quarta-feira, 28 de outubro de 2009










Um mineiro inquieto


Paciência tem limites. Esse foi o recado, curto e grosso, enviado à cúpula do PSDB pelo governador de Minas Gerais, Aécio Neves. Um dos nomes do partido para a disputa presidencial de 2010, Aécio vinha aguardando disciplinadamente que os tucanos escolhessem entre ele e José Serra (SP) quem vai enfrentar a candidata petista Dilma Rousseff. Esta semana, porém, deu um ultimato à legenda. Se em janeiro não houver definição, vai se lançar candidato ao Senado.

Ao contrário do seu colega mineiro, a situação de Serra é confortável. Foi ministro da Saúde de FHC e candidato à Presidência da República em 2002. Como resultado, tornou-se bem mais conhecido dos eleitores brasileiros. Outra vantagem do tucano paulista é que ele cumpre o primeiro mandato no governo de São Paulo, e caso resolva não concorrer ao Planalto, tem pela frente a possibilidade de disputar uma reeleição razoavelmente tranquila.

Aécio, por sua vez, está terminando o segundo mandato consecutivo no governo de Minas. E quer alçar voos mais altos. Tem a vantagem de ser mais jovem que o correligionário paulista. Ou seja, pode esperar um pouco mais para tentar o cargo máximo da Nação. Mas ele acredita que sua hora é agora.

Por tudo isso, o tucano mineiro tem pressa. O paulista, não. Embora esteja aparecendo como primeiro colocado em todas as pesquisas sobre a disputa presidencial realizadas até agora, Serra prefere aguardar até março antes de anunciar sua decisão.

Nesse período, vai analisar o desempenho de Dilma - empinada publicamente pelo presidente Lula como candidata praticamente todos os dias - e aguardar o desfecho da disputa interna no bloco governista, travada entre a ministra da Casa Civil e o deputado federal cearense Ciro Gomes, que também postula uma candidatura ao Planalto, contra a vontade do aliado PT.

O jogo de Serra parece simples: se em março ele não sentir firmeza no palanque das oposições, ou achar que suas chances de vencer são muito reduzidas, terá pavimentado mais da metade do caminho da reeleição para o governo de São Paulo. Afinal, mesmo negando - por enquanto - a candidatura presidencial, o governador tem ocupado generosos espaços na mídia. Serra está valorizando o passe.

Talvez seja por isso que o PSDB - cuja maioria é declaradamente pró-Serra - tem sido tão complacente diante desse debate interno. Inclusive evitando a todo custo promover as prévias dentro do partido, que tanto Aécio defende, para a escolha do candidato.

A indefinição está, inclusive, dificultando as alianças do PSDB em vários Estados, onde opositores de Lula aguardam uma definição do candidato a presidente para formar os palanques locais.

O ônus dessa demora provocada por Serra, porém, pode ser maior do que os tucanos contabilizam. Se chegarem em março sem uma definição, pode ser tarde para recuperar o terreno perdido para Dilma, Ciro e até Marina Silva (PV). E a partir daí, vai ficar bem mais difícil para Aécio, que ainda precisa rodar muito o País para se tornar conhecido do eleitor. Enquanto Serra vai ficar assistindo de camarote.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009









Unidade acima de tudo


Que os partidos de oposição em Pernambuco estão em situação incômoda para 2010, é inegável. Lutam contra máquinas fortes, pilotadas pela dobradinha PT/PSB e alimentadas com o combustível da alta popularidade dos governantes.

Mas as dificuldades apenas começam por aí. Não bastasse o campo governista estar forte e coeso, na oposição a situação é de fragilidade. Tucanos e democratas se desentendem, o PMDB se mantém em compasso de espera pela decisão do seu cacique maior, Jarbas Vasconcelos, e o PPS não tem força política para levantar sozinho uma bandeira de combate às gestões de Eduardo Campos e de Lula no Estado.

Há, porém, um novo elemento que só tende a provocar mais ansiedade nos líderes oposicionistas locais. Ao contrário de um desfecho amistoso como apregoava antes, o PSDB nacional anda às voltas com um acirramento interno entre os defensores das candidaturas dos governadores José Serra (SP) e Aécio Neves (MG) à Presidência da República.

Com a tese da chapa puro-sangue ganhando corpo, os tucanos mineiros ameaçam se rebelar. Não querem nem ouvir falar de Aécio na vice de Serra, embora a ideia tenha sido bem aceita, segundo pesquisa encomendada pelos serristas.

O que isso tem a ver com Pernambuco? Bem, sem munição local para enfrentar a candidatura de Eduardo à reeleição, a oposição pretende nacionalizar a campanha, vincular os palanques estadual e nacional anti-Lula. E para isso, é necessário, no mínimo, unidade interna. Algo que fica mais distante a cada dia que passa.

* Publicado na coluna Cena Política, do JC, em 26/10/09


sexta-feira, 23 de outubro de 2009











Desequilíbrio entre poderes


Que o presidente Lula é uma figura singular, ninguém tem dúvida. Mas pode-se dizer o mesmo do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes. Ambos sofrem de uma incontinência verbal que ultrapassa os limites do cargo.

O problema de Lula é agir forma explosiva e espontânea, quando grita aos quatro ventos que é tão ou mais popular que Getúlio Vargas e JK, e chega a fazer comparações com Jesus Cristo. As reações de Mendes são diferentes, pensadas, críticas. E todas dirigidas a Lula.

Exatamente por isso a questão torna-se preocupante. Afinal, são dois chefes de poder, que pela altura do cargo precisam manter o equilíbrio. Como cidadão, Mendes tem o direito de opinião. Mas a forma como as vem externando o distanciam da postura de magistrado.

O presidente do STF voltou à carga, criticando as viagens do desafeto Lula pelo Brasil. Mendes reconhece que viaja muito pelo País - e com dinheiro público - mas não para fazer campanha eleitoral fora de época.

Ora, e Lula está em campanha? E se está, cabe ao líder da magistratura do País denunciar? Ou seu papel seria o de julgar ações nesse sentido, como a que foi impetrada pela oposição no começo da semana, para que a Justiça investigue se a vistoria de Lula e comitiva às obras no Sertão de Pernambuco se configura em crime eleitoral?

"Não tenho nada contra viagens. Ele que viaje bastante, não há nenhum problema quanto a isso. Estou dizendo é quando se transforma eventual fiscalização de obra ou suposta fiscalização de obra em comício ou manifestação eleitoral. Foi essa a minha observação", disse Mendes. Ou melhor dizendo: acusou Mendes.

Da mesma forma que cabe a Lula manter o equilíbrio da administração e não usá-la como trampolim para candidato A ou B, ao presidente do STF cabe ter mais cuidado com suas declarações, para garantir o equilíbrio da balança da Justiça. Não é porque um descumpre sua função que o outro deve seguir o exemplo.








Ah, esses fariseus...

O presidente Lula não lançou moda nem inventou nenhuma novidade em termos de alianças políticas. Antes dele, tucanos e democratas deram-se as mãos para garantir o poder. Mais atrás, em 1985, PMDB e PFL – antigos MDB e dissidentes da Arena – formaram a Aliança Democrática para eleger Tancredo Neves presidente no Colégio Eleitoral, contra o candidato da ditadura que o primeiro combatia e o segundo apoiava.

Vasculhando mais fundo a história, Getúlio Vargas foi às turras com os comunistas, cassou o registro do Partidão e perseguiu seus representantes. Logo depois, se aliou a eles para se manter no poder. E por aí vai.

Vejamos o passado recente em Pernambuco. Um dos principais líderes da oposição aos governos da ditadura, Jarbas Vasconcelos (PMDB) firmou um acordo de irmãos com os antigos adversários do PFL para se eleger governador. Antes dele, Miguel Arraes havia acomodado sob suas vistas muitos representantes do coronelismo patriarcal do Estado.

Alianças são parte da história da política. E no Brasil, ideologias e programas sempre ficaram em segundo plano. Diferentemente de países como os Estados Unidos e alguns da Europa, onde lado é lado, e ponto final.

O problema não reside nos acordos. Se são questionáveis, que se questione os demais. Reside, isto sim, na verborragia presidencial, qualidade inabalável de Lula. Não há limites diplomáticos, digamos assim, para as declarações do líder da Nação. Nem há quem o advirta de que misturar política e religião é um erro mais grave que crime eleitoral.

No seu universo político particular, Lula nem liga. Vai falando. Comparações pessoais com Juscelino Kubitschek ou Getúlio Vargas já são corriqueiras. Semana passada, no Sertão de Pernambuco, ao destacar a importância das obras da transposição do rio São Francisco, ele se colocou no patamar de Franklin Roosevelt, ao compará-las com o histórico programa do New Deal, que incluía um plano de desenvolvimento para o Vale do Mississipi.

Mas quando afirmou que no Brasil até Jesus Cristo faria alianças com Judas para governar, Lula exagerou, comparando-se ao filho de Deus. Blasfêmia? Talvez, mas não se analisado da forma como o nosso presidente vê as coisas. Por esse prisma, a comparação não está de todo errada, porque Lula não é o primeiro governante brasileiro a vender a alma ao diabo para garantir popularidade.

A diferença é que os outros fazem, mas não dizem abertamente. Sabem que declarações assim fazem o puritanismo e espírito conservador brasileiro saltar dentro das calças e partir para o contra-ataque.

Foi o que fez a CNBB. A organização dos bispos protestou imediatamente, lembrando que, ao contrário de Lula, Cristo não se aliou aos fariseus. Apenas acolheu os pecadores.

Bom, ainda assim o presidente está com certa razão. Afinal, no grande Éden em que se transformou o seu “governo de coalizão” já foram acolhidos muitos que, no passado, ele próprio tratou de rotular como pecadores: José Sarney, Fernando Collor, Paulo Maluf, Inocêncio Oliveira, Renan Calheiros, Jader Barbalho. Só para citar alguns “fariseus”, na ótica petista pré-governo.

Lula, de fato, está longe de ser Cristo. Mas no Brasil que criou a partir do seu primeiro mandato, ele casa e batiza. E às vezes dá até a extrema unção.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009










Semelhanças e diferenças

Na visão de alguns mais otimistas, o ex-ministro Gustavo Krause (DEM) tentou passar uma mensagem tranquilizadora às oposições ao lembrar seu próprio caso, em 1994, quando foi escolhido para enfrentar – quase que olimpicamente – a forte candidatura de Miguel Arraes (PSB) ao governo do Estado. Não havia um nome eleitoralmente poderoso para tanto. E ele, então, foi impulsionado para demarcar o terreno governista e garantir a sobrevivência do seu bloco político e da bancada parlamentar.

Para outros, porém, o recado de Krause pode ser lido nas entrelinhas: ao lembrar 94, ele sinaliza um certo conformismo de que não deve haver novamente um candidato com condições de evitar a reeleição do governador Eduardo Campos (PSB).

Para bom entendedor, não dá para ficar apenas sonhando com uma candidatura do senador Jarbas Vasconcelos (PMDB). É preciso botar o pé no chão e reconhecer que essa hipótese fica mais distante a cada dia que passa. Vale lembrar que nas duas vitórias da União por Pernambuco, em 1998 e 2002, ambas comJarbas à frente, não houve disputas internas, divergências entre caciques ou, como afirmou Krause, sequer “trepidações”.

A diferença entre 2010 e 1994 – e mesmo de 1986, quando o PFL, sem condições também de enfrentar Arraes, lançou a candidatura olímpica de José Múcio – é que dessa vez não parece haver nas oposições pernambucanas sequer uma alternativa “para competir”.

Nacionalizar a campanha é, como sempre, um perigo real e imediato. Em 94, como bem lembrou o ex-ministro, o então candidato tucano Fernando Henrique Cardoso largou bem atrás. Mas decolou, alçado pelo Plano Real, pela aliança com o PFL – na época o maior partido do Brasil – e por mais uma série de contingências favoráveis.

Hoje, quem preside o País é Lula, o mesmo candidato que fora derrotado outras três vezes pelo atual bloco de oposição. Mostrou verve e persistência. E mais que isso: mostrou engenhosidade.

Lula governa com uma popularidade estratosférica, sem ter inventado nenhum plano econômico. Tirou partido do esquema que herdou do próprio FHC. Também não implementou programas sociais novos, só deu um upgrade nos que recebeu dos tucanos.

A grande diferença, porém, é o conjunto de forças que o apóia. Não apenas em Brasília, onde aos poucos foi montado um esquema de adestramento partidário de causar inveja aos seus antecessores, mas também na grande maioria dos Estados, onde Lula hoje conta com vários governadores e prefeitos aliados, fortalecidos com seus programas federais.

Por todos esses fatores, não se trata de dizer que a oposição em Pernambuco estaria jogando a toalha. De fato, eles sabem – Jarbas, principalmente – das pouquíssimas chances de vencer a disputa local, ainda que se nacionalize a campanha e José Serra reconquiste o governo central.

Mas Serra é mesmo candidato? Porque como bem lembrou Jarbas, a indefinição no PSDB entre ele e Aécio Neves só estica ainda mais a corda para o lado governista.


domingo, 18 de outubro de 2009















Dormindo no ponto


Com uma legislação frouxa como a do Brasil, em vez de o PSDB ir à Justiça Eleitoral contra a viagem de Lula e comitiva ao Sertão do São Francisco, na semana passada, deveria mesmo era ir às ruas com seus pré-candidatos. Porque enquanto os tucanos tentam ganhar espaço no tapetão, os petistas se adiantam e mostram a cara ao eleitor.

Está certo que o PSDB não dispõe do cobertor da máquina administrativa para justificar qualquer aparição pública, como fez na candidatura à reeleição de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), em 1998, e na pré-campanha de José Serra, então ministro da Saúde de FHC, em 2002. Mas há outros modos. E Serra até que vem conseguindo aparecer bem, com uma viagem aqui e outra ali pelo País.

Ou vão me dizer que um governador de São Paulo tem o que fazer em Petrolina, ou em Exu? Foi clara a intenção eleitoral dessas visitas de Serra – só para ficar nas duas últimas que aconteceram recentemente em Pernambuco – de divulgar a sua candidatura e tentar quebrar o estigma de anti-nordestino que paira sobre o governador paulista.

É pouco, diante do poderio da máquina do PT, aliada ao PSB e ao PMDB em vários Estados. Mas é onde o PSDB deveria apostar. Porque se forem esperar pela opinião da Justiça Eleitoral, além de correr o risco de ver seus adversários inocentados, os tucanos ainda perdem tempo e terreno importante.

Sobretudo no Nordeste, onde, não bastasse o arsenal de obras – algumas muito aguardadas pelo povo, e que os governos do PSDB não tiveram o cuidado de tocar – Lula e seu candidato, ou candidata, ainda comandam um grande cabo eleitoral, o Bolsa-Família. Instrumento ironicamente herdado do governo tucano. Que não soube explorá-lo politicamente.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009












Uma briga desigual

O deputado Ciro Gomes (PSB) parece mesmo decidido a disputar a sucessão presidencial. Tanto que vem agindo como candidato durante toda a visita do presidente Lula às obras da transposição, em Minas Gerais, Bahia e Pernambuco. Não desgruda de Lula em nenhum momento. Nem de madrugada, quando a comitiva descontraiu ao som do forró de Maciel Melo.

Ao contrário da sua concorrente, Ciro foi um dos últimos a sair da festinha. E amanheceu praticamente na porta do quarto do presidente. Mas ninguém se engane, achando que Lula hesita em algum momento entre Dilma e Ciro. Nem mesmo diante das pesquisas, que apontam o deputado na frente da ministra da Casa Civil.

A presença de Ciro na comitiva foi comentadíssima pelos aliados, mas apenas como uma deferência do presidente ao seu ex-ministro da integração Nacional, que durante o primeiro mandato foi o responsável por iniciar as obras da transposição.

Lula não esconde que tem uma dívida de gratidão com Ciro, pela obra que encontrou em estágio avançado.

Mas é só. Dilma continua preferida, e, beneficiada pelo status de "mãe" do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), teve lugar cativo ao lado do presidente nas aparições públicas da comitiva.

Os dois presidenciáveis conversaram muito no Sertão, trocaram sorrisos e acenos. Até dividiram "eleitores". Mas enquanto a ministra caminha junto a Lula, Ciro tem se mantido discretamente um passo atrás ou à frente.

A desvantagem, porém, é maior que isso. Parte do PT não quer nem ouvir o nome de Ciro. Avaliam que seu passado de ex-tucano compromete qualquer chance de apoio à uma candidatura presidencial. Não bastasse ter governado o Ceará vestindo a camisa do PSDB, foi sob esse mesmo manto que ele ocupou o Ministério da Fazenda de Fernando Henrique Cardoso. Rompeu logo no início da gestão tucana, é bem verdade. Mas para filiar-se ao PPS, outra legenda que hoje faz dura oposição ao governo petista.

Se o ex-ministro traz no currículo, além do preparo técnico e político, o histórico de duas disputas presidenciais, a atual ministra, por sua vez, permanece ungida pelas bençãos de Lula e sua altíssima popularidade. E isso, ao menos no Brasil de hoje, é uma credencial bem mais poderosa.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009














O gato no telhado


Durante o encontro do PMDB em Abreu e Lima, no fim de semana, o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB) deixou claro nas entrelinhas do seu discurso que não pretende vestir a camisa de opção única das oposições na disputa pelo governo do Estado em 2010.

Quem entende bem a linguagem "cifrada" de Jarbas, interpretou o recado: ele não está disposto a ir para o sacrifício, entrando na briga sem uma base sólida. E se
topar a parada de enfrentar a forte máquina que está por trás da reeleição de Eduardo Campos (PSB), estará agindo movido por pesquisas que lhe garantem uma mínima chance de vitória. Porque, pessoalmente, sua vontade de voltar ao governo é zero.

Houve jarbista, porém, que saiu do encontro do PMDB achando que o chefe estaria um pouco mais estusiasmado com a possibilidade de vir a disputar um terceiro mandato no Palácio do Campo das Princesas. Esses, certamente, não compreenderam bem a fala de Jarbas.

Ao afirmar que
"as oposições vão buscar o que for melhor para o Estado", e que terão o que mostrar em 2010, ele sinalizou exatamente o contrário. Em bom politiquês, avisou que seria melhor examinar outras alternativas para a cabeça de chapa.

Jarbas não esconde que seu desejo pessoal é permanecer no Senado, onde tem destaque nacional como uma das poucas vozes de oposição ao presidente Lula. E no caso de vitória do presidenciável do PSDB, José Serra, essa notoriedade tende a crescer. Como um dos grandes aliados do tucano, independente de estar filiado ao PMDB, seu nome certamente figuraria numa lista de "ministeriáveis".

Há uma outra hipótese que animaria de verdade o peemedebista: a disputa presidencial, como candidato a vice de Serra. Se dependesse da vontade dos tucanos, o convite já poderia até estar feito. Mas a indisposição de Jarbas com a maioria governista do PMDB praticamente anula as chances.


De qualquer forma, já era previsível uma sinalização de recuo por parte do senador após concluído o prazo para filiação partidária de candidatos às eleições de 2010. Enquanto a temporada de troca-troca esteve aberta, ele procurou não se manifestar, para evitar uma debandada ainda maior no já debilitado quadro da oposição. Afinal, muita gente se segurou por lá movida pelo fio de esperança de tê-lo na chapa majoritária.


No fim de semana, porém, Jarbas começou a pôr um freio nos aliados mais otimistas. Deixou clara, em alguns trechos do seu discurso, a cautela com que trata o assunto. Por exemplo, quando afirmou que "... pode ser A, B ou C que vá disputar o governo. Essa pessoa vai ao guia eleitoral mostrar o que Pernambuco fez quando o PMDB foi governo".

Não nominou quem seriam esses "A, B ou C". Nem precisava. Mas a cúpula da União por Pernambuco entendeu a mensagem. E provavelmente não gostou.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009














Enem aí!

Tinha começado com o pé esquerdo, na base da experimentação e da politicagem. Só podia dar no que deu. As provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) – novo modelo de vestibular implantado a jato no Brasil, sob protestos dos estudantes e escolas – foram roubadas.


Parece surreal. Na primeira tentativa de inovar a seleção de candidatos às universidades públicas, o governo se deixa vitimar por uma gatunice. Os ladrões das provas ­– supostamente retiradas do bem vigiado cofre do Inep, entidade encarregada de elaborar os exames – tentaram vendê-las ao jornal O Estado de S. Paulo. Por R$ 500 mil e um aviso: “Isso é sério, derruba ministério”.


Os intermediários, porém, levantaram suspeitas mais graves: as provas teriam sido surrupiadas por uma quadrilha de cinco pessoas, provavelmente funcionários do Inep.


Que no Brasil, coisas como essas aconteçam, não é surpresa. É até cultural, levando em consideração o exemplo dos nossos representantes, movidos à base da Lei de Gérson.


É preciso cobrar explicações do Ministério da Educação sobre a escolha do Inep para o trabalho. E também sobre o esquema de segurança das provas.


Se todo esse escândalo derruba ministro? Em países sérios, talvez. Por aqui, é improvável. Principalmente se o ministro tiver projeto eleitoral, avalizado pelo governo.

Não é apenas um roubo, mas um prejuízo grande para mais de 4 milhões de estudantes. Gente que se preparou muito. Gente que, de última hora, teve que esquecer todo o antigo esquema de vestibular para o qual vinha treinando, e que se esforçou para entender o novo modelo, implantado goela abaixo sem dar um ou dois anos, pelo menos, para as escolas e cursinhos se adaptarem.


Agora, enquanto a estudantada espera, pacientemente, mais 45 dias pela nova data da prova, o jeito é seguir a singela recomendação do ministro Fernando Haddad, e utilizar esse tempo para continuar estudando.