quarta-feira, 29 de abril de 2009
















Bolso vazio, saudades no coração

É louvável a preocupação do presidente da Câmara, deputado Michel Temer (PMDB-SP) e de um pequeno grupo de parlamentares, que na tentativa de resgatar a imagem do Legislativo perante a sociedade, decidiram tentar moralizar a questão do uso das passagens aéreas pelos parlamentares e debelar o mais recente escândalo que eclodiu na Casa.

Em vez de jogar a decisão para o plenário, em votação nominal para que o eleitor pudesse saber quem é a favor e quem e contra a mordomia, Temer fez as mudanças por resolução da Mesa Diretora. Mas a iniciativa se justifica. O presidente da Câmara conhece seus pares, e sabe que se fosse lançada em plenário, a proposta de proibir o uso de passagens por familiares e amigos dos deputados provavelmente seria derrotada.

É que, ao contrário do “núcleo pensante” da Casa, a ampla maioria dos deputados não dá a mínima para o que a sociedade pensa do Parlamento. São os integrantes do chamado “baixo clero”. Parlamentares que, via de regra, têm seu curral eleitoral garantido, com ou sem arranhões na imagem. E por isso mesmo, não ligam que se fale mal deles.

A fórmula encontrada pelos dirigentes, então, foi baixar um ato da Mesa Diretora, que reduziu em 20% o valor da cota de passagens para cada deputado, proibiu a emissão de bilhetes para familiares e eleitores e determinou a necessidade de autorização prévia para viagens internacionais.

Para acirrar mais a ira do baixo clero, Michel Temer anunciou ainda a criação de uma comissão que vai estudar uma reforma administrativa na Câmara, revisando benesses como verbas de postagem, indenizatória e de gabinete.

Deputados mais afoitos foram aos microfones da Câmara protestar contra os cortes nas regalias. Alguns retomaram o discurso ridículo de que terão problemas matrimoniais com os cortes, porque não poderão mais levar a Brasília suas mulheres, com passagens pagas com o dinheiro do contribuinte.

Engraçado é que esses deputados alegam que não podem ficar longe delas. Mesmo permanecendo em Brasília, geralmente apenas três dias da semana. Chegam na terça e voltam na quinta ou sexta-feira. Ao contrário de profissionais de outras áreas, sobretudo na iniciativa privada, que costumam, por força do ofício, viajar sozinhos em missões de trabalho.

A maior parte do tempo que passam fora de casa, suas excelências gastam viajando pelo interior dos seus Estados, visitando bases eleitorais e fazendo conchavos políticos. E nessas viagens, não é costume vê-los acompanhados pelas digníssimas esposas. Nem eles demonstram sentir tanto a falta delas. A saudade parece que só aperta, mesmo, quando o bolso grita.

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