quarta-feira, 4 de março de 2009

Contradições de um velho discurso

A oposição que me desculpe, mas mover ação judicial contra a campanha antecipada da presidenciável do PT, Dilma Rousseff, é apostar demais na falta de memória do eleitor brasileiro. E querer que eles acreditem que não há qualquer intenção eleitoral por trás da iniciativa é confiar demais na ingenuidade do povo.
Não estou, de forma alguma, concordando com a exposição exagerada da figura da toda-poderosa ministra da Casa Civil por parte do presidente Lula. Mas quem não lembra, por exemplo, da maciça presença de José Serra na mídia, poucos anos atrás, quando o então ministro da Saúde de Fernando Henrique Cardoso era o presidenciável do PSDB?
Mais de um ano antes da eleição de 2002, Serra já tirava todo proveito possível das ações da sua pasta. Algumas bem populares, como os medicamentos genéricos. O ministro tucano percorreu o País de norte a sul, participando de inúmeros atos públicos e colhendo muitos dividendos políticos pelo trabalho "administrativo" realizado. E só não levou mais cascudos dos adversários porque esses não conseguiam se articular para tanto.
O próprio FHC, ainda quando ministro da Fazenda de Itamar Franco, em 1993, avocava para si o título de "pai" do Plano Real. Em cima desse "titulo", fez sua propagandinha antecipada. Cadê a memória dos partidos de oposição?
Por que, então, condenar o argumento de Lula de que Dilma está viajando pelo País porque é a gerente - e "mãe" - do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), responsável pela distribuição de gordas fatias de recursos para as obras que o presidente vem visitando com ela a tiracolo? Nada mais natural, o argumento do Planalto, principalmente se levarmos em conta a nossa legislação eleitoral caduca e frouxa, que permite situações como essas, de ambos os lados.
O próprio Lula, em recente visita ao Recife - acompanhado de Dilma, claro - minimizou a ação judicial movida pelos adversários. Afirmou que eles também teriam a chance de expor seus candidatos e que não iriam mantê-los numa redoma de vidro até o começo da campanha de 2010. Com isso, admitiu - na maior naturalidade - que estava turbinando a pré-candidatura de Dilma.
O que se pode concluir disso tudo?
Primeiro que, aproveitando a brecha na lei, Lula está simplesmente fazendo o que seus adversários fizeram quando estavam no poder. E eles, por sua vez, agem como se o presidente e sua candidata estivessem cometendo um ato inédito. Não é. É tudo um grande teatro.
O recurso judicial movido pelo DEM e PSDB tem um lado absolutamente político: tentar mostrar que a oposição, embora esmagada pelo rolo compressor governista montado pelo PT e seus aliados, ainda se mexe, respira, e tem pretensões de voltar ao poder.
Tem mais um detalhe: embora os opositores condenem a antecipação da campanha por parte de Dilma Rousseff, nenhum deles diz nada quando as pesquisas - feitas a mais de um ano da disputa - apontam a ampla liderança do seu candidato, José Serra. Um governador investido no cargo.
Pelo contrário, todo mundo comemora o favoritismo do presidenciável tucano, que avaliam como um elemento agregador do bloco de oposição. É um discurso, no mínimo, contraditório. Afinal, Dilma é candidata, mas Serra também é.


* Texto publicado na minha coluna do JC OnLine, em 26/02/2009
http://jc.uol.com.br/2009/02/26/not_192811.php

2 comentários:

Anônimo disse...

Hei! amigo, acho que misturastes alhos com bugalhos - qdo. foi que o FH reuniu prefeitos para tratar de assuntos da área do Ministério da Cidades levando como principal "eminência" (parda) o José Serra- do Ministério da Saúde- Como fez Lula ao reunir prefeitos para tratar assunto do Ministério da Previdência e tendo como "eminência" (parda) a guerrilheira Dilma - da Casa Civil? A confusão é por falta de dicernimento ou pura ma fé?

Anônimo disse...

Prezado, talvez você não tenha compreendido bem o sentido do texto. Entre outros aspectos, tentei deixar claro que se o Serra é candidato, a Dilma também é. E, sim, ela foi a estrela do encontro de prefeitos. Uma questão de marketing político que, sejamos sinceros, não era tão forte na época de FHC. Mas nem por isso Serra deixou de fazer sua campanha antecipada visitando Estados e reforçando a propaganda das ações do seu ministério.