segunda-feira, 23 de março de 2009











E agora, Jarbas?

“Não tenho mais projeto político pessoal. Já fui prefeito duas vezes, já fui governador duas vezes, não quero mais. Sei que vou ser muito pressionado a disputar o governo em 2010, mas não vou ceder. Seria uma incoerência voltar ao governo e me submeter a tudo isso que critico.”

A afirmação é do senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), à revista Veja, naquela polêmica entrevista na qual chamou o PMDB de “corrupto” e confessou estar totalmente desiludido com a política.(leia aqui)

Ontem, porém, ao participar de encontro do PMDB em Petrolina, no São Francisco, o senador voltou atrás. Não se declarou candidato ao governo do Estado pela terceira vez, em 2010. Mas também não negou a candidatura, exaltada por todos os peemedebistas e representantes de partidos aliados, presentes ao ato.

Jarbas pode mesmo estar decepcionado com a política. Mas ainda é um político de grande porte, e, com tal, sabe que seu nome é o único capaz de fazer frente à estratégia de reeleição do governador Eduardo Campos (PSB), seu desafeto político. Sendo assim, seria um erro descartar a possibilidade de enfrentá-lo. Estaria desmontando o pouco que restou de oposição no Estado, congregada no PMDB, PSDB, DEM e PPS.

Na verdade, Jarbas não é candidato. Não agora. E quem o conhece sabe que ele trabalhará com todas as forças para não ser. Quer mesmo é colocar alguém à frente dessa missão, um tanto ingrata, de enfrentar a máquina estadual, amparada pelo governo federal – de quem Eduardo é um fiel aliado.

E mais ainda: o atual governador saiu das eleições municipais de 2008 com um batalhão de cerca de 140 prefeitos aliados. Não satisfeito, Eduardo trabalha incansavelmente para atrair para si o resto dos governantes municipais que sobraram no lado oposicionista, cerca de 40 prefeitos.

Já conseguiu uns três ou quatro. Mas está só começando. Munido de uma gorda fatia de recursos federais, e da simpatia pessoal que o presidente Lula nutre por ele, Eduardo fez apenas uma primeira viagem ao Sertão, na semana passada. A primeira de uma série que pretende cobrir todos os municípios do Estado antes da batalha de 2010 começar. E aí, vai ficar bem difícil a situação do candidato de oposição.

Jarbas sabe bem disso. E para ele, bem melhor a situação de permanência em Brasília. A partir de 2010, o peemedebista ainda terá pela frente mais quatro anos de Senado, nos quais poderá se destacar como apoiador de José Serra (PSDB) – forte candidato à sucessão de Lula – e como padrinho de um processo de moralização do Legislativo que parece estar caminhando, ainda que lentamente.

Mas como político vive mesmo de eleição, nada impede que o ex-governador recue do que afirmou à Veja – num momento de real desilusão pessoal – e assuma a candidatura. Até porque, ninguém duvida, dela depende o sucesso da eleição de deputados federais e estaduais de oposição, que precisam de um majoritário forte para liderá-los. E mais ainda: a ela estão atreladas quaisquer chances de reeleição dos atuais companheiros de Senado de Jarbas: Marco Maciel (DEM) e Sérgio Guerra (PSDB).

Em se consolidando o cenário da disputa entre Eduardo e Jarbas, ao contrário do que aconteceu em 1986 e em 1994 – quando Miguel Arraes (PSB) atropelou as fraquíssimas candidaturas de José Múcio (PFL) e Gustavo Krause (PFL), respectivamente – teremos um verdadeiro clássico em Pernambuco. Dois arqui-inimigos fortes disputando o poder. O primeiro, com três máquinas administrativas nas mãos – a federal, a estadual, dele próprio, e as municipais – e o segundo, com um discurso poderoso e uma credibilidade que poucos políticos já conseguiram ganhar e manter.

Até lá, porém, como disse o próprio Jarbas, ainda tem muita água pela frente.

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