sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

E Lula quebrou o tabu...















Após oito anos no poder, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deixa, amanhã, o Palácio do Planalto. E sairá levando debaixo do braço um índice recorde de 87% de aprovação e um lugar garantido no pódio da história política contemporânea do Brasil.


Mas é preciso admitir - parafraseando o próprio Lula - que nunca antes na história deste País se viu tanta polêmica em torno de uma única pessoa. Embora tenha estabelecido uma relação de absoluta confiança com as classes menos favorecidas, Lula ainda desperta o descrédito - e até algum ódio - em muita gente. Sobretudo nas elites.


É fácil explicar a aprovação ao petista. Difícil é justificar sua rejeição. Afinal, beneficiado com a política econômica que herdou dos tucanos, Lula consolidou a estabilidade financeira, tirou mais de 20 milhões de pessoas da linha de miséria, transformou o tsunami da crise mundial em uma marolinha e ampliou nossas fronteiras internacionais. Entre outros feitos que muita gente jamais pensou que pudessem acontecer.


É verdade que houve o mensalão. Também houve uma relação suspeitíssima com velhos caciques políticos do País. Houve loteamento de cargos, aparelhamento do Estado e, para coroar, a indução de uma candidatura presidencial com a força da máquina pública.


Mesmo assim, Lula conseguiu contrariar a tradição de que presidentes do Brasil só deixam o cargo desgastados e sem prestígio popular. A dúvida que resta, porém, é se Dilma Rousseff (PT), com toda a estrutura que herdará do padrinho político, conseguirá repetir a quebra desse tabu.

Dilma não é Lula, não fala como Lula, não age como ele. Os mais próximos garantem, porém, que Dilma pensa como Lula. Se assim for, já é um bom começo. Não custa dar à nova presidente um voto de confiança, e desejar a ela - e a todos os brasileiros - felizes 2011, 2012, 2013 e 2014.

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Segredos públicos











Transparência é uma palavra longa e bonita, e muita gente enche a boca para pronunciá-la. Mas na hora de seguir à risca seu significado, termina deixando a desejar. Alguns políticos, por exemplo, quando questionados sobre assuntos que demandam transparência, costumam tegiversar. E poucos são os mandatários conscientes de quem é seu verdadeiro chefe.


É o povo. A sociedade. O eleitor. E é a eles - acima de qualquer outra instância - que esses políticos devem satisfações sobre suas ações. Principalmente quando envolvem dinheiro público, arrecadado com impostos suados pagos pelo contribuinte.


Hoje à tarde, o presidente estadual do PSB, Milton Coelho, confirmou esse exemplo, ao recusar-se novamente a revelar quanto o partido gastou com a organização, produção e divulgação da festa oferecida ao presidente Lula ontem, no Recife antigo. Festa encomendada, é bom que se diga, pelo governador Eduardo Campos, presidente nacional do PSB, para agradecer pela atenção do aliado petista a Pernambuco nos seus oito anos de mandato.


No entendimento de Milton Coelho - prefeito do Recife em exercício, substituindo João da Costa (PT), licenciado - o PSB só tem obrigação de prestar contas ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE), e tem prazo até abril de 2011 para tanto.


Está certíssimo, prefeito! Pela lei, é da competência exclusiva da Justiça Eleitoral analisar e julgar as contas dos partidos políticos com gastos do Fundo Partidário. Mas essa é apenas a questão legal. Não se pode, porém, jogar o aspecto do mérito na lata de lixo. Se um político ou uma agremiação política primam, verdadeiramente, pela transparência - e não apenas a utilizam como peça de retórica - deveriam exercê-la com plenitude.


Fala-se em um custo de R$ 162 mil. Há algum mistério nesse orçamento? Algum gasto foi irregular? É provável que não, afinal, como partido líder da aliança que governa o Estado, o PSB deve, e tem dado exemplo de retidão nas suas prestações de contas.


A mega-festa para o presidente Lula, no Marco Zero, é bom frisar, foi justa e merecida. Até porque, nunca antes na história deste Estado se viu tanto investimento e apoio do governo federal a obras e ações que beneficiam a população. Foi uma bela noite de forró e muita emoção, tanto para o homenageado como para quem compareceu. Muitos artistas populares, muita animação, música excelente.


Será que vale mesmo a pena arranhar esse cenário por tão pouco, com essa inexplicável resistência em informar ao povo quanto ele - o povo - pagou pela festa?

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Foto: Hélia Scheppa/JC Imagem