quarta-feira, 23 de setembro de 2009











E agora, Lula?


A grande novidade da nova rodada da pesquisa CNI/Ibope sobre a sucessão presidencial, divulgada ontem, não é a queda de quatro pontos no índice do líder, José Serra (PSDB). Nem o bom desempenho da estreante Marina Silva (PV), que de saída já recebeu 8% das intenções de voto.

Novidade mesmo é o tamanho da dor de cabeça que o levantamento gerou no alto escalão do PT, com a ascensão do presidenciável do PSB, Ciro Gomes.
Ainda falta um ano para as eleições, e ele já ultrapassou a ministra Dilma Rousseff, preferida de Lula para representar o lado governista na disputa.

Ciro, que em junho aparecia em terceiro lugar, foi para a vice-liderança da corrida, com 17%. Dilma, ao contrário, aparece agora com 15%. Perdeu quatro pontos percentuais em relação à pesquisa de junho, e também perdeu a segunda posição para o socialista.


Soou um alerta geral no Palácio do Planalto. Afinal, como aliado de primeira hora, o PSB não deve ser magoado. E muito menos, combatido. Já desconfiado que o cenário pré-eleitoral ia se complicar, o presidente Lula fez o que pode para evitar mais esse revés da sua candidata.

O apelo pessoal, feito ao presidente nacional do PSB, governador Eduardo Campos, um fiel escudeiro, não deu resultados.
Lula, então, inventou um plano B para Ciro Gomes. Sacrificaria os planos de alguns petistas da sua mais alta estima ­- como Marta Suplicy, Antonio Palocci e José Genoíno -, para ceder a vaga de candidato do Planalto ao governo de São Paulo para o deputado federal cearense, nascido em Pindamonhangaba (SP). Também não funcionou.

Embora ciente de que São Paulo é "um país dentro de um país", Ciro se manteve irredutível. Já disputou duas eleições presidenciais sem sucesso, mas, baseado no exemplo do próprio Lula, pretende insistir até conseguir.

Quem gosta de política, sabe de cor o jargão: pesquisa é o retrato de um momento. É verdade. Tudo pode mudar até outubro de 2010. Mas para que mude mesmo, é preciso que os protagonistas se movimentem de forma mais clara e decidida.

E que movimentos a mais Lula poderia fazer em favor de Dilma? Só não carregou a ministra nas costas porque pegaria mal. Mas até já puxou a aliada para cima de um trator. Levava a presidenciável no bolso do colete para qualquer solenidade, de qualquer setor do governo, fosse em que Estado fosse. E só deu um tempo quando ela precisou tratar um linfoma.

Se botar mais um pouco de empenho, o presidente corre o risco de terminar acusado pelos concorrentes de usar a máquina administrativa em favor da sua candidata. Um hábito condenável, que - se não me falha a memória - os petistas, quando na oposição, costumavam sempre apontar nos seus adversários.

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