terça-feira, 17 de novembro de 2009











O jogo dos reservas

Alguém já falou que no futebol, sempre que os reservas elogiam publicamente os titulares, no fundo estão torcendo para que quebrem a perna e eles possam, enfim, entrar em campo. Na política a coisa não é tão diferente.

Não se trata de torcer por contusões ou fraturas, mas chega perto, se formos medir o comportamento de alguns “reservas” na disputa presidencial.

Hoje, há dois claros exemplos. No banco das oposições, o governador mineiro Aécio Neves, da equipe do PSDB, não esconde de ninguém o seu desejo de entrar em campo. Pelo contrário, quer apressá-lo.

Marcou até data-limite para que o titular tucano na disputa presidencial, o governador paulista José Serra, anuncie que é candidato. Se até janeiro o colega não expuser publicamente suas pretensões, ele, Aécio, vai mudar de modalidade e se lançar candidato ao Senado por Minas Gerais.

No banco governista, o deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE) é mais direto. Embora não tenha sido escalado pelo Palácio do Planalto como atacante titular na disputa, Ciro se rebelou contra o treinador Lula e expôs publicamente seu desejo de entrar em campo a todo custo.

Há cerca de dois meses, o parlamentar cearense – nascido em Pindamonhangaba, interior paulista – se escalou para o clássico de 2010, que no time do Planalto tem como titular a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT).

Sob o argumento de que a equipe atuaria melhor com dois atacantes, Ciro se apresentou para o jogo. Mas, atendendo a um pedido do “professor” Lula, fez a concessão de transferir seu domicílio eleitoral para São Paulo, com a justificativa de que poderia ser escalado para jogar na segunda divisão das eleições, disputando o governo daquele Estado.

Aécio, e Ciro, porém, dão sinais de que estão perdendo a paciência com a demora de seus dirigentes em definir as escalações. Hoje, os dois reservas se encontram num almoço em Minas Gerais para “discutir o Brasil”. Na verdade, vão debater estratégias eleitorais e analisar em que pé andam suas condições de ser ou não convocados para a partida do próximo ano.

O que há de novidade nisso? É que, enquanto no futebol dois adversários não costumam se falar antes do jogo, e muito menos elaborar jogadas ensaiadas em conjunto, na política isso é perfeitamente possível.

Embora governista, Ciro Gomes é bem visto pelos tucanos mineiros. Seu partido, o PSB, fez aliança com o PSDB na disputa municipal do ano passado e elegeu o prefeito da capital Belo Horizonte, o socialista Márcio Lacerda.

O diálogo franco entre Ciro e Aécio coloca sob pressão os titulares da peleja – Serra e Dilma – porque ambos precisam dos votos de Minas. A grande torcida mineira é o segundo maior colégio eleitoral do País, com cerca de 14 milhões de votantes, e as pesquisas têm apontado Aécio como o melhor governador do País.

O próprio presidente Lula já admitiu que uma candidatura do tucano mineiro seria mais difícil de enfrentar que a do correligionário paulista.

Já Ciro Gomes, por enquanto, parece estar sob controle do treinador. Mas sua disposição de ser candidato e seu temperamento difícil ainda podem render muitas dores de cabeça aos cartolas da equipe governista.



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