quarta-feira, 9 de setembro de 2009
















Confiança só, não basta

A pesquisa CNT/Sensus divulgada ontem é, como todas as demais, um retrato do momento. E o que esse retrato diz, agora, deveria servir como um sério alerta aos petistas sobre os riscos do excesso de confiança.

A pesquisa revela que o presidente Lula perdeu, nos últimos três meses, quase cinco pontos percentuais na sua popularidade. Foi de 81,5% em maio para 76,8% em setembro. A avaliação positiva do governo caiu outros 4,4 pontos, ao tempo em que o número de eleitores que desaprovam a gestão subiu três, passando de 15,7% para 18,7%.

O alerta não é restrito a Lula, mas extensivo à presidenciável do PT, ministra Dilma Rousseff. Ambos vêm agindo de olhos completamente voltados para a eleição, sem dar sinais de preocupação com o que pensa a sociedade a respeito dos seus atos.

Hoje, mais do que nunca, todos os movimentos do Planalto apontam no sentido da disputa de 2010. Seja em grande dimensão, como na festança pública do pré-sal, seja em pequenos espaços, como na liberação de rubricas orçamentárias para os aliados.

O apoio irrestrito ao presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), foi, sem dúvidas, um dos maiores tiros no pé. Não bastasse a “marolinha” da crise econômica mundial ainda a lamber-lhe as canelas, e uma pandemia de gripe a lhe escorrer pelo nariz, Lula peitou toda a sociedade – escandalizada com o caminhão de desmandos promovidos por Sarney –, ao defender ostensivamente o aliado. Não admitia por em risco o apoio do PMDB à candidatura de Dilma. Só largou a corda quando a situação ficou insustentável.

Da mesma forma, o presidente cavou uma trincheira para sua candidata-ministra da Casa Civil quando explodiram nas manchetes as acusações da ex-secretária da Receita Federal, Lina Vieira, de que Dilma a teria convocado para uma reunião informal com o objetivo de aliviar a barra dos Sarney com o fisco.

Como resultado, a presidenciável em cujos ouvidos sopraram que já estava praticamente eleita caiu 4,5 pontos percentuais na pesquisa de intenção de votos divulgada ontem pela CNT/Sensus, em relação ao levantamento feito em maio.
Além do desgaste do episódio Lina Vieira, outra novidade com nome e sobrenome veio atazanar Dilma: Marina Silva.

A entrada da senadora acreana no PV e, eventualmente, na disputa presidencial, abalou as estruturas do palanque petista. Prova disso é que em maio – ainda sem Marina – Dilma cravou 23,5% na pesquisa CNT/Sensus, para deleite do Planalto. Agora em setembro, porém, já com a adversária verde no páreo, caiu para 19%.

A presença de Marina é um fator tão incômodo para os petistas que forçou até um upgrade de emergência no discurso. De desenvolvimentista convicta desde que assumiu o Ministério das Minas e Energia, ainda no primeiro mandato de Lula, Dilma vai passar à condição de militante ambientalista veterana. Engajada desde pequenininha no tema da moda: sustentabilidade.

Enfim, parecem ser estas as entrelinhas da pesquisa CNT/Sensus. Ao menos para o Palácio do Planalto. Que deveria perceber, de uma vez por todas, que diante de tanta lama e desmoralização no poder central, excessos de confiança já não passam mais tão despercebidos ao eleitor atento.

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