terça-feira, 1 de dezembro de 2009















Sinais dos tempos


Para quem já foi o maior partido governista do País durante muitos anos, o desfecho melancólico da gestão do único governador do DEM, José Roberto Arruda, é um sinal de alerta à legenda. A surpresa não foi apenas a constatação de corrupção no bem avaliado governo do Distrito Federal, mas o método utilizado.


Afinal, que diferença faz colocar dinheiro nas meias ou na cueca, como recentemente fizeram filiados do PT no chamado escândalo do mensalão, em 2005? Escândalo, aliás, que municiou o DEM nos ataques à gestão petista.


Mas quando tudo se nivela por baixo – trágica constatação da atual política brasileira – o que fazer?


Quando ainda eram PFL, os dirigentes partidários já sentiam as dificuldades da evolução dos tempos. A solução encontrada foi trocar a sigla e adaptar os programas. O velho partido foi buscar na juventude a sua nova bandeira, na tentativa de se firmar como oposição.


Mas antigos vícios continuavam assombrando o Democratas. Dispostos a se tornar o principal partido adversário do governo do PT, eles não conseguiram deslanchar. O longo tempo vivido nas bases governistas dificultava o novo cenário.


Afinal de contas, o DEM é governo na sua essência. O partido deriva da antiga Aliança Renovadora Nacional (Arena), criada pela ditadura militar – a partir da imposição do bipartidarismo – para hospedar os seus apoiadores. Com o declínio do regime e a restauração das liberdades partidárias, transformou-se no PDS, mas se manteve na base de sustentação do governo.


Veio a redemocratização, e com ela um racha entre os que defendiam o status quo e aqueles que enxergavam um comprometimento fatal da ditadura. Estes pularam do barco para criar a Frente Liberal, aliaram-se ao PMDB e ajudaram a garantir a vitória do peemedebista Tancredo Neves no Colégio Eleitoral. Surgia o PFL. Ainda de perfil governista.


E foi sob essa sigla que os hoje democratas apoiaram as gestões de José Sarney (PMDB) e Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Numa conta rápida, são duas décadas de governos militares, mais cinco anos de Sarney e oito de gestão tucana. Ao todo, o partido permaneceu cerca de trinta anos no poder.


A vitória de Lula em 2002 teve o esperado efeito de uma bomba sobre o DEM. Nos últimos sete anos, a legenda tentou a todo custo encontrar seu caminho como oposição. Mas o bastão foi abarcado antes pelos tucanos.


Destronado pelos petistas, o PSDB não teve o mesmo problema dos aliados democratas. Seus fundadores traziam na bagagem a experiência da oposição no MDB e PMDB, sigla que deu origem à legenda social-democrata.


Agora, além das dificuldades impostas pela redução no tamanho, o DEM chega à encruzilhada da corrupção entre seus pares. Atos que eles próprios denunciaram sobre os petistas.
A única solução, depois de tudo, para que o partido garanta alguma chance de sobrevivência nas eleições do próximo ano é cortar na própria carne – já bem franzina – expulsando o seu único governador, protagonista do mensalão planaltino.

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