quinta-feira, 5 de março de 2009

Guerra santa na maternidade

Perigosa a decisão do arcebispo dom José Cardoso Sobrinho, de excomungar os médicos e demais envolvidos no aborto da menina de 9 anos que engravidou após quase três anos - vejam bem, três anos! - sendo estuprada pelo padrasto. Um homem que sequer se pode chamar de covarde. Nem mesmo de "homem". É um ser indefinível, com tamanha deformidade mental que, este sim, bem poderia ter sido abortado antes do nascimento.

Talvez assim, não provocasse tamanhã polêmica em torno do que, na realidade, deve ser visto como uma verdadeira tragédia humana. Uma criança incapaz de se defender, de repente se vê às voltas com uma gravidez de gêmeos, e de altíssimo risco, provocada por um ato criminoso. Pela Lei do Talião, o responsável por isso deveria pagar com a vida, dado o risco de vida a que a menina estaria submetida caso a gravidez fosse mantida.

No entanto, como representante da ala conservadora da Igreja Católica, o arcebispo travou uma luta incansável para impedir o aborto. Ainda que lhe dissessem que a criança não sobreviveria ao parto, insistiu na defesa dos fetos. Sem levar em consideração a perda da mãe. Derrotado nos seus apelos, lançou mão da autoridade eclesiástica que lhe foi conferida, privando da eucaristia os médicos que agiram profissionalmente para preservar a vida de uma menina inocente.

Um dos mais renomados moralistas católicos, o alemão Bernhard Haering, chegou a admitir o aborto quando necessário para preservar o útero para futuras gestações, ou ainda se o estupro que gerou a gravidez provocasse dano moral e psicológico. Segundo o dominicano Carlos Alberto Libânio Christo, o Frei Betto - integrante da ala progressista da Igreja - a isso, a teologia moral denomina "ignorância invencível", dado que nem a Igreja tem o direito de exigir sempre de seus fiéis atitudes heróicas.

Continua Frei Betto - ele próprio um eterno alvo da ira do setor conservador católico: "Se a teologia é o esforço de apreensão racional das verdades de fé, o teólogo tem o dever de manter-se aberto a todos os temas que dizem respeito à condição humana, mormente se encerram implicações morais."


Pelo que se pode apreender da discussão, não é o que pensa o arcebispo de Olinda e Recife que, após consumado o aborto, remontou aos seus antepassados da Igreja do Medievo - aquela da Inquisição, que queimava livros e bruxas e apoiava as mortes nas guerras santas, bastando que fossem travadas em nome de uma busca sagrada. Sumariamente excomungou os seus autores.

Mas seria mesmo necessário remontar à Idade Média para se chegar ao contraditório do discurso? Afinal, em alguns países, nos nossos dias, a Igreja aprova a pena de morte para criminosos. As execuções, inclusive, são acompanhadas pelo padre, após conceder a extrema unção ao condenado. Então, criminosos não são humanos?

Em vez de ficar polemizando e se preocupando com a excomunhão da equipe médica, não seria mais proveitoso para dom José se dedicar a articular mais a Igreja Católica na área que lhe compreende, ampliando as ações de assistência social preventiva para evitar que novos crimes cruéis como esse aconteçam?


4 comentários:

Anônimo disse...

Prezado Sérgio Montenegro, realmente os médicos não devem dar importancia a atitudes como esta. Eles ajudaram a salvar uma vida, e isso o que importa

Anônimo disse...

A POLITICA DA IGREJA NADA TEM A VER COM AS LEIS DOS HOMENS, FEITAS AQUI NA TERRA. É COMPLETAMENTE DESATUALIZADA

Anônimo disse...

Dom José pode até estar certo quanto a aplicação da Lei.
Está escritono código Canônico que promover o aborto é motivo de excomunhão.
A questão é a forma arbitrária como o bispo entrou no contexto.
Afinal decontas não estamos tratando de uma gravidez indesejada de uma mulher já formada biologicamente.
O problema envolve uma criança de apenas 9 anos de idade e deve ser tratado como uma criança vítima de estupro e consequente gravidez.
Seráque o código canonico vislumbrou que um dia situações como essas seriam nefastamente rotineiras?
Já não é hora da igreja católica adaptar a lei a nova realidade da sociedade?
Antes de cumprir fielmente os termos da lei, Dom José questionou a omissão da paróquia de Alagoinha, já que o padre, segundo o mesmo diploma legal, é o pastor do rebanho?
Que falta faz Dom Helder Camara!!!!

Anônimo disse...

Acredito que a mídia não deve dar tanto espaço a esse homem, que quer na verdade é aparecer. Fazia tempo que não falavam nele, aí ele aproveitou o assunto para voltar com suas, já cansativas, atitudes polêmicas.
"Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo" por escutar tantos absurdos feitos em seu nome.