segunda-feira, 16 de março de 2009

A transição democrática vista por dentro

Um relato pessoal, com a visão de testemunha ocular da história. É esse o tom do livro de memórias Daquilo que eu sei - Tancredo e a transição democrática, que o ex-ministro da Justiça, Fernando Lyra, lança hoje, às 18h, no Paço Alfândega, Recife Antigo. O livro, editado pela Iluminuras, tem cerca de 300 páginas e traz algumas revelações interessantes sobre os bastidores do processo de abertura.

O relato de Lyra, porém, está longe de ser um documento puramente histórico. Antes disso, é uma análise de vários episódios que antecederam a eleição de Tancredo Neves no Colégio Eleitoral, em 1985, e do período imediatamente posterior, o governo de José Sarney, que assumiu por conta da morte do titular, às vésperas da posse.

Se ao longo dos seus 42 anos de vida pública - durante os quais, além além do ministério, exerceu sete mandatos federais e um estadual - Fernando Lyra sempre levantou polêmicas, o livro, essa característica não ficaria de fora do livro. Em vários trechos da narrativa, ele traz versões analíticas, por vezes surpreendentes. Parte delas, ao discorrer sobre a atuação do deputado Ulysses Guimarães, ideólogo do MDB e, para muitos, o maior ícone da transição.

Para muitos, mas não para Lyra. Ele deixa claro, em algumas passagens, o caráter individualista de Ulysses, que muitas vezes trabalhou de forma pessoal para tentar atingir seu sonho de ser presidente da República. Mas nem por isso o autor deixa de fazer justiça ao ex-presidente da Assembléia Nacional Constituinte, ressaltando sua importante contribuição para o processo de redemocratização.

O ex-presidente José Sarney também é alvo de uma visão bastante crítica de Lyra, que por 11 meses foi seu auxiliar, como ministro da Justiça, embora tivesse sido alçado ao cargo a partir de um compromisso assumido por Tancredo. O ex-deputado fala sobre seu trabalho, na pasta, para remover o "entulho autoritário", ou seja, a censura. Explica também porque chamou Sarney de "a vanguarda do atraso", e esclarece que foi o ex-presidente, e não ele, Lyra, o responsável por censurar o polêmico filme Je Vous Salue Marie, de Jean-Luc Godard.

Por último, Fernando Lyra fala da sua candidatura a vice de Leonel Brizola em 1989, e de como, a partir dali, passou a experimentar uma grande desilusão com a política, que o levou à derrota em 1990 na tentativa de renovar o mandato, reconquistado, porém, em 1994.

A desilusão, ele diz ter "curado" em 2006, quando coordenou a campanha de Eduardo Campos (PSB) ao governo de Pernambuco. Eduardo, aliás, juntamente com o governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB) - neto de Tancredo Neves - são citados por Lyra como os dois nomes que representam melhor o futuro da política brasileira.



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