segunda-feira, 23 de novembro de 2009











Um rompante e tanto*


É verdade que a decisão do ex-prefeito do Recife, João Paulo (PT), de entregar o cargo de secretário estadual de Articulação Regional deixou muita gente espantada. Mas dois petistas foram pegos especialmente de surpresa: o presidente da Câmara do Recife, Múcio Magalhães, e a ex-secretária-adjunta Lygia Falcão.

Pessoas próximas relatam que no sábado à tarde – já com a cabeça mais fria – João Paulo teria reunido os dois auxiliares em sua casa para pedir desculpas pelo rompante. Na conversa, teria explicado a Lygia e Múcio suas razões, afirmando estar cansado do embate com o secretário de Desenvolvimento Econômico, Fernando Bezerra Coelho, pela vaga de candidato ao Senado na chapa de Eduardo Campos (PSB), e dito que não estava disposto a levar a briga adiante, sem que o governador colocasse um freio de arrumação.

Embora tenha admitido aos assessores que tomou a decisão de forma unilateral, João Paulo recebeu, mais uma vez, um aval positivo do Cosmo. É que o astrólogo Eduardo Maia – guru do petista – também teria estado por lá no sábado para fazer nova leitura dos astros, que confirmaram as vantagens políticas do ex-prefeito se sair candidato a deputado federal em 2010.

Eduardo Campos, porém, já fala na manutenção do projeto da chapa. Embora pessoas próximas afirmem que poucas coisas o irritaram tanto quanto a iniciativa de João Paulo, ele não quer perder totalmente o controle sobre o aliado petista, que é dono de um perfil metropolitano absolutamente necessário ao sucesso da reeleição. Só falta o governador dizer o que vai fazer com os planos de Bezerra Coelho.

* Texto publicado na coluna Cena Política, do JC, em 23/11/09


sexta-feira, 20 de novembro de 2009












Cortando as rédeas


Se a intenção do ex-prefeito João Paulo (PT) era demostrar independência do governador Eduardo Campos (PSB), escolheu um momento adequado para pedir demissão da Secretaria de Articulação Regional. E mostrou que a cada dia que passa, aprende mais sobre raposismo político.

Embora tenha entregue o pedido de exoneração na quarta-feira (18), o petista deixou para anunciar sua saída no dia em que Eduardo iniciou a sua quarta caravana de visitas a cidades do interior. Com o comandante ausente do Palácio, ele atraiu todas as atenções na cena política, e deixou uma batata quente nas mãos dos articuladores do governo.

Ao pedir demissão agora, João Paulo desfaz a tese - muito comentada desde julho passado, quando foi convidado para assumir a secretaria - de que o governador teria dado um "nó" no PT, ao colocar sob suas rédeas os dois principais líderes do partido, Humberto Costa e o próprio ex-prefeito.

Desde que assumiu a pasta, o petista vinha galgando espaço político pelo Estado. Mas enxergou que para atingir seus objetivos teria que desfazer a imagem de que estava sob controle de Eduardo Campos.


Há um segundo motivo para a decisão, interlilgado ao primeiro: candidato declarado ao Senado pelo bloco governista em 2010, João Paulo vinha trombando com o secretário de Desenvolvimento Econômico, Fernando Bezerra Coelho, do PSB. Os dois brigavam por uma das vagas na chapa, já que a outra, segundo consta, estaria destinada ao petebista Armando Monteiro Neto.

O que se sabe é que João Paulo não estava satisfeito com a postura do governador, que, na sua opinião, estaria deixando correr solta essa disputa interna, sem se mobilizar para barrar as pretensões de Bezerra Coelho.


O fato é que o acontecimento expõe uma crise política no governo, e causa um abalo na relação entre Eduardo e o PT, principal aliado do PSB, cujo apoio é importante para garantir a reeleição do governador. Ao tomá-la, João Paulo deve estar, inclusive, pronto para optar por uma candidatura à Câmara dos Deputados.

E é provável que ele esteja mesmo apostando suas fichas nessa alternativa, talvez imaginando sair das urnas como o deputado federal mais votado do Estado em 2010. Até porque, quem conhece Eduardo Campos sabe que vai ser muito difícil ele vir a convocar o ex-secretário para compor a sua chapa majoritária depois de todo esse tumulto.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009













Blockbuster eleitoral

Ainda não vi. Portanto, não posso dizer se gostei ou não. Mas seja bom ou ruim, certamente o filme Lula, o filho do Brasil já cumpriu uma das suas funções: causar polêmica e despertar a curiosidade das pessoas por todo o País.

As cenas de tumulto registradas ontem por vários jornalistas no Teatro Nacional de Brasília, durante a avant-première da película, comprovam a máxima de que nunca antes na história desse país um presidente da República atraiu tantas atenções sobre si mesmo.

Seja pela sua história de vida, seja pelas suas ações e seu comportamento incomum no governo, Lula já seria merecedor de um “candango”. O “cara” vai de um bolsa-família de 50 reais à discussão sobre política internacional com a mesma facilidade com a qual transforma uma ação de governo em palanque eleitoral. E com a mesma facilidade, dribla o discurso das oposições e consegue fazer seu nome aparecer centenas de vezes no noticiário nacional.

Pode-se até questionar se o filme do diretor Fábio Barreto tem ou não caráter eleitoreiro, ou se vai ajudar a bombar ainda mais a popularidade presidencial e impulsionar a candidata palaciana à sucessão, a ministra Dilma Rousseff.

O que ninguém mais duvida é de que Lula, o filho do Brasil, vai se tornar um arrasa-quarteirão nos cinemas a partir de janeiro de 2010 – ano de eleições presidenciais – quando chega aos cinemas do País. E que, acostumado a tirar proveito de situações mínimas, Lula, o filho de dona Lindu, certamente colherá dividendos políticos com todo esse frisson.

terça-feira, 17 de novembro de 2009











O jogo dos reservas

Alguém já falou que no futebol, sempre que os reservas elogiam publicamente os titulares, no fundo estão torcendo para que quebrem a perna e eles possam, enfim, entrar em campo. Na política a coisa não é tão diferente.

Não se trata de torcer por contusões ou fraturas, mas chega perto, se formos medir o comportamento de alguns “reservas” na disputa presidencial.

Hoje, há dois claros exemplos. No banco das oposições, o governador mineiro Aécio Neves, da equipe do PSDB, não esconde de ninguém o seu desejo de entrar em campo. Pelo contrário, quer apressá-lo.

Marcou até data-limite para que o titular tucano na disputa presidencial, o governador paulista José Serra, anuncie que é candidato. Se até janeiro o colega não expuser publicamente suas pretensões, ele, Aécio, vai mudar de modalidade e se lançar candidato ao Senado por Minas Gerais.

No banco governista, o deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE) é mais direto. Embora não tenha sido escalado pelo Palácio do Planalto como atacante titular na disputa, Ciro se rebelou contra o treinador Lula e expôs publicamente seu desejo de entrar em campo a todo custo.

Há cerca de dois meses, o parlamentar cearense – nascido em Pindamonhangaba, interior paulista – se escalou para o clássico de 2010, que no time do Planalto tem como titular a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT).

Sob o argumento de que a equipe atuaria melhor com dois atacantes, Ciro se apresentou para o jogo. Mas, atendendo a um pedido do “professor” Lula, fez a concessão de transferir seu domicílio eleitoral para São Paulo, com a justificativa de que poderia ser escalado para jogar na segunda divisão das eleições, disputando o governo daquele Estado.

Aécio, e Ciro, porém, dão sinais de que estão perdendo a paciência com a demora de seus dirigentes em definir as escalações. Hoje, os dois reservas se encontram num almoço em Minas Gerais para “discutir o Brasil”. Na verdade, vão debater estratégias eleitorais e analisar em que pé andam suas condições de ser ou não convocados para a partida do próximo ano.

O que há de novidade nisso? É que, enquanto no futebol dois adversários não costumam se falar antes do jogo, e muito menos elaborar jogadas ensaiadas em conjunto, na política isso é perfeitamente possível.

Embora governista, Ciro Gomes é bem visto pelos tucanos mineiros. Seu partido, o PSB, fez aliança com o PSDB na disputa municipal do ano passado e elegeu o prefeito da capital Belo Horizonte, o socialista Márcio Lacerda.

O diálogo franco entre Ciro e Aécio coloca sob pressão os titulares da peleja – Serra e Dilma – porque ambos precisam dos votos de Minas. A grande torcida mineira é o segundo maior colégio eleitoral do País, com cerca de 14 milhões de votantes, e as pesquisas têm apontado Aécio como o melhor governador do País.

O próprio presidente Lula já admitiu que uma candidatura do tucano mineiro seria mais difícil de enfrentar que a do correligionário paulista.

Já Ciro Gomes, por enquanto, parece estar sob controle do treinador. Mas sua disposição de ser candidato e seu temperamento difícil ainda podem render muitas dores de cabeça aos cartolas da equipe governista.



quinta-feira, 5 de novembro de 2009


















Acima do bem e do mal

Ao descumprir a decisão do Supremo Tribunal Federal de cassar o mandato do senador Expedito Júnior (PSDB-RO) – acusado de abuso de poder econômico e compra de votos na eleição de 2006 – o Senado brasileiro dá mais uma demonstração de que continua se colocando acima das leis que regem o País.


O Supremo, até onde se sabe, tem o papel de guardião da Constituição Federal. Aquele conjunto de leis aprovado pelo Senado e Câmara dos Deputados, que parece só não valer para eles próprios. Para os parlamentares brasileiros, o corporativismo é maior que a própria Carta. A ordem é proteger os seus, não interessando se são comprovadamente culpados.

Recentemente, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), escapou das denúncias de abuso de poder político e econômico. Seu antecessor no cargo, Renan Calheiros (PMDB-AL), saiu impune das acusações de que recebia propina de um lobista para pagar pensão a um filho fora do casamento.

Dois outros ex-presidentes da Casa também escaparam da guilhotina: Antônio Carlos Magalhães (DEM-BA) – já falecido – violou o sigilo do painel de votações. Antes que fosse cassado, renunciou. O mesmo fez Jader Barbalho (PMDB-PA), após a comprovação de denúncias de desvio de verbas da Sudam.

Se presidentes do Senado não são punidos por seus crimes, é até natural que os colegas tentem preservar o pescoço de Expedito Júnior.

Dessa vez, porém, há um fator extra: os senadores andam revoltados contra o Supremo, porque a Corte tem legislado sobre questões eleitorais. Avaliam que o Judiciário estaria extrapolando suas funções e interferindo nas atribuições constitucionais do Legislativo.

Os senadores não explicam, porém, que os ministros do STF só avocaram esse poder para si porque o Congresso, a quem caberia produzir tais leis, não as fez. A reforma política, por exemplo, dorme nas gavetas da Casa porque as mudanças propostas no projeto não interessavam à maioria dos parlamentares. Simples assim.

É por essas e outras que políticos sérios, que discordam do comportamento da maioria dos colegas, estão deixando a vida pública. Para esse pequeníssimo grupo, o corporativismo, a corrupção, o nepotismo e o desprezo às leis são inaceitáveis. Mas como se sentem impotentes para dar combate a esse vício, sua única saída é abandonar o barco. Até porque, ao contrário dos colegas, para eles a generalização incomoda e macula o histórico.

terça-feira, 3 de novembro de 2009











Nunca antes na história deste Estado...


O presidente Lula volta hoje a Pernambuco para mais uma atividade política. Dessa vez, vai falar no Congresso Nacional de Saúde Coletiva, sobre Josué de Castro e a fome no Brasil. Permitam-me o trocadilho infame: um prato cheio para Lula! Ele adora o tema. E adora personalizá-lo. Focar nele a sua própria história.

Esta será a sétima visita presidencial, somente este ano. Ano em que Lula deflagrou de vez a campanha da ministra Dilma Rousseff à sua sucessão. E Dilma – ainda pouco conhecida do povão, segundo as pesquisas – estará lá, no Centro de Convenções, ao lado do chefe e maior cabo eleitoral.


Antes da visita de hoje, Lula já esteve em Pernambuco outras seis vezes, para participar de ações do arco da velha. Já pilotou tratores na inspeção às obras da BR 101, presenciou um “batimento de quilha” de um navio em produção no Estaleiro de Suape, comeu mortadela produzida aqui, inaugurou escolas técnicas, laboratório de rádio-fármacos, moinho de trigo. Todos já vinham em funcionamento, é verdade. Mas isso é apenas um detalhe.


Sim, claro, teve a “inauguração” do Parque Dona Lindu – aquele que ainda não foi entregue à população. O presidente escolheu Fernando de Noronha para passar o réveillon. Também já sobrevoou a construção da Ferrovia Transnordestina. Recentemente, ele inspecionou os canteiros de obras da transposição do Rio São Francisco, em solenidades tão cinematográficas que a oposição chiou. Tinha sempre Dilma ao seu lado.


Mas o fato é que, se Lula está ou não em campanha, isso é o que menos importa agora ao governador Eduardo Campos (PSB). Este sim, está em campanha pela reeleição. E tem colhido mais dividendos eleitorais a cada visita presidencial.


Eduardo brilhou em todas elas, tirou proveito político, mostrou suas obras – muitas realizadas graças ao dinheiro federal do PAC – e, melhor que tudo, mostrou a si mesmo, ao lado de um presidente que tem aprovação popular estourando a casa dos 90%.


Nunca antes na história deste País um presidente visitou tanto Pernambuco. E nunca antes na história deste Estado, um governador foi tão prestigiado pelo chefe da Nação.


Mexendo na memória, ficou até difícil lembrar das poucas vezes em que Fernando Henrique Cardoso (PSDB) esteve por aqui. Fosse na época de Miguel Arraes (PSB) – que lhe fazia oposição – fosse com Jarbas Vasconcelos (PMDB), um grande aliado.


Essa movimentação de Lula deixa a oposição estadual louca. Sem ter sequer um candidato a governador definido para mostrar ao povo, perde tempo e terreno e ainda tem que engolir o teatro político-eleitoral do bloco governista, sorridente nas fotos ao lado do presidente.


Deve ser mesmo difícil fazer oposição num cenário tão adverso. Talvez seja por isso que Jarbas prefere guardar sua munição para disparar em Brasília, na tribuna do Senado.