terça-feira, 9 de junho de 2009














O blog da Petrobras

A censura aos meios de comunicação e o monopólio de informações foram abolidos oficialmente no Brasil logo após a redemocratização. Desde então, não faltou quem experimentasse novas fórmulas para tentar impedir a publicação de notícias negativas na imprensa. Até conselho federal já se tentou criar nesse sentido, sob o escuro manto da "democratização" das informações.

Esta semana, eis que surge mais uma dessas fórmulas de censura disfarçada. Dessa vez, sob a justificativa paradoxal de garantir "os princípios universais de liberdade de imprensa". Falo do blog "Fatos e dados", disponibilizado há alguns dias na web pela Petrobras.

Colocada sob investigação por uma Comissão Parlamentar de Inquérito do Senado - já devidamente desarticulada pelo Palácio do Planalto - a estatal argumentou que a criação da ferramenta serviria para assegurar o total esclarecimento das questões levatnadas por jornalistas a respeito dos dados informados à CPI.

Seria elogiável, se a iniciativa não incluísse a publicação de declarações e respostas de dirigentes da Petrobras antes mesmo que as reportagens sejam veiculadas pelos respectivos autores das perguntas. Agindo assim, a empresa desrespeita o sagrado direito de concorrência entre veículos de comunicação e, de quebra, apodera-se de questionamentos que são, à luz da ética profissional, de propriedade do repórter que os formula.

Por mais que se tente justificar, o blog - administrado pela diretoria de comunicação institucional da Petrobras - deixa a sensação de que o que se quer é intimidar a mídia, ao vazar informações obtidas por repórteres que investigam as denúncias de irregularidades nos negócios da estatal. A quebra da confidencialidade das perguntas enviadas à assessoria da Petrobras - cumprindo, diga-se bem, a sagrada missão de ouvir a versão da empresa sobre os fatos investigados - abala a relação democrática entre imprensa e governo. E mais: viola a autoria das matérias em execução.

Até porque, em se tratando de uma página pública na internet, qualquer jornalista ficará ciente do trabalho de apuração que está sendo realizado por seu concorrente. E sob qual justificativa? Será que a Petrobras tem, mesmo, algo a esconder? Será que a empresa teme que o seu direito de resposta não seja respeitado por grandes jornais e empresas de televisão e rádio?

Ou simplesmente seria esta uma estratégia para tentar intimidar a mídia, forçando-a a não investir fundo nas investigações e limitar-se à publicação de notícias pasteurizadas e superficiais? Uma iniciativa que, embora legal, nem de longe pode ser chamada de democrática. Lembra o modus operandi de governos da ditadura socialista, acostumados a manter a informação sob rigoroso controle.

É bom lembrar que muitas das denúncias de corrupção e malversação de verbas públicas formuladas no Congresso Nacional, que motivam a criação de CPIs, via de regra produzem apenas grandes pizzas naquela Casa. Mas terminam sendo investigadas de verdade, e, quiçá, comprovadas, graças ao bom jornalismo que ainda se faz nesse País.

2 comentários:

Renato disse...

Serginho,
Infelizmente a Petrobras está agindo muito pouco como empresa e muito como partido. Que empresa iria atacar dessa forma a imprensa? Iria abrir um blog em que só se publica comentários ofensivos a quem quer investigar, inclusive a jornalistas? Recomendo também ler o texto "A verdadeira história do pré-sal" de Adriano Pires, publicado lá no Instituto Millenium (que tem vários outros artigos interessantes) em http://www.imil.org.br/artigos/a-verdadeira-historia-do-pre-sal/

Anônimo disse...

Jornalista,
Nunca vi ninguem comparar censura com liberdade de imprensa se te faço perguntas pertinentes e fundamentadas qual problema destas serem publicadas.
Estão procurando chifre na cabeça de cavalo. O blog da Petrobrás é ótimo para apontar que existem jornalistas ruins e mal intencionados.
Além dos inocentes úteis que reverberam o que é discutido na grande imprensa do sul maravilha.
Creio que este seja teu caso.