terça-feira, 23 de junho de 2009












Chantagem no Senado

Não é surpresa nem novidade a crise em que afundou o Senado brasileiro. Escândalos, ali, são parte do cenário, e se sucedem há anos. A novidade é o formato que tomou o episódio atual, dos atos secretos. Quanto mais se revolve a lama, mais sujeira aparece, e envolve mais e mais senadores.

Outra novidade é a denúncia de que um ex-diretor da Casa estaria fazendo chantagem com alguns parlamentares, contra os quais teria guardado cópias de atos secretos, contendo nomeações de seus apadrinhados e de liberação de verbas públicas para pagamentos de despesas irregulares suas de de parentes.

No momento em que integrantes da Câmara Alta do País assumem publicamente estar sendo chantageados por um funcionário, nomeado por eles próprios, é uma prova de que a situação chegou ao limite do imponderável. Negar as acusações é apenas parte do processo, claro.

As acusações podem até ser falsas, mas se a chantagem existe, já é motivo de alarme. Significa, no mínimo, que os senadores perderam as rédeas da Casa à qual pertencem. Não há indicativo mais preciso da situação de desmando que se abateu por lá.

O funcionário em questão é o ex-diretor-geral Agaciel Maia, nomeado há 14 anos pelo senador José Sarney (PMDB-AP) quando ocupou pela primeira vez a presidência do Poder. Novamente investido no cargo, em fevereiro deste ano, coube a Sarney promover a saída de Agaciel, o que só aconteceu depois de muita pressão por parte de alguns senadores e da opinião pública.

O atual presidente do Senado, aliás, já demonstrou que só funciona sob pressão. Caso contrário, pelo menos ao que parece, por ele ficaria tudo como está. Tanto é que após demitir Agaciel, Sarney esteve no casamento da filha do ex-diretor. Festa que, ironicamente, teve como fundo musical a trilha sonora do filme O Poderoso Chefão.

As denúncias de chantagem foram feitas pelo senador Arthur Virgílio (PSDB-AM). Segundo ele, outros colegas estariam sendo vítimas de Agaciel. O que salta aos olhos - e foi reforçado pelo tucano - é que nenhum funcionário da Casa teria força suficiente para chantagear um senador. Seria preciso ter costas muito quentes para isso.

Traduzindo em bom português: se Agaciel estiver mesmo ameaçando algum parlamentar, certamente o faz sob a proteção de outros parlamentares. E mais certo ainda é que se alguém lhe está dando cobertura, não é um peixe pequeno. Pela dimensão da atitude, o protetor - ou protetores - do ex-diretor pertence à casta do alto clero da Casa. Hoje comandada por Sarney e seu grupo.

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