quinta-feira, 19 de agosto de 2010

O antipatriota














Por Rafael Carvalheira

Do Jornal do Commercio

Questionar a escolha do Brasil para sediar a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016. O assunto soa velho e, para alguns, até antipatriótico. É bom que seja assim. O contrário disso significa estar alinhado com raciocínios deturpados sobre valores sociais. Gente que gosta de brincar de esconde-esconde; que trabalha para que qualquer contestação em cima destas eleições e suas implicações soe exatamente assim.

Para o azar dessa gente, que compõe as mais variadas esferas sociais, na qual se incluem membros de governos e imprensa, há quem não embarque no oba-oba. O repórter inglês Andrew Jennings é uma dessas pessoas. E ele está no Brasil. Investigando os porões das candidaturas brasileiras. Cada suborno e manobra por baixo dos panos. Concedeu entrevistas a vários veículos de comunicação. Um pequeno questionamento suscita no mínimo reflexão sobre a real necessidade de organizarmos os dois maiores eventos esportivos do mundo.

Quanto a Fifa e o COI vão gastar? Talvez nem as passagens dos seus dirigentes. Os bilhões sairão dos nossos bolsos para a construção de casulos – instalações esportivas ou não – destinados à engorda financeira das duas entidades. Entidades estas que vendem algo abstrato para patrocinadores, parceiros e outros com relação mais suspeita. As marcas Copa e Olimpíadas. Nem a Fifa nem o COI pagam atletas, sustentam clubes ou centros de treinamento, executam projetos sociais significativos em países pobres, bancam a infraestrutura dos seus eventos...

É como se um estranho de repente passasse a morar comigo. Não pagasse luz, água, telefone, alimentação, condomínio, transporte. Me dissesse como devo me comportar, me vestir, criar meus filhos e ainda como gastar meus recursos. Depois fosse embora com o dinheiro que não precisou gastar e mais aquele que recebeu para prestar os serviços de “consultoria”. A mim, restaria uma dívida gigantesca. Neste caso, prefiro a pecha de antipatriota, mas com dinheiro para investir em saúde, educação, emprego e em obras, aquelas de fato imprescindíveis.

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