sexta-feira, 17 de julho de 2009















Mais um que se lixa

Está se tornando um péssimo hábito dos senhores congressistas ignorar o que pensam os eleitores. Depois do deputado gaúcho Sérgio Moraes ter dito, com todas as letras, que estava "se lixando" para a opinião pública quando antecipou seu voto pela absolvição do colega Edmar "do Castelo" Moreira no Conselho de Ética da Câmara, agora é a vez do presidente do Conselho de Ética do Senado, Paulo Duque (PMDB-RJ), tratar a sociedade com desrespeito e desdém.

Recém-eleito para o cargo - por apadrinhamento do poderoso senador Renan Calheiros (PMDB-AL) - Duque não se fez de rogado. Aproveitou seu discurso de posse para ir logo defendendo o presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), das diversas denúncias em que está envolvido, e que motivaram até agora três pedidos de investigação ao conselho.

Que o senador fluminense torça em segredo pelo correligionário, não se pode impedir. Mas a sua manifestação precoce em favor de Sarney é mais uma mostra da falta de pudor com que os senhores da Câmara Alta vem tratando quem deveriam representar. Pois bem, o novo presidente do Conselho de Ética saiu-se ontem com essa: "A opinião pública é muito volúvel. Ela flutua. Não temo ser cobrado por nada".

Deveria temer. Afinal, como presidente do conselho, cabe a Paulo Duque a posição de magistrado num eventual processo por quebra de decoro aberto contra Sarney. Bem ao contrário, porém, ele antecipou o voto. Vale lembrar que o órgão é composto por 15 senadores, sendo dez deles ligados à base aliada do governo e sob o comando de Sarney e Renan. Devem ser os pizzaiolos aos quais o presidente Lula se referiu.

Há outro agravante à posição assumida por Paulo Duque: ele não tem voto. Isso mesmo. Ele é apenas o segundo suplente do ex-senador e governador eleito do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB). O primeiro suplente, Régis Fichtner, agora dono da vaga, se licenciou para assumir a Casa Civil no governo de Cabral.

Talvez seja por isso mesmo que o novo presidente do Conselho de Ética se sinta tão à vontade para desrespeitar a opinião pública. No seu discurso de posse no conselho, o "senador" peemedebista afirmou: "Imagino a dificuldade de vocês, que foram eleitos. Eu não. Sou suplente. Só gastei meia dúzia de reais para chegar aqui. Mas os suplentes têm muita importância nesta Casa". (Aliás, recomendo a leitura da íntegra da reportagem sobre a posse de Duque, no G1. É uma pérola!)

Está certo, "senador"! Afinal, dos 81 atuais integrantes da nossa Câmara Alta, 22 são suplentes. Ou seja, 27% dos parlamentares estão atuando sem ter recebido nenhum voto. Tudo muito natural, em se tratando da política no Brasil.


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