quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Em bom português...














Francisco Everardo Oliveira Silva sabe ler e escrever. Bem ou mal, não importa. Importa o fato de que ele não é analfabeto e, portanto, está apto a receber o diploma de deputado federal, mandato que lhe foi conferido, em outubro passado, por cerca de 1,3 milhão de eleitores de São Paulo.


Hoje pela manhã, no Tribunal Regional Eleitoral, Francisco Everardo leu dois títulos e dois subtítulos de um jornal. Depois, escreveu uma frase com 18 palavras, ditada por um juiz e retirada do livro "Justiça Eleitoral, uma retrospectiva". O teste levou pouco mais de três horas para ser realizado. Mas, é daí? Fez o que pediram. Comprovou que sabe ler e escrever, conforme afirmou em sua inscrição no pleito de outubro.

Famoso por seu desempenho artístico, Francisco Everardo recebeu 1.353.820 votos. Na história eleitoral de São Paulo, ficou atrás apenas do já falecido Enéas Carneiro (Prona), que abocanhou quase 1,5 milhão de votos.

O detalhe é que o doutor Enéas era figurinha carimbada na política, com três candidaturas presidenciais nas costas quando disputou a Câmara dos Deputados, e com sua votação - graças à matemática eleitoral perversa adotada pela legislação brasileira - arrastou consigo mais cinco deputados do Prona. Todos com menos de mil votos nas urnas.

Francisco Everardo, por sua vez, não sabia sequer o que vinha a ser filiação partidária quando, em setembro de 2009, foi convidado a ingressar no PR para ser candidato a deputado federal.

A estratégia dos caciques funcionou bem: eleito, Francisco Everardo arrastou consigo outros três novos parlamentares. Entre eles, o delegado da Polícia Federal Protógenes Queiroz (PCdoB). Que mesmo com a notoriedade nacional do comando da Operação Satiagraha, que prendeu o banqueiro Daniel Dantas e outros acusados de fraude, só obteve 94.906 votos nas urnas. Sua sorte foi o PCdoB estar coligado ao PR do campeão de votos.


Com todos esses detalhes, ainda não sabe de quem estamos falando? Então, vai a última pista. O slogan de Francisco Everardo virou notícia no País inteiro: "Vote no Tiririca, porque pior que tá, não fica!" Pois é, trata-se do palhaço, malabarista, cantor, compositor, humorista e, agora, deputado federal Tiririca. Que depois de receber os votos de mais de 1,3 milhões de eleitores, enfrentava a ameaça de cassação sob suspeita de ser analfabeto, o que é proibido por lei aos candidatos a cargos públicos.

Na realidade, o problema não está no candidato, mas na lei que rege as eleições. Que de tão frouxa e cheia de brechas, permite a inscrição de postulantes como Tiririca. Não concordo que ele seja a cara do nosso Congresso Nacional, como andam dizendo por aí. De fato, nem todos são palhaços ali. Mas se Tiririca teve a candidatura homologada pelo TRE, fez campanha livremente e foi sufragado nas urnas, tem o mesmo direito de assumir o mandato que os demais 512 colegas deputados.

Principalmente agora, quando a Justiça Eleitoral constata que ele, bem ou mal, sabe ler e escrever. Sem falar que a manutenção do mandato de Tiririca respeita a vontade soberana do eleitor. Não interessa se votou bem ou mal. Votou nele.


Resta esperar, portanto, que o mais novo político brasileiro cumpra a promessa repetida tantas vezes nos programas do guia eleitoral de TV, quando, com ar humilde, dizia: "O que faz um deputado federal? Na realidade, eu não sei. Mas vote em mim que eu te conto". Então conta, Tiririca.

2 comentários:

Mandrey disse...

disse tudo. Se Tiririca tiver acesso a esse teu texto ele vai mór-reeer de orgulho

Unknown disse...

Não foi destacado no artigo, no meu ponto de vista deveria, que foi o promotor eleitoral Maurício Antonio Ribeiro Lopes, do Ministério Público Eleitoral de São Paulo, quem apresentou o pedido de cassação do comediante, nordestino, Tiririca.

Um promotor que já foi processado por plágio em trabalho acadêmico, conforme li na imprensa.

Enquanto isso não apresentou, o referido promotor eleitoral, nenhuma representação contra, por exemplo, o Bispo de Guarulhos SP, que mandou uma gráfica imprimir 2,5 milhões de panfletos que ligavam o PT, no caso Dilma, a "defesa" do aborto, fato que gerou indignação e revolta de quem sabe que no Brasil a igreja é separada do Estado. Quem pagou esses panfletos?

Porque será que o promotor fez isso? Fica no ar minha estupefação!!!!