquemão que, segundo a PF, de 2009 até o momento já teria desviado R$ 800 milhões em verbas repassadas pela União ao Estado. Dinheiro que seria destinado à educação.


Seria engraçado - e até um tanto reconfortante, admito - assistir ao desmonte de palanques favoritos, às vésperas do pleito. Ver os caras já com a mão na faixa - loucos para dar continuidade aos seus esquemas de desvio de verbas públicas, pagamento de propinas e outros quitutes que a política do mal tem no cardápio - serem enquadrados pela PF "aos costumes"...


Você não ficaria feliz? Principalmente você, desavisado, que pretendia votar no tal meliante?


Pois é. Mas não vai acontecer dessa forma. Pedro Paulo e Waldez Goes são os cabeças de uma quadrilha com mais 17 pessoas, que só foi presa ontem graças a uma investigação que começou em agosto de 2009. Ou seja: levou um ano até pegarem os envolvidos.


E não será surpresa para ninguém se daqui a pouco surgirem na mídia políticos em defesa dos colegas detidos. Já vimos esse filme antes. Vão falar que foi perseguição política, que é um ato de campanha, e tal.


Isso sem falar no apoio importante que os dois acusados receberam recentemente. É de se supor que o presidente Lula desconhecia o esquema montado pelos aliados no Amapá. Afinal, Lula sabe de muito pouca coisa. Mas para grande azar, ele apareceu ontem no guia eleitoral amapaense, pedindo votos para Waldez Goes. E já tinha gravado um depoimento para o programa do governador, que iria hoje ao ar.


Candidato à reeleição, Pedro Paulo assumiu o governo das mãos de Waldez Goes, que saiu para disputar o Senado, e hoje está em terceiro lugar nas pesquisas de intenção de voto. Mas seu companheiro de chapa lidera a disputa pelo Senado.


Se não for processado e tiver a candidatura cassada, é provável que a partir de 2011, Goes passe a integrar a honrada bancada do Amapá no Senado, comandada por ninguém menos que o inatingível José Sarney. Embora seja maranhense, Serney foi eleito senador pelo Estado nortista que criou quando era presidente da República.


É improvável que a "operação mãos limpas", realizada hoje pela PF no Amapá, se repita em outros Estados até a data do pleito. Mas não tem problema se acontecer depois. Mesmo que não impeça a eleição de alguns fichas-sujas, pode contribuir para apeá-los do poder, mesmo depois de diplomados.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Baixando a guarda













O presidenciável do PSDB, José Serra, acaba de cassar o título que ele próprio outorgou ao presidente Lula, de "entidade acima do bem e do mal". Durante pouco mais de dois meses de campanha oficial, Serra tinha conseguido driblar com maestria todos os possíveis episódios de confronto direto com seu ex-concorrente de 2002. Corretamente, centrou fogo na adversária atual, a petista Dilma Rousseff, que embora seja afilhada política de Lula, está longe de ter a habilidade do padrinho.


A ideia dos tucanos era evitar a todo custo um embate direto com o presidente e seus quase 80% de popularidade. Seria o mesmo que bater de frente com um trator em movimento. No entanto, não contavam que a campanha degringolasse para o campo pessoal, com o envolvimento de parentes de Serra em mais um capítulo da novela dos dossiês pré-fabricados.


E até que o tucano aguentou bem. Resistiu, inclusive, ao impacto da notícia sobre a quebra ilegal do sigilo fiscal da sua filha e do genro. Só não suportou o discurso do próprio Lula na TV, durante o guia eleitoral de Dilma. Até então, ele imaginava que, da mesma forma que evitava o embate direto, o rival se manteria à margem do palco, nas coxias, deixando o espaço sob os holofotes para Dilma.


Errou, porque supôs que Lula adotaria uma linha de pensamento objetiva e racional.


As notícias da semana passada sobre o envolvimento de agentes ligados ao PT na fabricação de supostos dossiês para instrumentalizar a campanha derrubaram o presidente do pedestal. Os petistas, definitivamente, sentiram o golpe. Tanto que passaram ao ataque.

É a leitura que se pode fazer da participação de Lula no programa eleitoral de Dilma. Sem meias palavras, o presidente olha nos olhos dos eleitores e acusa os adversários de lançarem mão de "baixarias" para tentar reverter a desvantagem na corrida presidencial.


Raposa política, Lula jamais faria isso se o universo petista continuasse em perfeito equilíbrio. Mas no momento em que ele lançou o contra-ataque, também baixou temporariamente a guarda, dando a Serra mais munição para se colocar como representante dos insatisfeitos com o atual cenário pro-PT.


É claro que o presidenciável tucano está ciente da sua desvantagem diante de Dilma, inclusive em termos de cabo eleitoral. Serra, na realidade, sabe que a fatura está praticamente liquidada. Resta ver que posição que ele pretende assumir após o dia 3 de outubro.


Porque ao se envolver diretamente no confronto, Lula deu ao rival duas opções distintas: agachar-se diante do rolo-compressor petista, envergando novamente a camisa de candidato derrotado, ou tirar proveito do insucesso, se consolidar como um dos principais opositores do futuro governo Dilma Rousseff e agir assim nos próximos quatro anos.

Mesmo que não seja ele - e certamente não será - o próximo paladino do PSDB a tentar quebrar, agora em 2014, a hegemonia do PT no poder.