quarta-feira, 12 de agosto de 2009
















Mentira tem perna curta

No Brasil dos últimos tempos, uma crise política sucede outra, o que já torna a situação difícil, tanto no campo da ética como no da governabilidade. O mais assustador, porém, é que, agora, elas começam a acontecer de forma simultânea.

No momento em que os senadores se digladiam, na tentativa de debelar mais um escândalo, novo problema explode na Praça dos Três Poderes. E este envolve a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff.

A presidenciável do PT foi acusada pela ex-secretária da Receita Federal, Lina Vieira, de ter solicitado "agilidade" nas investigações das contas da família Sarney. Demitida do cargo em julho passado, Lina não afirma, mas seu tom sugere uma intenção da ministra de "abafar" as auditorias que a Receita vinha realizando nas empresas do pivô da crise no Senado.

A versão da ex-secretária é de que foi chamada por Dilma, extra-oficialmente, para um encontro a sós no gabinete da ministra. Revelou a data e até descreveu a indumentária de Dilma na ocasião. A ministra, é claro, negou não só o pedido, mas o tal encontro.

Quem está dizendo a verdade? Uma funcionária de carreira com 33 anos de serviço público e sem pretensões eleitorais ou a ministra mais poderosa do governo Lula e candidatíssima à sucessão do próprio presidente?

Se a mentira partiu de Lina Vieira, trata-se de acusação grave, que permitiria à ministra processá-la por calúnia e difamação e até pedir a abertura de um inquérito administrativo. Porém, se partiu de Dilma - e o encontro e o pedido realmente aconteceram - o crime seria de prevaricação. A ministra estaria se utilizando da autoridade do cargo para beneficiar a família Sarney.

É preciso analisar que motivos levariam Lina Vieira a inventar um encontro como esse. Vingança pela demissão? E Dilma, que razões teria para negar, a não ser pelo fato de ter tentado proteger um aliado de carteirinha do Planalto?

Pesa sobre a ministra um histórico que, no mínimo, suscita a dúvida: primeiro, ela negou ter dito, em um jantar ofererido por empresários paulistas, que estava montando um dossiê contra o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Quem esteve presente garante ter ouvido a ameaça.

Um segundo episódio ficou pior ainda para a imagem da ministra: há algumas semanas, ela foi flagrada numa página do Sistema Lattes, na internet, com um currículo falso, que incluía mestrado e doutorado em Economia. Duas pós-graduações que nunca concluiu.

Comparando-se os dois históricos, Lina Vieira sai na vantagem. E Dilma, se quer mesmo se dar bem nas urnas no próximo ano, melhor não ser flagrada em mais uma mentira. Porque se já está difícil acreditar em promessa de político ficha-limpa em campanha, calcule com uma carga anterior de falsidades, que bem pode ser explorada pelos adversários.

2 comentários:

Anônimo disse...

Emidio Cavalcanti(emidio75@uol.com.br:Lembro-me de seu artigo quando Dr.Miguel Arraes morreu.Achei o mais sincero de todos.Neutro,mas comovido,sereno mas tocante.
Esperava ter lido algo hoje.

Sérgio Montenegro disse...

Caro Emídio,
Miguel Arraes era um político com alma. E não costumava mentir ou proteger gente que monta capitanias hereditárias e explora o eleitor com promessas vãs.
Isso anda em falta no Brasil hoje em dia.