quinta-feira, 21 de maio de 2009

















Golpismo de terceira


Ninguém segura a desmedida ambição eleitoreira de alguns políticos. Dia após dia surgem novos exemplos de gente insistindo em aplicar a Lei de Gérson, ignorando as necessidades do País ou da sociedade e pensando tão somente nos seus dividendos pessoais.

A bola da vez é o deputado sergipano Jackson Barreto (PMDB), que, minimizando o desgaste do Legislativo, insiste em colher assinaturas para apresentar sua proposta de emenda à Constituição garantindo um terceiro mandato para o presidente Lula.

A discussão desse assunto já deveria ter sido encerrada meses atrás, quando outro deputado sugeriu a idéia e dela foi demovido por interlocutores presidenciais. Mas o carisma e a popularidade de Lula são uma moeda tão valiosa que é impossível para alguns políticos - mais acostumados a levar vantagem em tudo - ficarem indiferentes.

O País já assistiu a um filme semelhante, há pouco mais de dez anos, quando uma emenda de mesmo teor mudou a Carta Magna em cima da hora, permitindo que o então presidente Fernando Henrique Cardoso disputasse um novo mandato. Na época, a emenda da reeleição já gerou polêmica, cercada de denúncias de venda de votos e outros delitos parlamentares. Mas concedia ao presidente apenas uma segunda chance. E terminou aprovada.

Barreto, agora, quer dar a Lula uma permanência de 12 anos no poder. Iniciativa semelhante, nos últimos tempos, só aconteceu na Venezuela do caudilho Hugo Chávez. Com a cara mais lavada, o parlamentar justifica a manutenção da proposta - criticada até por deputados do próprio PT - sob o argumento de garantir que, no caso de a ministra Dilma Rousseff, virtual candidata petista à sucessão, ficar impedida de concorrer por causa da doença, o poder não mude para as mãos da oposição.

Segundo o deputado reelecionista, somente Dilma tem condições eleitorais de assegurar a continuidade do governo. E na sua impossibilidade, seria melhor mantê-lo com Lula, único, segundo ele, com condições de vencer os tucanos nas urnas do próximo ano. Na verdade, porém, o que Jackson Barreto quer mesmo é um discurso pessoal para 2010. Empunhando a bandeira de "autor da emenda que deu a Lula o terceiro mandato", pretende disputar o governo de Sergipe, Estado onde a popularidade do presidente é muito alta.

O espantoso é que o deputado já conseguiu mais de 171 assinaturas de colegas parlamentares, número mínimo necessário para sua PEC tramitar. Embora seja uma prática no Congresso Nacional assinar pela tramitação e, depois, votar contra, quem pode prever - com um Legislativo fisiológico e adesista como o atual - os resultados de uma votação como essa?

Vai que os ilustres congressistas resolvem surpreender o País com uma decisão chavista? Em se tratando do Parlamento - e do presidente Lula - tudo pode acontecer. Inclusive nada.


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