quarta-feira, 19 de agosto de 2009














A vida só é filme em Brasília

Ganha um voto de aplausos aprovado por unanimidade no plenário quem citar o último projeto relevante votado pelo Senado Federal nas últimas semanas. Pois é, o trabalho para o qual os senadores foram eleitos continua paralisado. Todos permanecem girando integralmente em torno dos escândalos e crises políticas.

Ao todo, já são 86 episódios, envolvendo Senado e Câmara dos Deputados, contabilizados somente este ano pelo “monitor de escândalos” do jornal Folha de S. Paulo. Daria um bom filme de comédia, não fosse uma película de terror.

Gente eleita pelo povo, para representar o povo, entretida exclusivamente com seus interesses pessoais ou questões políticas e eleitorais do governo. Até o disse-me-disse entre a ministra Dilma e a ex-secretária da Receita, Lina Vieira, se sobrepõe aos interesses da população. Dramalhão mexicano.

Jornais e telejornais têm se tornado mais e mais chatos e cansativos para o eleitor. Não fossem os humoristas – para quem as crises são iguarias sempre deliciosas – ninguém mais agüentaria de tanta lama, sujeira e enganação. Que, aliás, já não engana ninguém.

Os senadores, por exemplo, nem se preocupam mais em disfarçar os arranjos para tentar salvar a imagem do presidente da Casa, José Sarney. Como explicar o surgimento do carequinha Paulo Duque, alçado de uma hora para a outra da categoria de figurante à de protagonista? Ora o governo afaga, ora atropela a oposição. E a oposição sucumbe e aceita os afagos, como mulher de bandido em filme policial.

E na CPI da Petrobras? Nada menos que 68 questionamentos colocados na linha de investigação foram simplesmente retirados pela tropa de choque do governo, por serem considerados “incômodos demais” para serem apurados. E fica tudo assim mesmo. Um final feliz para todos, como nas comédias românticas.

A coisa vai caminhando de uma maneira tal, que o descaramento e a certeza de impunibilidade já não surpreendem ou chocam o brasileiro médio. Aquele cuja prioridade real é trabalhar para sobreviver, sem tempo para milongas e politicagens.

As somas de dinheiro envolvidas nos escândalos, afinal, são tão astronômicas para essa larga fatia da sociedade, que fica até difícil acreditar na veracidade das denúncias. Parece filme de ficção. Ou de mafioso.

É que esse brasileiro médio nunca teve tanto dinheiro ao seu alcance. Isso é coisa para quem tem mandato e, por conseqüência, acesso fácil à corrupção

TV Senado e TV Câmara – embora em rede fechada – estão 24 horas à disposição de quem quiser assistir ao que se passa em Brasília. Mas parece não haver ali uma câmera sequer, tamanha a desenvoltura dos parlamentares no plenário e nas comissões.

As TVs oficiais são serviços que poderiam, e deveriam, interessar ao eleitor, mas terminam zapeados, trocados pela Sessão da Tarde, pelo Vale à pena ver de novo, por Malhação – nome adequado, até – e por aqueles programinhas fúteis de auditório, que carregam na desgraça alheia, entrevistam celebs de telenovelas ou ensinam a perder peso. Sem falar nas redes evangélicas, com pastores em plena atividade.

É, senhores congressistas... Para quem está prestes a brigar por mais um mandato no próximo ano, é até estranho não fazer questão de mostrar serviço decente ao eleitor. O Parlamento brasileiro é um mundo à parte. Gira em torno dele mesmo.

Mas quem sabe o eleitor de repente não acorda e presta um pouco mais de atenção às transmissões das TVs legislativas? Assim, em vez de ir às urnas no ano que vem, pode ser que ele decida ficar em casa assistindo à uma boa novela...



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