terça-feira, 24 de março de 2009














Lula, o atrevido

A crise continua passando ao largo do Brasil, um oásis de desenvolvimento e fertilidade econômica. Essa é a primeira impressão que se tem ao acompanhar as idas e vindas do presidente Lula pelo País, a inaugurar obras e prometer ações governamentais por onde passa.

Duas novas demonstrações aconteceram ontem. Dessa vez na terra natal do presidente, Pernambuco. Na pequena Vitória de Santo Antão, na Zona da Mata, Lula inaugurou uma nova unidade da Sadia, que, por enquanto, fabrica apenas mortadela, com matéria-prima “importada” do Mato Grosso. A fábrica é, obviamente, um empreendimento privado, dirigido por Luiz Fernando Furlan, ex-colaborador do governo petista. Mas a justificativa é plausível: ao entrar em funcionamento, gera novos postos de trabalho para a população-eleitora.

Em seguida, o presidente inaugurou um novo braço do Metrorec, na Região Metropolitana do Recife, que, quando estiver pronto, deverá transportar 200 mil passageiros/dia. Mas depois de a obra se arrastar por dez anos, ontem ainda operava com apenas 10% dessa capacidade. Se vier a ser concluída em tempo hábil, também rende votos.

Nas duas solenidades, o de sempre: um Lula sorridente para os fotógrafos, otimista para os repórteres, comendo mortadela, andando de metrô e discursando. O tom? Nada de novo: o pior da crise econômica já passou, mas é preciso não contingenciar investimentos. Ao contrário, é preciso investir, gastar para gerar mais emprego e consumo.

Essa é a fórmula do presidente para vencer a crise. Falta combinar com o empresariado, que parece discordar completamente. Caso contrário, já não teria eliminado cerca de 750 mil postos de trabalho, segundo dados do Dieese, como medida de contenção, desde o agravamento da crise mundial.

Outra ladainha cada vez mais repetitiva de Lula é a de que não está fazendo política eleitoral nas viagens. Dessa vez, é verdade, não veio com a ministra-presidenciável Dilma Rousseff (PT) a tiracolo. Ela tinha outros compromissos. Mas nem por isso faltou mote para o discurso eleitoral.


Primeiro, o presidente voltou a defender a reeleição do governador Eduardo Campos (PSB), seu fiel aliado desde o início do primeiro mandato. Depois, rebateu as críticas do senador Jarbas Vasconcelos, voz isolada de oposição dentro do PMDB, reduto mais que governista.

Lula esperou bem a deixa. Aproveitou para devolver as pancadas de Jarbas no Estado natal do senador, que mantém sob mira firme o uso eleitoral de programas federais como o Bolsa-Família e o PAC.

Mesmo com a popularidade em queda, o presidente insiste em não demonstrar preocupação com a crise econômica, embora nos bastidores ela não lhe saia da cabeça. E quando sai, ele se ocupa em antecipar a sucessão de 2010, botando lenha na fogueira de uma discussão que – em nome da estabilidade – deveria adiar.

São posturas atrevidas, pelas quais Lula poderia pagar bem mais caro, não fosse a política brasileira algo tão peculiar como, de fato, é.





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