terça-feira, 10 de março de 2009











Terceira via incômoda

Ocupado com suas andanças pelo interior de Pernambuco - onde pretende, de uma só tacada, visitar 39 cidades - para consolidar sua administração e, de quebra, pavimentar o caminho para a reeleição em 2010, o governador Eduardo Campos, ao retornar ao Recife, deverá dedicar especial atenção a outra atividade. Como presidente nacional do PSB, caberá a ele a tarefa de freiar as investidas, cada vez mais fortes, do deputado federal socialista Ciro Gomes, que nas últimas semanas intensificou as movimentações pelo País na tentativa de se consolidar como uma terceira via na disputa pela Presidência da República.

Com o PSDB em clima de indefinição entre os nomes dos governadores José Serra (SP) e Aécio Neves (MG), e o PT às voltas com os ataques da oposição à pré-campanha da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, Ciro tem enxergado um "caminho do meio" para impor seu nome no quadro de presidenciáveis. Ainda que, mais próximo do pleito, seja forçado a retirá-lo. Mas o fato é que, por enquanto, ele se diz candidatíssimo, sob o discurso - de certa forma, plausível - de que no palanque governista cabem duas postulações.

Ciro Gomes não é uma ameaça ao governo, de quem é aliado. O problema maior é do próprio Eduardo Campos, ex-ministro de Lula e um fiel aliado do Planalto. O governador pernambucano, inclusive, já patrocinou algumas aparições públicas de Dilma Rousseff envergando as vestes de presidenciável, embora em nenhum momento - é bom que se diga - tenha assumido a defesa veemente da candidatura, ao contrário do que fazem alguns petistas locais, como o ex-prefeito João Paulo.

Cauteloso, Eduardo sabe que, no comando do PSB, seria um contrasenso se colocar declaradamente a favor de um nome petista em detrimento de um correligionário. Principalmente em se tratando de Ciro Gomes, cujo temperamento difícil desaconselha um confronto direto, sobretudo se for travado em público.

Nos bastidores, porém, sabe-se que Eduardo torce pela ministra petista, até pela fidelidade que tem a Lula, criador e maior entusiasta da candidatura Dilma. Mas quem o conhece sabe que ele não tornará pública essa preferência até que os ânimos dentro do PSB tenham sido amainados.

Enquanto isso, no entanto, caciques da direção socialista, como o deputado Beto Albuquerque (RS) - segundo vice-presidente nacional do PSB e um dos vice-líderes do governo Lula na Câmara - e o senador Renato Casagrande (MG), secretário-geral do partido, compraram a ideia da pré-candidatura de Ciro Gomes e já trabalham nas bases para consolidá-la.

Albuquerque exibe, para quem quiser ver, os índices das atuais pesquisas de intenção de votos, que conferem a Ciro Gomes índices em torno de 15%. E diz que números assim merecem, no mínimo, atenção. Já Casagrande, líder da bancada socialista no Senado, usa a máxima futebolística que diz que "quem pede tem preferência, e quem se desloca, recebe".

O freio de arrumação, portanto, tem que ser dado agora pelo presidente nacional da legenda. Se Eduardo deixar para depois, pode ser tarde demais.


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