quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Abrindo o bico














Nos Estados Unidos, quando um presidente conclui seu segundo mandato não pode mais concorrer a cargos eletivos. Mais que isso, é praxe naquele país o ex-presidente se ocupar com fundações, diplomacia, caridade ou qualquer outro assunto que não a política eleitoral vigente.


No Brasil, a coisa acontece ao contrário. Oito anos depois de ter deixado o cargo, Fernando Henrique Cardoso continua falante. Durante os dois mandatos de Lula, não foram poucas as ocasiões em que o tucano ocupou a mídia nacional para polemizar com seu principal adversário.


Agora, encerrado o processo eleitoral, ei-lo de volta ao noticiário. Desta vez, porém, embora mantendo o estilo polêmico, FHC partiu para cima do seu próprio partido. Em entrevista à Folha de S. Paulo, na terça-feira, o ex-presidente resolveu revelar toda a insatisfação que sentiu ao longo da campanha com o candidato José Serra e o PSDB.


Um descontentamento, é bom que se diga, que tem algum fundamento. Entre outros pontos, FHC reclamou que seu governo ficou refém dos ataques petistas, sem ninguém que o defendesse. Sobretudo com relação às privatizações, alvo de duras críticas por parte de Dilma Rousseff.


Mas FHC foi duro, também, com o setor de comunicação da campanha tucana, que segundo ele ateve-se ao trinômio comum “saúde, educação, segurança”. Para o ex-presidente, tais assuntos são redundantes para o eleitor. “A verdadeira questão é como você transforma em problema algo que a população não percebeu ainda como problema. Liderar é isso. Abrir um caminho”, disparou.


A revanche de FHC, porém, ficou mais clara quando ele acusou o PSDB de ficar “enrolando” demais para anunciar a candidatura Serra. E estipulou um prazo que considera adequado para definir o nome para a sucessão de Dilma: 2012.


É claro que, ao pensar num prazo tão longo, o ex-presidente - que está longe da ingenuidade - sabe que está enterrando uma eventual candidatura do governador eleito Geraldo Alckmin, que jamais deixaria o mandato em São Paulo faltando mais de dois anos para a eleição.

FHC também sabe que sua sugestão fortalece o mineiro Aécio Neves, que como senador não teria impedimentos maiores para se colocar no páreo presidencial mesmo dois anos antes.


Mas o que FHC deixou transparecer mais claramente na entrevista foi o clima de divisão interna que cerca os tucanos neste pós-eleições. Principalmente quando ele próprio, como presidente de honra do PSDB, e depois de ter ocupado o maior posto a que um partido pode chegar no País, procura - com o tom crítico - se desvencilhar de qualquer culpa pela derrota do seu partido nas urnas.

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