terça-feira, 7 de julho de 2009















A arte de engolir sapos

A bancada do PT no Senado deu uma verdadeira lição de enquadramento, hoje à tarde: adiou mais uma vez a reunião na qual seria discutida a posição do partido sobre o pedido de afastamento, por 30 dias, do presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP). Esta semana, aliás, deu pena de ver o líder petista Aloísio Mercadante (SP) informar da tribuna do Senado - visivelmente constrangido - o recuo da sua bancada.

Poucos dias antes, o próprio Mercadante havia ocupado os microfones para avisar que o PT se uniria aos tucanos e democratas - seus adversários naturais - em defesa da saída de Sarney até que as investigações dos desmandos fossem concluídas.

Um simples puxão de orelhas do presidente Lula, no entanto, foi suficiente para mudar tudo. Ou quase. Alguns senadores petistas mal-comportados - os acreanos Tião Viana e Marina Silva e o paulista Eduardo Suplicy - ainda insistem na tese. O resto da bancada se enquadrou e silenciou sobre o assunto Sarney.

Os rebeldes, por sua vez, deverão pagar caro pela rinitência. Além de passar a ser tratados como renegados na bancada, certamente vão entrar para o index de Lula, perdendo algumas regalias concedidas aos aliados. Rebeldias à parte, coube a Mercadante engolir mais um sapo nesta terça-feira. Adiou novamente a reunião para amanhã, argumentando que alguns senadores estavam ausentes.

Essa, porém, foi apenas uma pequena rã, perto do sapo cururu entregue ao líder petista pelo Planalto: a ordem de empurrar o assunto com a barriga até as férias dos senadores, que começam dia 18 - caso o Congresso Nacional consiga realizar a votação obrigatória da Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2010.

Como Mercadante vai justificar o novo adiamento, não sabe ainda. O que se sabe com certeza é que Lula não pretende permitir que a reunião da bancada se realize. Teme que os rebeldes da bancada, embora minoritários, exponham a verdadeira estratégia do Planalto, de adiar o posicionamento para depois das férias parlamentares, na esperança de esfriar o caso e a crise e, em agosto, tentar satisfazer a oposição e a opinião pública com a proposta de reforma do Senado, sugerida pelo próprio Sarney.

Toda essa articulação, como se sabe, é uma pequena amostra do poder de fogo do presidente, visando assegurar o apoio do PMDB sarneyzista à candidatura de Dilma Rousseff em 2010. E se num momento delicado como esses Lula consegue impor sua vontade ao Senado, não é difícil imaginar a quantidade de sapos que seus aliados terão que engolir mais à frente.

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