quinta-feira, 28 de maio de 2009














Uma boa chance de calar

O deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) tem, realmente, o direito irrevogável de se expressar. Mas de forma elegante. Caso contrário, coloca-se numa posição que pode ser analisada por dois prismas distintos: ao afixar na porta do seu gabinete um cartaz tratando em tom irônico um assunto tão sério como a vida das pessoas, ou será tomado por agressivo e revanchista, ou por ridículo.

O cartaz a que me refiro é aquele que apareceu na porta do gabinete de Bolsonaro, com a imagem de um cão e os dizeres: "Quem procura osso é cachorro". O parlamentar refere-se aos ex-guerrilheiros do Araguaia, desaparecidos sob o regime de exceção.

Único deputado ainda a defender - ao menos abertamente - as boas intenções dos militares ao implantarem a ditadura no Brasil em 1964, Bolsonaro sempre optou pela polêmica e pelo confronto, e menos por uma argumentação sólida e justificável. Mas dessa vez, incorreu no puro desrespeito. Afinal, queira ele ou não, há famílias que até hoje procuram os corpos - ou os ossos - dos seus parentes, torturados e mortos pela repressão.

Juízos ideológicos à parte, ao produzir uma peça publicitária - se é que pode se chamar assim - tão agressiva, ele só contribui para piorar a sua própria imagem. Sem falar que contribui para produzir mais um fato negativo a ser acumulado na imagem de um Parlamento já tão enfraquecido e desgastado.

Ou alguém duvida que a intenção do deputado-militarista não foi a de trocar farpas com seus colegas do PCdoB, defensores de uma apuração rigorosa dos fatos ocorridos no Araguaia no início da década de 70? Pois ele conseguiu. Ainda ontem, movimentos ligados ao tema, como o Tortura Nunca Mais, e deputados da esquerda, apresentaram representações e queixas aos dirigentes da Câmara, pedindo providências.

Não vai adiantar muito. Porque é graças exatamente à luta das esquerdas e dos movimentos sociais que gente como o deputado Jair Bolsonaro conquistou, hoje, o direito de se expressar livremente. Ao contrário do que acontecia época em que os "aliados" do parlamentar mandavam no País, quando ninguém podia dar um pio sobre nenhum assunto polêmico, sob risco de também terminar "desaparecendo", como aconteceu com os guerrilheiros no Araguaia e em tantos outros lugares.

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