terça-feira, 17 de março de 2009










Um novo conto da carochinha

As posturas eram de confiança. As fisionomias, sorridentes. Mas o discurso sobre uma unidade absoluta do partido parecia uma coisa ensaiada. Esse foi o cenário da primeira aparição conjunta dos governadores José Serra (SP) e Aécio Neves (MG) desde que ambos declararam abertamente ter interesse pela indicação como candidato do PSDB à Presidência da República em 2010.

Aconteceu ontem, no Recife. Os dois chegaram juntos ao lançamento do livro de memórias do ex-ministro da Justiça, Fernando Lyra, e, tanto lá como no ato político realizado depois pelos tucanos locais, na sede do partido, ambos eram só gentilezas. "Se alguém me vir com o dedo no olho do Aécio, estou só lhe tirando um cisco”, brincou um sorridente Serra, diante do rival, que devolveu a cortesia, bem à moda mineira: “Eu e Serra vamos estar unidos em 2010, para desconforto e desencanto de alguns”.

Uma postura como essa chega a parecer brincadeira, só que de mau gosto. Ao menos para o eleitor mais atento, que acompanhou o mínimo do noticiário político recente e sabe da disposição dos dois presidenciáveis tucanos de atropelar um ao outro, se for preciso, para ganhar a briga pelo direito de disputar o Palácio do Planalto.

Do alto do seu favoritismo nas pesquisas, Serra vinha sendo enfático ao combater a realização de prévias internas no PSDB para definir o nome do candidato. Aécio, bem menos citado nas pesquisas, estava remando no sentido contrário, defendendo as prévias com todo empenho. Sabe que, com um discurso mais moderno que o do concorrente e uma administração com índices de popularidade maiores, pode tentar convencer os correligionários de que o paulista já teve a sua chance, em 2002, e desperdiçou.

Ontem, porém, bem ao estilo do líder maior tucano, Fernando Henrique Cardoso, ambos esqueceram tudo o que disseram. Em nome da “unidade”, caíram na mera retórica eleitoral, afirmando que o PSDB está unido contra o lulismo e disposto a apresentar um programa novo para o País.

Aécio foi o primeiro a derrapar no contraditório. Primeiro, afirmou que, no futuro, os historiadores vão apontar o período de FHC e Lula como um só, “voltado para a estabilização econômica”. Em seguida, disse que o eleitor terá que escolher entre o que será proposto pela “candidatura da continuidade” e pelo PSDB. Serra, menos falante, resumiu: “A divergência entre mim e o Aécio é zero. Tudo não passa de folclore”.

Trocando em miúdos, a situação atual no PSDB é a seguinte: as prévias ainda são uma dúvida. O nome do candidato também. E o discurso ainda não está afinado. A única opinião unânime é a de que o partido está perdendo tempo, enquanto os adversários governistas correm o País, já bastante adiantados.

Com tudo isso pesando contra, como se espera que o eleitor acredite que o clima é de paz e unidade? Os tucanos, mais uma vez, estão em cima do muro, sem um rumo definido. Nem na teoria, nem na prática.


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