terça-feira, 22 de dezembro de 2009











De boca fechada


Na ânsia de ser mais realista do que o rei, o senador Aloísio Mercadante (PT-SP) perdeu uma oportunidade de ficar calado. Em vez de fustigar os adversários tucanos, seguindo o exemplo do presidente Lula, seu líder maior, o bairrista Mercadante resolveu criticar um aliado, o deputado e presidenciável do PSB, Ciro Gomes. Como resultado, criou um caso desnecessário na base governista.


Aloísio Mercadante está inserido no grupo do PT paulista que não digeriu a transferência do domicílio eleitoral de Ciro Gomes, do Ceará para São Paulo, a pedido do próprio Lula. Ontem, em entrevista à Rádio Jornal, ele caprichou na ironia ao afirmar que Ciro, nascido em Pindamonhangaba (SP), "pegou o pau-de-arara ao contrário" ao se transferir para o Ceará.

Além da extrema grosseria com o aliado e de gerar a ira dos socialistas, a referência ao caminhão pau-de-arara soou como mais um sinal de preconceito de um paulista contra os nordestinos. É verdade que o pernambucano Luiz Inácio Lula da Silva migrou de pau-de-arara para São Paulo, onde lutou muito, fez carreira e chegou à Presidência da República. Mas não foi o suficiente para que a expressão deixasse de ser usada de forma excusa pelos nossos compatriotas do Sudeste.

No caso específico, porém, o que Mercadante conseguiu com a declaração "aloprada" - como resumiu o deputado Márcio França (PSB) aliado de Ciro Gomes em São Paulo - foi atrapalhar uma delicada costura de alianças que o presidente Lula vem trazendo na ponta dos dedos. Uma articulação que visa, inclusive, garantir que o próprio Mercadante não passe, em 2010, da cômoda posição de governista para a desconfortável categoria de oposição.

Hoje cedo, depois das repercussões das declarações, Mercadante procurou a Rádio Jornal para desfazer o mal-estar. E piorou as coisas, ao afirmar ter usado o termo "pau-de-arara" como forma de "combater o preconceito". Difícil explicar essa, não? Foi além: elogiou o presidenciável e seu partido e justificou ter ouvido a expressão da boca do próprio Ciro Gomes. Por isso, repetiu.


É fato que a candidatura presidencial do PSB já nasceu fazendo água, diante da força governista de Dilma. Mas Lula, habilidoso, contemporizou, pedindo que Ciro transferisse o domicílio eleitoral para São Paulo como opção para uma eventual candidatura ao governo daquele Estado. E desde então, tem tratado a questão com toda cautela, para não melindrar o PSB, um aliado de primeira linha.

Mesmo que esteja disposto a minar a postulação do socialista - o que pode fazer num piscar de olhos - Lula jamais demonstrou. Nunca tratou a iniciativa com desprezo, desdém ou preconceito. Pelo contrário, tem argumentado que um palanque duplo pode ser útil aos governistas em 2010, até para ajudar a vitória de Dilma Rousseff (PT).

Ontem, enquanto Mercadante largava sua abobrinha, Lula retomava a diplomacia. Em café da manhã com jornalistas, o presidente afirmou que, se perceber que o "jogo político" não comporta dois candidatos da base aliada, será leal o suficiente para negociar com o PSB a retirada de Ciro Gomes. É o máximo que ele, como coordenador do processo sucessório, pode chegar. Faltou dizer isso a Mercadante.

sábado, 19 de dezembro de 2009












Café sem leite

Ao que tudo indica, quem estiver esperando o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, na vice da chapa presidencial do colega paulista José Serra, pode sentar-se para não cansar. Uma leitura atenta das entrelinhas da carta do tucano mineiro, na qual ele anuncia sua desistência de concorrer ao Palácio do Planalto, expõe, sem deixar dúvidas, sua descendência do ex-presidente Tancredo Neves.

Sem citar nomes, nem se mostrar agressivo, Aécio revela uma mágoa grande com Serra, Fernando Henrique Cardoso e o restante da cúpula do PSDB, por não aceitarem a sua proposta de prévias internas, ainda em 2009, para a escolha do presidenciável do partido. O neto de Tancredo também é claro ao sinalizar que não ficará a reboque de Serra, assumindo uma candidatura a vice apenas para dar ao colega paulista a vitória que não aconteceu em 2002.

Na carta, Aécio sequer cita o nome de Serra, e promete apenas trabalhar pelas “bandeiras do partido”. Ora, se a principal delas é o poder central, nada demais fazer campanha para o correligionário. E Aécio fará. Mas em segundo plano. Porque seu maior interesse agora é eleger seu atual vice, Antônio Anastásia, como sucessor, e conquistar, junto com ele, uma vaga no Senado, para a qual – dizem as pesquisas – o governador mineiro é imbatível.

Em sendo assim, a esperada repetição da política do “café com leite” que marcou a primeira República – quando São Paulo, maior produtor de café do País, dividia o monopólio do poder com Minas, principal produtor de leite – não deve mesmo acontecer.

E se isso é ruim para os tucanos, pode piorar.

É que, ciente da indisposição de Aécio de compor a chapa serrista, o Democratas não perdeu tempo. Quer reeditar a vitoriosa dobradinha FHC-Marco Maciel de 1994 e 1998. Ontem mesmo, o presidente nacional do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), começou a sinalizar a vontade do partido de pegar uma carona na chapa tucana.


O problema é que, embora tenham se livrado do governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, que pediu desfiliação do DEM para não ser expulso, os escândalos do mensalão de Brasília, capitaneados por ele, serão certamente protagonistas de programas do horário eleitoral gratuito de rádio e televisão durante a campanha.

Isso torna a presença do DEM na chapa de Serra uma espécie de cavalo de tróia. Se, por um lado, o partido, embora minguando, ainda conta com algum lastro eleitoral, por outro traz na bagagem o fantasma de Arruda. Que pode, ou não, assombrar os tucanos. Mas depois de duas derrotas consecutivas para o PT de Lula, talvez eles não estejam dispostos a pagar para ver.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009












Fair play

Mesmo para os mais céticos – como eu – é preciso reconhecer que há um ar de mudança na política pernambucana. Pelo menos é o que revelam as ações e o discurso do governador Eduardo Campos (PSB). Ao inaugurar ontem o Hospital Miguel Arraes, uma das suas principais promessas da campanha de 2006, ele mandou vários recados aos adversários, mas sempre no tom de crítica elegante. Sem baixar o nível.

Ninguém se engane pensando que as obras inauguradas ficarão fora da campanha do próximo ano pela reeleição. Eduardo vai tirar o máximo de proveito delas. Mas a mudança é exatamente essa. Em vez de criar conflitos e medir forças pela imprensa com a oposição, o governador anda ignorando os ataques dos adversários e tentando mostrar serviço. Assim, arrebanha bônus eleitorais para trocar nas urnas e, de quebra, não enche o saco do eleitor, já saturado de dedos em riste e trocas de agressões, sobretudo quando invadem suas casas no horário eleitoral gratuito.

Resta saber é se esse fair play continuará assim. Afinal, no período de campanha propriamente dita, os ataques ficam liberados – tenham eles fundamento ou não – e aí o sangue ferve, a cabeça esquenta e as pessoas perdem as estribeiras.

Mas por enquanto, ao que parece, a intenção de Eduardo não é essa. Nem a do seu virtual adversário na disputa pelo governo, o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB). Os dois têm mantido uma política de elegância, embora com recados críticos de parte a parte, mas sem sair da linha.

Uma atitude bem que poderia ser seguida por aliados dos dois lados. A exemplo do deputado Armando Monteiro Neto (PTB) e do senador Sérgio Guerra (PSDB), que disputarão o Senado no próximo ano, mas já anteciparam a briga.

Os dois políticos têm ocupado largos espaços do noticiário nos jornais e rádios – e aí vai uma autocrítica – para se atacar mutuamente. E num nível que deixa muito a desejar.

Todo o clima quente se deve às pesquisas realizadas nos bastidores, para consumo interno. Elas têm indicado que Monteiro e Guerra estão na briga por uma das vagas no Senado. A outra, em tese, deve ficar com o senador Marco Maciel (DEM). Que, sem mover uma palha para brigar com ninguém, nem reagir a qualquer ataque, vai consolidando uma invejável longevidade no poder. O que prova que nem sempre as agressões levam à vitória.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009















Tudo a ver com 2010*

Não é novidade que o ex-prefeito João Paulo se afastou do atual prefeito, João da Costa, contrariado com algumas decisões tomadas por ele na PCR. Embora ciente de que o ex-padrinho político foi o principal responsável pela sua eleição, o prefeito já tinha advertido que não seria apenas um continuador da gestão de João Paulo. Pretendia impor sua marca própria.

O troco do ex-prefeito – e potencial candidato petista ao Senado – veio rápido. Ele descartou João da Costa do seu núcleo decisório, agora formado apenas pelos ex-secretários Lygia Falcão e Múcio Magalhães, e o isolou dentro da corrente que lidera no PT.

A iniciativa, porém, pode render a João Paulo um duro revés. Antenado com os acontecimentos, o secretário estadual das Cidades, Humberto Costa, não esperou a briga esfriar para ir buscar uma aproximação com o prefeito. Iniciou um “namoro” visto no próprio PT como inusitado. Afinal, João da Costa era o maior pupilo de João Paulo. E, como se sabe, o ex-prefeito e o secretário comandam grupos rivais, que há anos disputam a hegemonia do partido.

Nas últimas semanas, Humberto fez vários acenos em direção ao prefeito, elogiando sua gestão, classificando-o como uma liderança emergente no PT e aparecendo publicamente ao seu lado.

Agindo assim, além de atrair para o seu grupo um bom potencial de votos metropolitano, Humberto – que também não descarta uma candidatura de senador – enfraquece a corrente de João Paulo. Que tem no Recife sua principal base de sustentação.

* Texto publicado na coluna Cena Política, do JC, em 14/12/09


sábado, 12 de dezembro de 2009












A céu aberto

Depois das denúncias contra o governador José Roberto Arruda, será que há tempo para mais um escândalo no País ainda este ano? A pergunta tem lógica, se levarmos em consideração a quantidade de sujeira desencavada ao longo de 2009.

Quem se arriscar a fazer comparativos dos escândalos a cada ano, envolvendo a classe política, verá que o número cresce substancialmente, enquanto o nível dessas denúncias desce vertiginosamente.

Entidades ligadas à transparência, à ética e à moralidade se esforçam, mas nem elas conseguem acompanhar todos. O mesmo acontece com os órgãos institucionais de controle, como Ministério Público, Controladoria Geral e Polícia Federal.

Aliás, é sobre o Ministério Público do Distrito Federal que recaem as derradeiras denúncias da semana. A revista Época traz reportagem revelando que procuradores e promotores são investigados no inquérito da Operação Caixa de Pandora – o mesmo que pegou Arruda – por suspeitas de corrupção.

Em alguns momentos, a gente termina sendo levado a imaginar se vai sobrar alguém íntegro num País tão necessitado de ética e moral. Esta semana, o presidente Lula decidiu que corrupção tem que passar a ser tratado como crime hediondo.

Lula demorou quase oito anos de mandato para vir com o mais puro proselitismo político. Já existem no Congresso Nacional vários projetos tentando classificar a corrupção como crime hediondo e inafiançável.

E ele sabe disso. Assim como sabe que sua proposta requentada não tem chances de passar nas votações em plenário, numa Casa de corporativismo onde muitos dos autores desse “crime hediondo” – vários deles aliados do presidente – continuam livres para cometê-los.

Sendo benevolente, talvez ao promete classificar a corrupção como crime hediondo, Lula possa ter imaginado tirar Brasília do esgoto a céu aberto em que está afundada. Mas a missão é tão árdua quanto a promessa que ele fez esta semana, lá pelas bandas do Maranhão, de tirar o povo pobre da merda.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009















De olhos bem abertos

Ontem foi o Dia Internacional contra a Corrupção. Até quis escrever sobre o assunto, mas o excesso de atividades impediu. Talvez tenha sido melhor, porque assim pude aguardar informações sobre as manifestações pelo País acerca do tema, tão importante nas vidas dos cidadãos.


A frustração, porém, foi total. Pouquíssimas notícias a respeito foram publicadas nos meios de comunicação. Quase nenhum debate. Da parte de políticos, mesmo aqueles que integram frentes de combate à corrupção, não vi nada.


Um registro, apenas, foi feito por funcionários dos órgãos de controle e fiscalização – Ministério Público e Controladoria Geral – que distribuíram panfletos ao povão em pontos de concentração no centro do Recife. Foi o máximo que encontrei nos jornais de hoje.


O que essa indiferença leva, forçosamente, a pensar? Que dinheiro público metido nas cuecas e meias de políticos e servidores tornou-se rotina? Que construir castelos não declarados à Receita Federal virou prática aberta? Que pagar propina a legisladores para aprovar projetos é a única forma de garantir a governabilidade? A apatia sugere que atos assim já não surpreendem, nem causam mais indignação a ninguém.


Num País como o Brasil, uma data como essa de ontem – por mais que seja apenas um dia – deveria gerar grandes debates, atos públicos, manifestações da sociedade civil. Começo a crer na acomodação pura e simples. Ou pior, na rendição.


Como que por encomenda, duas semanas antes da data – acordada por 110 países, no México, como forma de implementar ações de combate à corrupção em nível global – um novo caso explodiu nas telas de todo o Brasil. Um respeitável governador, até cotado para disputar a Vice-Presidência da República, flagrado num ato de corrupção ativa, daqueles de arrepiar os cabelos.

O tal governador deve ser expulso do partido amanhã. Pode até sofrer impeachment. Mas o grave é que o caso é “apenas mais um”, uma reprise de outros tantos. Sem ir longe, alguém ainda lembra do vídeo com o funcionário dos Correios recebendo uma propina de três mil reais? Aquele que deu origem ao escândalo do mensalão, envolvendo o governo do PT.


De lá para cá, vários outros vídeos e gravações clandestinas fizeram a festa dos caçadores de corruptos. E também dos demagogos de plantão. Mas e a população? Onde estão as grandes manifestações de rua, passeatas, atos públicos? Todos estão cansados, ou passaram a conviver com a esbórnia de dinheiro público como algo normal na rotina do País?


Em sendo assim, para quê precisamos mais de frentes de combate à corrupção? Ou de órgãos fiscalizadores? Ou mesmo de Justiça?


Graças a Deus, para alguns poucos, continua sendo difícil engolir tantos sapos. E, simplesmente, colocar a cabeça sobre o travesseiro e fechar os olhos à toda essa sujeira.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009















Cultura da permissividade

Combinada previamente ou não com o governador Eduardo Campos, a saída do secretário de Turismo Sílvio Costa Filho da equipe era inevitável. As denúncias de superfaturamento de shows e de eventos-fantasmas, bancados pelos cofres públicos – ou seja, dinheiro do contribuinte – tomaram uma proporção tamanha que ficou difícil de explicar.

E as explicações que vieram até agora da Secretaria de Turismo e da Empetur não convenciam ninguém. Vai ser preciso mais que isso. Uma investigação profunda dos órgãos competentes, até que alguém possa ser inocentado definitivamente.

O fato é que a permanência de Silvinho no cargo ameaçava se transformar num verdadeiro arsenal para municiar a oposição em pleno ano eleitoral. E Eduardo Campos sabe bem o que é isso.

Ainda está bem viva a lembrança do caso dos precatórios, transformado em escândalo pela então oposição ao governo Miguel Arraes em 1998, que se configurou na principal arma contra a tentativa de reeleição do governador naquele ano.

Não dá para repetir velhos erros. Cabeças precisavam rolar. E rápido. O governo estava na fogueira há uma semana, com as labaredas das denúncias cada vez mais altas.

Daí a se instalar uma Comissão Parlamentar de Inquérito na Assembléia Legislativa, para investigar o caso dos shows, é outra conversa. Nem a própria oposição está fechada em torno da proposta. CPI em ano eleitoral é um perigo para os políticos investigados e um prato cheio para quem investiga. Em todas elas, sempre há holofotes demais.

Mas quem vai decidir o assunto não são os adversários do Palácio do Campo das Princesas. Uma comissão como essa só será aprovada se o governador assim desejar. Com ampla maioria na Casa, Eduardo já avisou aos aliados que só permitirá a investigação se ela abarcar, também, as ações na área de cultura da administração anterior, comandada pelo seu arqui-rival Jarbas Vasconcelos. Assim, pretende rebater de pronto qualquer tentativa de eleitoralizar o caso.

Em 2002, no final do seu segundo mandato, Jarbas – então com larga maioria na Assembléia – tratou de abafar a tentativa de criação de uma CPI da Cultura, proposta pelo PT, com o apoio dos socialistas. Assim como agora, era ano eleitoral. Na época, teve até deputado governista se arriscando a assinar, mas a pressão foi tanta que os “assanhados” foram obrigados a recuar e retirá-las. No final, não houve número necessário de assinaturas para votar a proposta.

A dificuldade de se investigar denúncias nessa área, aliás, só vem a confirmar o que já se sabe: a cultura, no setor público ou privado, é um dos ambientes mais permissivos aos gestores – sejam eles honestos ou não. Há inúmeros incentivos governamentais para a liberação de verbas para projetos, e uma certa frouxidão nos instrumentos de fiscalização e prestação de contas.

Afinal, ao contrário de outras áreas mais “palpáveis”, cultura não se quantifica. E não existem tabelas para pagamento de cachês aos artistas. Uma grande brecha para a malversação de recursos. Mas isso, só quem pode provar é a Justiça.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009















Sinais dos tempos


Para quem já foi o maior partido governista do País durante muitos anos, o desfecho melancólico da gestão do único governador do DEM, José Roberto Arruda, é um sinal de alerta à legenda. A surpresa não foi apenas a constatação de corrupção no bem avaliado governo do Distrito Federal, mas o método utilizado.


Afinal, que diferença faz colocar dinheiro nas meias ou na cueca, como recentemente fizeram filiados do PT no chamado escândalo do mensalão, em 2005? Escândalo, aliás, que municiou o DEM nos ataques à gestão petista.


Mas quando tudo se nivela por baixo – trágica constatação da atual política brasileira – o que fazer?


Quando ainda eram PFL, os dirigentes partidários já sentiam as dificuldades da evolução dos tempos. A solução encontrada foi trocar a sigla e adaptar os programas. O velho partido foi buscar na juventude a sua nova bandeira, na tentativa de se firmar como oposição.


Mas antigos vícios continuavam assombrando o Democratas. Dispostos a se tornar o principal partido adversário do governo do PT, eles não conseguiram deslanchar. O longo tempo vivido nas bases governistas dificultava o novo cenário.


Afinal de contas, o DEM é governo na sua essência. O partido deriva da antiga Aliança Renovadora Nacional (Arena), criada pela ditadura militar – a partir da imposição do bipartidarismo – para hospedar os seus apoiadores. Com o declínio do regime e a restauração das liberdades partidárias, transformou-se no PDS, mas se manteve na base de sustentação do governo.


Veio a redemocratização, e com ela um racha entre os que defendiam o status quo e aqueles que enxergavam um comprometimento fatal da ditadura. Estes pularam do barco para criar a Frente Liberal, aliaram-se ao PMDB e ajudaram a garantir a vitória do peemedebista Tancredo Neves no Colégio Eleitoral. Surgia o PFL. Ainda de perfil governista.


E foi sob essa sigla que os hoje democratas apoiaram as gestões de José Sarney (PMDB) e Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Numa conta rápida, são duas décadas de governos militares, mais cinco anos de Sarney e oito de gestão tucana. Ao todo, o partido permaneceu cerca de trinta anos no poder.


A vitória de Lula em 2002 teve o esperado efeito de uma bomba sobre o DEM. Nos últimos sete anos, a legenda tentou a todo custo encontrar seu caminho como oposição. Mas o bastão foi abarcado antes pelos tucanos.


Destronado pelos petistas, o PSDB não teve o mesmo problema dos aliados democratas. Seus fundadores traziam na bagagem a experiência da oposição no MDB e PMDB, sigla que deu origem à legenda social-democrata.


Agora, além das dificuldades impostas pela redução no tamanho, o DEM chega à encruzilhada da corrupção entre seus pares. Atos que eles próprios denunciaram sobre os petistas.
A única solução, depois de tudo, para que o partido garanta alguma chance de sobrevivência nas eleições do próximo ano é cortar na própria carne – já bem franzina – expulsando o seu único governador, protagonista do mensalão planaltino.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009











Um rompante e tanto*


É verdade que a decisão do ex-prefeito do Recife, João Paulo (PT), de entregar o cargo de secretário estadual de Articulação Regional deixou muita gente espantada. Mas dois petistas foram pegos especialmente de surpresa: o presidente da Câmara do Recife, Múcio Magalhães, e a ex-secretária-adjunta Lygia Falcão.

Pessoas próximas relatam que no sábado à tarde – já com a cabeça mais fria – João Paulo teria reunido os dois auxiliares em sua casa para pedir desculpas pelo rompante. Na conversa, teria explicado a Lygia e Múcio suas razões, afirmando estar cansado do embate com o secretário de Desenvolvimento Econômico, Fernando Bezerra Coelho, pela vaga de candidato ao Senado na chapa de Eduardo Campos (PSB), e dito que não estava disposto a levar a briga adiante, sem que o governador colocasse um freio de arrumação.

Embora tenha admitido aos assessores que tomou a decisão de forma unilateral, João Paulo recebeu, mais uma vez, um aval positivo do Cosmo. É que o astrólogo Eduardo Maia – guru do petista – também teria estado por lá no sábado para fazer nova leitura dos astros, que confirmaram as vantagens políticas do ex-prefeito se sair candidato a deputado federal em 2010.

Eduardo Campos, porém, já fala na manutenção do projeto da chapa. Embora pessoas próximas afirmem que poucas coisas o irritaram tanto quanto a iniciativa de João Paulo, ele não quer perder totalmente o controle sobre o aliado petista, que é dono de um perfil metropolitano absolutamente necessário ao sucesso da reeleição. Só falta o governador dizer o que vai fazer com os planos de Bezerra Coelho.

* Texto publicado na coluna Cena Política, do JC, em 23/11/09


sexta-feira, 20 de novembro de 2009












Cortando as rédeas


Se a intenção do ex-prefeito João Paulo (PT) era demostrar independência do governador Eduardo Campos (PSB), escolheu um momento adequado para pedir demissão da Secretaria de Articulação Regional. E mostrou que a cada dia que passa, aprende mais sobre raposismo político.

Embora tenha entregue o pedido de exoneração na quarta-feira (18), o petista deixou para anunciar sua saída no dia em que Eduardo iniciou a sua quarta caravana de visitas a cidades do interior. Com o comandante ausente do Palácio, ele atraiu todas as atenções na cena política, e deixou uma batata quente nas mãos dos articuladores do governo.

Ao pedir demissão agora, João Paulo desfaz a tese - muito comentada desde julho passado, quando foi convidado para assumir a secretaria - de que o governador teria dado um "nó" no PT, ao colocar sob suas rédeas os dois principais líderes do partido, Humberto Costa e o próprio ex-prefeito.

Desde que assumiu a pasta, o petista vinha galgando espaço político pelo Estado. Mas enxergou que para atingir seus objetivos teria que desfazer a imagem de que estava sob controle de Eduardo Campos.


Há um segundo motivo para a decisão, interlilgado ao primeiro: candidato declarado ao Senado pelo bloco governista em 2010, João Paulo vinha trombando com o secretário de Desenvolvimento Econômico, Fernando Bezerra Coelho, do PSB. Os dois brigavam por uma das vagas na chapa, já que a outra, segundo consta, estaria destinada ao petebista Armando Monteiro Neto.

O que se sabe é que João Paulo não estava satisfeito com a postura do governador, que, na sua opinião, estaria deixando correr solta essa disputa interna, sem se mobilizar para barrar as pretensões de Bezerra Coelho.


O fato é que o acontecimento expõe uma crise política no governo, e causa um abalo na relação entre Eduardo e o PT, principal aliado do PSB, cujo apoio é importante para garantir a reeleição do governador. Ao tomá-la, João Paulo deve estar, inclusive, pronto para optar por uma candidatura à Câmara dos Deputados.

E é provável que ele esteja mesmo apostando suas fichas nessa alternativa, talvez imaginando sair das urnas como o deputado federal mais votado do Estado em 2010. Até porque, quem conhece Eduardo Campos sabe que vai ser muito difícil ele vir a convocar o ex-secretário para compor a sua chapa majoritária depois de todo esse tumulto.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009













Blockbuster eleitoral

Ainda não vi. Portanto, não posso dizer se gostei ou não. Mas seja bom ou ruim, certamente o filme Lula, o filho do Brasil já cumpriu uma das suas funções: causar polêmica e despertar a curiosidade das pessoas por todo o País.

As cenas de tumulto registradas ontem por vários jornalistas no Teatro Nacional de Brasília, durante a avant-première da película, comprovam a máxima de que nunca antes na história desse país um presidente da República atraiu tantas atenções sobre si mesmo.

Seja pela sua história de vida, seja pelas suas ações e seu comportamento incomum no governo, Lula já seria merecedor de um “candango”. O “cara” vai de um bolsa-família de 50 reais à discussão sobre política internacional com a mesma facilidade com a qual transforma uma ação de governo em palanque eleitoral. E com a mesma facilidade, dribla o discurso das oposições e consegue fazer seu nome aparecer centenas de vezes no noticiário nacional.

Pode-se até questionar se o filme do diretor Fábio Barreto tem ou não caráter eleitoreiro, ou se vai ajudar a bombar ainda mais a popularidade presidencial e impulsionar a candidata palaciana à sucessão, a ministra Dilma Rousseff.

O que ninguém mais duvida é de que Lula, o filho do Brasil, vai se tornar um arrasa-quarteirão nos cinemas a partir de janeiro de 2010 – ano de eleições presidenciais – quando chega aos cinemas do País. E que, acostumado a tirar proveito de situações mínimas, Lula, o filho de dona Lindu, certamente colherá dividendos políticos com todo esse frisson.

terça-feira, 17 de novembro de 2009











O jogo dos reservas

Alguém já falou que no futebol, sempre que os reservas elogiam publicamente os titulares, no fundo estão torcendo para que quebrem a perna e eles possam, enfim, entrar em campo. Na política a coisa não é tão diferente.

Não se trata de torcer por contusões ou fraturas, mas chega perto, se formos medir o comportamento de alguns “reservas” na disputa presidencial.

Hoje, há dois claros exemplos. No banco das oposições, o governador mineiro Aécio Neves, da equipe do PSDB, não esconde de ninguém o seu desejo de entrar em campo. Pelo contrário, quer apressá-lo.

Marcou até data-limite para que o titular tucano na disputa presidencial, o governador paulista José Serra, anuncie que é candidato. Se até janeiro o colega não expuser publicamente suas pretensões, ele, Aécio, vai mudar de modalidade e se lançar candidato ao Senado por Minas Gerais.

No banco governista, o deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE) é mais direto. Embora não tenha sido escalado pelo Palácio do Planalto como atacante titular na disputa, Ciro se rebelou contra o treinador Lula e expôs publicamente seu desejo de entrar em campo a todo custo.

Há cerca de dois meses, o parlamentar cearense – nascido em Pindamonhangaba, interior paulista – se escalou para o clássico de 2010, que no time do Planalto tem como titular a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT).

Sob o argumento de que a equipe atuaria melhor com dois atacantes, Ciro se apresentou para o jogo. Mas, atendendo a um pedido do “professor” Lula, fez a concessão de transferir seu domicílio eleitoral para São Paulo, com a justificativa de que poderia ser escalado para jogar na segunda divisão das eleições, disputando o governo daquele Estado.

Aécio, e Ciro, porém, dão sinais de que estão perdendo a paciência com a demora de seus dirigentes em definir as escalações. Hoje, os dois reservas se encontram num almoço em Minas Gerais para “discutir o Brasil”. Na verdade, vão debater estratégias eleitorais e analisar em que pé andam suas condições de ser ou não convocados para a partida do próximo ano.

O que há de novidade nisso? É que, enquanto no futebol dois adversários não costumam se falar antes do jogo, e muito menos elaborar jogadas ensaiadas em conjunto, na política isso é perfeitamente possível.

Embora governista, Ciro Gomes é bem visto pelos tucanos mineiros. Seu partido, o PSB, fez aliança com o PSDB na disputa municipal do ano passado e elegeu o prefeito da capital Belo Horizonte, o socialista Márcio Lacerda.

O diálogo franco entre Ciro e Aécio coloca sob pressão os titulares da peleja – Serra e Dilma – porque ambos precisam dos votos de Minas. A grande torcida mineira é o segundo maior colégio eleitoral do País, com cerca de 14 milhões de votantes, e as pesquisas têm apontado Aécio como o melhor governador do País.

O próprio presidente Lula já admitiu que uma candidatura do tucano mineiro seria mais difícil de enfrentar que a do correligionário paulista.

Já Ciro Gomes, por enquanto, parece estar sob controle do treinador. Mas sua disposição de ser candidato e seu temperamento difícil ainda podem render muitas dores de cabeça aos cartolas da equipe governista.



quinta-feira, 5 de novembro de 2009


















Acima do bem e do mal

Ao descumprir a decisão do Supremo Tribunal Federal de cassar o mandato do senador Expedito Júnior (PSDB-RO) – acusado de abuso de poder econômico e compra de votos na eleição de 2006 – o Senado brasileiro dá mais uma demonstração de que continua se colocando acima das leis que regem o País.


O Supremo, até onde se sabe, tem o papel de guardião da Constituição Federal. Aquele conjunto de leis aprovado pelo Senado e Câmara dos Deputados, que parece só não valer para eles próprios. Para os parlamentares brasileiros, o corporativismo é maior que a própria Carta. A ordem é proteger os seus, não interessando se são comprovadamente culpados.

Recentemente, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), escapou das denúncias de abuso de poder político e econômico. Seu antecessor no cargo, Renan Calheiros (PMDB-AL), saiu impune das acusações de que recebia propina de um lobista para pagar pensão a um filho fora do casamento.

Dois outros ex-presidentes da Casa também escaparam da guilhotina: Antônio Carlos Magalhães (DEM-BA) – já falecido – violou o sigilo do painel de votações. Antes que fosse cassado, renunciou. O mesmo fez Jader Barbalho (PMDB-PA), após a comprovação de denúncias de desvio de verbas da Sudam.

Se presidentes do Senado não são punidos por seus crimes, é até natural que os colegas tentem preservar o pescoço de Expedito Júnior.

Dessa vez, porém, há um fator extra: os senadores andam revoltados contra o Supremo, porque a Corte tem legislado sobre questões eleitorais. Avaliam que o Judiciário estaria extrapolando suas funções e interferindo nas atribuições constitucionais do Legislativo.

Os senadores não explicam, porém, que os ministros do STF só avocaram esse poder para si porque o Congresso, a quem caberia produzir tais leis, não as fez. A reforma política, por exemplo, dorme nas gavetas da Casa porque as mudanças propostas no projeto não interessavam à maioria dos parlamentares. Simples assim.

É por essas e outras que políticos sérios, que discordam do comportamento da maioria dos colegas, estão deixando a vida pública. Para esse pequeníssimo grupo, o corporativismo, a corrupção, o nepotismo e o desprezo às leis são inaceitáveis. Mas como se sentem impotentes para dar combate a esse vício, sua única saída é abandonar o barco. Até porque, ao contrário dos colegas, para eles a generalização incomoda e macula o histórico.

terça-feira, 3 de novembro de 2009











Nunca antes na história deste Estado...


O presidente Lula volta hoje a Pernambuco para mais uma atividade política. Dessa vez, vai falar no Congresso Nacional de Saúde Coletiva, sobre Josué de Castro e a fome no Brasil. Permitam-me o trocadilho infame: um prato cheio para Lula! Ele adora o tema. E adora personalizá-lo. Focar nele a sua própria história.

Esta será a sétima visita presidencial, somente este ano. Ano em que Lula deflagrou de vez a campanha da ministra Dilma Rousseff à sua sucessão. E Dilma – ainda pouco conhecida do povão, segundo as pesquisas – estará lá, no Centro de Convenções, ao lado do chefe e maior cabo eleitoral.


Antes da visita de hoje, Lula já esteve em Pernambuco outras seis vezes, para participar de ações do arco da velha. Já pilotou tratores na inspeção às obras da BR 101, presenciou um “batimento de quilha” de um navio em produção no Estaleiro de Suape, comeu mortadela produzida aqui, inaugurou escolas técnicas, laboratório de rádio-fármacos, moinho de trigo. Todos já vinham em funcionamento, é verdade. Mas isso é apenas um detalhe.


Sim, claro, teve a “inauguração” do Parque Dona Lindu – aquele que ainda não foi entregue à população. O presidente escolheu Fernando de Noronha para passar o réveillon. Também já sobrevoou a construção da Ferrovia Transnordestina. Recentemente, ele inspecionou os canteiros de obras da transposição do Rio São Francisco, em solenidades tão cinematográficas que a oposição chiou. Tinha sempre Dilma ao seu lado.


Mas o fato é que, se Lula está ou não em campanha, isso é o que menos importa agora ao governador Eduardo Campos (PSB). Este sim, está em campanha pela reeleição. E tem colhido mais dividendos eleitorais a cada visita presidencial.


Eduardo brilhou em todas elas, tirou proveito político, mostrou suas obras – muitas realizadas graças ao dinheiro federal do PAC – e, melhor que tudo, mostrou a si mesmo, ao lado de um presidente que tem aprovação popular estourando a casa dos 90%.


Nunca antes na história deste País um presidente visitou tanto Pernambuco. E nunca antes na história deste Estado, um governador foi tão prestigiado pelo chefe da Nação.


Mexendo na memória, ficou até difícil lembrar das poucas vezes em que Fernando Henrique Cardoso (PSDB) esteve por aqui. Fosse na época de Miguel Arraes (PSB) – que lhe fazia oposição – fosse com Jarbas Vasconcelos (PMDB), um grande aliado.


Essa movimentação de Lula deixa a oposição estadual louca. Sem ter sequer um candidato a governador definido para mostrar ao povo, perde tempo e terreno e ainda tem que engolir o teatro político-eleitoral do bloco governista, sorridente nas fotos ao lado do presidente.


Deve ser mesmo difícil fazer oposição num cenário tão adverso. Talvez seja por isso que Jarbas prefere guardar sua munição para disparar em Brasília, na tribuna do Senado.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009










Um mineiro inquieto


Paciência tem limites. Esse foi o recado, curto e grosso, enviado à cúpula do PSDB pelo governador de Minas Gerais, Aécio Neves. Um dos nomes do partido para a disputa presidencial de 2010, Aécio vinha aguardando disciplinadamente que os tucanos escolhessem entre ele e José Serra (SP) quem vai enfrentar a candidata petista Dilma Rousseff. Esta semana, porém, deu um ultimato à legenda. Se em janeiro não houver definição, vai se lançar candidato ao Senado.

Ao contrário do seu colega mineiro, a situação de Serra é confortável. Foi ministro da Saúde de FHC e candidato à Presidência da República em 2002. Como resultado, tornou-se bem mais conhecido dos eleitores brasileiros. Outra vantagem do tucano paulista é que ele cumpre o primeiro mandato no governo de São Paulo, e caso resolva não concorrer ao Planalto, tem pela frente a possibilidade de disputar uma reeleição razoavelmente tranquila.

Aécio, por sua vez, está terminando o segundo mandato consecutivo no governo de Minas. E quer alçar voos mais altos. Tem a vantagem de ser mais jovem que o correligionário paulista. Ou seja, pode esperar um pouco mais para tentar o cargo máximo da Nação. Mas ele acredita que sua hora é agora.

Por tudo isso, o tucano mineiro tem pressa. O paulista, não. Embora esteja aparecendo como primeiro colocado em todas as pesquisas sobre a disputa presidencial realizadas até agora, Serra prefere aguardar até março antes de anunciar sua decisão.

Nesse período, vai analisar o desempenho de Dilma - empinada publicamente pelo presidente Lula como candidata praticamente todos os dias - e aguardar o desfecho da disputa interna no bloco governista, travada entre a ministra da Casa Civil e o deputado federal cearense Ciro Gomes, que também postula uma candidatura ao Planalto, contra a vontade do aliado PT.

O jogo de Serra parece simples: se em março ele não sentir firmeza no palanque das oposições, ou achar que suas chances de vencer são muito reduzidas, terá pavimentado mais da metade do caminho da reeleição para o governo de São Paulo. Afinal, mesmo negando - por enquanto - a candidatura presidencial, o governador tem ocupado generosos espaços na mídia. Serra está valorizando o passe.

Talvez seja por isso que o PSDB - cuja maioria é declaradamente pró-Serra - tem sido tão complacente diante desse debate interno. Inclusive evitando a todo custo promover as prévias dentro do partido, que tanto Aécio defende, para a escolha do candidato.

A indefinição está, inclusive, dificultando as alianças do PSDB em vários Estados, onde opositores de Lula aguardam uma definição do candidato a presidente para formar os palanques locais.

O ônus dessa demora provocada por Serra, porém, pode ser maior do que os tucanos contabilizam. Se chegarem em março sem uma definição, pode ser tarde para recuperar o terreno perdido para Dilma, Ciro e até Marina Silva (PV). E a partir daí, vai ficar bem mais difícil para Aécio, que ainda precisa rodar muito o País para se tornar conhecido do eleitor. Enquanto Serra vai ficar assistindo de camarote.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009









Unidade acima de tudo


Que os partidos de oposição em Pernambuco estão em situação incômoda para 2010, é inegável. Lutam contra máquinas fortes, pilotadas pela dobradinha PT/PSB e alimentadas com o combustível da alta popularidade dos governantes.

Mas as dificuldades apenas começam por aí. Não bastasse o campo governista estar forte e coeso, na oposição a situação é de fragilidade. Tucanos e democratas se desentendem, o PMDB se mantém em compasso de espera pela decisão do seu cacique maior, Jarbas Vasconcelos, e o PPS não tem força política para levantar sozinho uma bandeira de combate às gestões de Eduardo Campos e de Lula no Estado.

Há, porém, um novo elemento que só tende a provocar mais ansiedade nos líderes oposicionistas locais. Ao contrário de um desfecho amistoso como apregoava antes, o PSDB nacional anda às voltas com um acirramento interno entre os defensores das candidaturas dos governadores José Serra (SP) e Aécio Neves (MG) à Presidência da República.

Com a tese da chapa puro-sangue ganhando corpo, os tucanos mineiros ameaçam se rebelar. Não querem nem ouvir falar de Aécio na vice de Serra, embora a ideia tenha sido bem aceita, segundo pesquisa encomendada pelos serristas.

O que isso tem a ver com Pernambuco? Bem, sem munição local para enfrentar a candidatura de Eduardo à reeleição, a oposição pretende nacionalizar a campanha, vincular os palanques estadual e nacional anti-Lula. E para isso, é necessário, no mínimo, unidade interna. Algo que fica mais distante a cada dia que passa.

* Publicado na coluna Cena Política, do JC, em 26/10/09


sexta-feira, 23 de outubro de 2009











Desequilíbrio entre poderes


Que o presidente Lula é uma figura singular, ninguém tem dúvida. Mas pode-se dizer o mesmo do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes. Ambos sofrem de uma incontinência verbal que ultrapassa os limites do cargo.

O problema de Lula é agir forma explosiva e espontânea, quando grita aos quatro ventos que é tão ou mais popular que Getúlio Vargas e JK, e chega a fazer comparações com Jesus Cristo. As reações de Mendes são diferentes, pensadas, críticas. E todas dirigidas a Lula.

Exatamente por isso a questão torna-se preocupante. Afinal, são dois chefes de poder, que pela altura do cargo precisam manter o equilíbrio. Como cidadão, Mendes tem o direito de opinião. Mas a forma como as vem externando o distanciam da postura de magistrado.

O presidente do STF voltou à carga, criticando as viagens do desafeto Lula pelo Brasil. Mendes reconhece que viaja muito pelo País - e com dinheiro público - mas não para fazer campanha eleitoral fora de época.

Ora, e Lula está em campanha? E se está, cabe ao líder da magistratura do País denunciar? Ou seu papel seria o de julgar ações nesse sentido, como a que foi impetrada pela oposição no começo da semana, para que a Justiça investigue se a vistoria de Lula e comitiva às obras no Sertão de Pernambuco se configura em crime eleitoral?

"Não tenho nada contra viagens. Ele que viaje bastante, não há nenhum problema quanto a isso. Estou dizendo é quando se transforma eventual fiscalização de obra ou suposta fiscalização de obra em comício ou manifestação eleitoral. Foi essa a minha observação", disse Mendes. Ou melhor dizendo: acusou Mendes.

Da mesma forma que cabe a Lula manter o equilíbrio da administração e não usá-la como trampolim para candidato A ou B, ao presidente do STF cabe ter mais cuidado com suas declarações, para garantir o equilíbrio da balança da Justiça. Não é porque um descumpre sua função que o outro deve seguir o exemplo.








Ah, esses fariseus...

O presidente Lula não lançou moda nem inventou nenhuma novidade em termos de alianças políticas. Antes dele, tucanos e democratas deram-se as mãos para garantir o poder. Mais atrás, em 1985, PMDB e PFL – antigos MDB e dissidentes da Arena – formaram a Aliança Democrática para eleger Tancredo Neves presidente no Colégio Eleitoral, contra o candidato da ditadura que o primeiro combatia e o segundo apoiava.

Vasculhando mais fundo a história, Getúlio Vargas foi às turras com os comunistas, cassou o registro do Partidão e perseguiu seus representantes. Logo depois, se aliou a eles para se manter no poder. E por aí vai.

Vejamos o passado recente em Pernambuco. Um dos principais líderes da oposição aos governos da ditadura, Jarbas Vasconcelos (PMDB) firmou um acordo de irmãos com os antigos adversários do PFL para se eleger governador. Antes dele, Miguel Arraes havia acomodado sob suas vistas muitos representantes do coronelismo patriarcal do Estado.

Alianças são parte da história da política. E no Brasil, ideologias e programas sempre ficaram em segundo plano. Diferentemente de países como os Estados Unidos e alguns da Europa, onde lado é lado, e ponto final.

O problema não reside nos acordos. Se são questionáveis, que se questione os demais. Reside, isto sim, na verborragia presidencial, qualidade inabalável de Lula. Não há limites diplomáticos, digamos assim, para as declarações do líder da Nação. Nem há quem o advirta de que misturar política e religião é um erro mais grave que crime eleitoral.

No seu universo político particular, Lula nem liga. Vai falando. Comparações pessoais com Juscelino Kubitschek ou Getúlio Vargas já são corriqueiras. Semana passada, no Sertão de Pernambuco, ao destacar a importância das obras da transposição do rio São Francisco, ele se colocou no patamar de Franklin Roosevelt, ao compará-las com o histórico programa do New Deal, que incluía um plano de desenvolvimento para o Vale do Mississipi.

Mas quando afirmou que no Brasil até Jesus Cristo faria alianças com Judas para governar, Lula exagerou, comparando-se ao filho de Deus. Blasfêmia? Talvez, mas não se analisado da forma como o nosso presidente vê as coisas. Por esse prisma, a comparação não está de todo errada, porque Lula não é o primeiro governante brasileiro a vender a alma ao diabo para garantir popularidade.

A diferença é que os outros fazem, mas não dizem abertamente. Sabem que declarações assim fazem o puritanismo e espírito conservador brasileiro saltar dentro das calças e partir para o contra-ataque.

Foi o que fez a CNBB. A organização dos bispos protestou imediatamente, lembrando que, ao contrário de Lula, Cristo não se aliou aos fariseus. Apenas acolheu os pecadores.

Bom, ainda assim o presidente está com certa razão. Afinal, no grande Éden em que se transformou o seu “governo de coalizão” já foram acolhidos muitos que, no passado, ele próprio tratou de rotular como pecadores: José Sarney, Fernando Collor, Paulo Maluf, Inocêncio Oliveira, Renan Calheiros, Jader Barbalho. Só para citar alguns “fariseus”, na ótica petista pré-governo.

Lula, de fato, está longe de ser Cristo. Mas no Brasil que criou a partir do seu primeiro mandato, ele casa e batiza. E às vezes dá até a extrema unção.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009










Semelhanças e diferenças

Na visão de alguns mais otimistas, o ex-ministro Gustavo Krause (DEM) tentou passar uma mensagem tranquilizadora às oposições ao lembrar seu próprio caso, em 1994, quando foi escolhido para enfrentar – quase que olimpicamente – a forte candidatura de Miguel Arraes (PSB) ao governo do Estado. Não havia um nome eleitoralmente poderoso para tanto. E ele, então, foi impulsionado para demarcar o terreno governista e garantir a sobrevivência do seu bloco político e da bancada parlamentar.

Para outros, porém, o recado de Krause pode ser lido nas entrelinhas: ao lembrar 94, ele sinaliza um certo conformismo de que não deve haver novamente um candidato com condições de evitar a reeleição do governador Eduardo Campos (PSB).

Para bom entendedor, não dá para ficar apenas sonhando com uma candidatura do senador Jarbas Vasconcelos (PMDB). É preciso botar o pé no chão e reconhecer que essa hipótese fica mais distante a cada dia que passa. Vale lembrar que nas duas vitórias da União por Pernambuco, em 1998 e 2002, ambas comJarbas à frente, não houve disputas internas, divergências entre caciques ou, como afirmou Krause, sequer “trepidações”.

A diferença entre 2010 e 1994 – e mesmo de 1986, quando o PFL, sem condições também de enfrentar Arraes, lançou a candidatura olímpica de José Múcio – é que dessa vez não parece haver nas oposições pernambucanas sequer uma alternativa “para competir”.

Nacionalizar a campanha é, como sempre, um perigo real e imediato. Em 94, como bem lembrou o ex-ministro, o então candidato tucano Fernando Henrique Cardoso largou bem atrás. Mas decolou, alçado pelo Plano Real, pela aliança com o PFL – na época o maior partido do Brasil – e por mais uma série de contingências favoráveis.

Hoje, quem preside o País é Lula, o mesmo candidato que fora derrotado outras três vezes pelo atual bloco de oposição. Mostrou verve e persistência. E mais que isso: mostrou engenhosidade.

Lula governa com uma popularidade estratosférica, sem ter inventado nenhum plano econômico. Tirou partido do esquema que herdou do próprio FHC. Também não implementou programas sociais novos, só deu um upgrade nos que recebeu dos tucanos.

A grande diferença, porém, é o conjunto de forças que o apóia. Não apenas em Brasília, onde aos poucos foi montado um esquema de adestramento partidário de causar inveja aos seus antecessores, mas também na grande maioria dos Estados, onde Lula hoje conta com vários governadores e prefeitos aliados, fortalecidos com seus programas federais.

Por todos esses fatores, não se trata de dizer que a oposição em Pernambuco estaria jogando a toalha. De fato, eles sabem – Jarbas, principalmente – das pouquíssimas chances de vencer a disputa local, ainda que se nacionalize a campanha e José Serra reconquiste o governo central.

Mas Serra é mesmo candidato? Porque como bem lembrou Jarbas, a indefinição no PSDB entre ele e Aécio Neves só estica ainda mais a corda para o lado governista.


domingo, 18 de outubro de 2009















Dormindo no ponto


Com uma legislação frouxa como a do Brasil, em vez de o PSDB ir à Justiça Eleitoral contra a viagem de Lula e comitiva ao Sertão do São Francisco, na semana passada, deveria mesmo era ir às ruas com seus pré-candidatos. Porque enquanto os tucanos tentam ganhar espaço no tapetão, os petistas se adiantam e mostram a cara ao eleitor.

Está certo que o PSDB não dispõe do cobertor da máquina administrativa para justificar qualquer aparição pública, como fez na candidatura à reeleição de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), em 1998, e na pré-campanha de José Serra, então ministro da Saúde de FHC, em 2002. Mas há outros modos. E Serra até que vem conseguindo aparecer bem, com uma viagem aqui e outra ali pelo País.

Ou vão me dizer que um governador de São Paulo tem o que fazer em Petrolina, ou em Exu? Foi clara a intenção eleitoral dessas visitas de Serra – só para ficar nas duas últimas que aconteceram recentemente em Pernambuco – de divulgar a sua candidatura e tentar quebrar o estigma de anti-nordestino que paira sobre o governador paulista.

É pouco, diante do poderio da máquina do PT, aliada ao PSB e ao PMDB em vários Estados. Mas é onde o PSDB deveria apostar. Porque se forem esperar pela opinião da Justiça Eleitoral, além de correr o risco de ver seus adversários inocentados, os tucanos ainda perdem tempo e terreno importante.

Sobretudo no Nordeste, onde, não bastasse o arsenal de obras – algumas muito aguardadas pelo povo, e que os governos do PSDB não tiveram o cuidado de tocar – Lula e seu candidato, ou candidata, ainda comandam um grande cabo eleitoral, o Bolsa-Família. Instrumento ironicamente herdado do governo tucano. Que não soube explorá-lo politicamente.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009












Uma briga desigual

O deputado Ciro Gomes (PSB) parece mesmo decidido a disputar a sucessão presidencial. Tanto que vem agindo como candidato durante toda a visita do presidente Lula às obras da transposição, em Minas Gerais, Bahia e Pernambuco. Não desgruda de Lula em nenhum momento. Nem de madrugada, quando a comitiva descontraiu ao som do forró de Maciel Melo.

Ao contrário da sua concorrente, Ciro foi um dos últimos a sair da festinha. E amanheceu praticamente na porta do quarto do presidente. Mas ninguém se engane, achando que Lula hesita em algum momento entre Dilma e Ciro. Nem mesmo diante das pesquisas, que apontam o deputado na frente da ministra da Casa Civil.

A presença de Ciro na comitiva foi comentadíssima pelos aliados, mas apenas como uma deferência do presidente ao seu ex-ministro da integração Nacional, que durante o primeiro mandato foi o responsável por iniciar as obras da transposição.

Lula não esconde que tem uma dívida de gratidão com Ciro, pela obra que encontrou em estágio avançado.

Mas é só. Dilma continua preferida, e, beneficiada pelo status de "mãe" do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), teve lugar cativo ao lado do presidente nas aparições públicas da comitiva.

Os dois presidenciáveis conversaram muito no Sertão, trocaram sorrisos e acenos. Até dividiram "eleitores". Mas enquanto a ministra caminha junto a Lula, Ciro tem se mantido discretamente um passo atrás ou à frente.

A desvantagem, porém, é maior que isso. Parte do PT não quer nem ouvir o nome de Ciro. Avaliam que seu passado de ex-tucano compromete qualquer chance de apoio à uma candidatura presidencial. Não bastasse ter governado o Ceará vestindo a camisa do PSDB, foi sob esse mesmo manto que ele ocupou o Ministério da Fazenda de Fernando Henrique Cardoso. Rompeu logo no início da gestão tucana, é bem verdade. Mas para filiar-se ao PPS, outra legenda que hoje faz dura oposição ao governo petista.

Se o ex-ministro traz no currículo, além do preparo técnico e político, o histórico de duas disputas presidenciais, a atual ministra, por sua vez, permanece ungida pelas bençãos de Lula e sua altíssima popularidade. E isso, ao menos no Brasil de hoje, é uma credencial bem mais poderosa.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009














O gato no telhado


Durante o encontro do PMDB em Abreu e Lima, no fim de semana, o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB) deixou claro nas entrelinhas do seu discurso que não pretende vestir a camisa de opção única das oposições na disputa pelo governo do Estado em 2010.

Quem entende bem a linguagem "cifrada" de Jarbas, interpretou o recado: ele não está disposto a ir para o sacrifício, entrando na briga sem uma base sólida. E se
topar a parada de enfrentar a forte máquina que está por trás da reeleição de Eduardo Campos (PSB), estará agindo movido por pesquisas que lhe garantem uma mínima chance de vitória. Porque, pessoalmente, sua vontade de voltar ao governo é zero.

Houve jarbista, porém, que saiu do encontro do PMDB achando que o chefe estaria um pouco mais estusiasmado com a possibilidade de vir a disputar um terceiro mandato no Palácio do Campo das Princesas. Esses, certamente, não compreenderam bem a fala de Jarbas.

Ao afirmar que
"as oposições vão buscar o que for melhor para o Estado", e que terão o que mostrar em 2010, ele sinalizou exatamente o contrário. Em bom politiquês, avisou que seria melhor examinar outras alternativas para a cabeça de chapa.

Jarbas não esconde que seu desejo pessoal é permanecer no Senado, onde tem destaque nacional como uma das poucas vozes de oposição ao presidente Lula. E no caso de vitória do presidenciável do PSDB, José Serra, essa notoriedade tende a crescer. Como um dos grandes aliados do tucano, independente de estar filiado ao PMDB, seu nome certamente figuraria numa lista de "ministeriáveis".

Há uma outra hipótese que animaria de verdade o peemedebista: a disputa presidencial, como candidato a vice de Serra. Se dependesse da vontade dos tucanos, o convite já poderia até estar feito. Mas a indisposição de Jarbas com a maioria governista do PMDB praticamente anula as chances.


De qualquer forma, já era previsível uma sinalização de recuo por parte do senador após concluído o prazo para filiação partidária de candidatos às eleições de 2010. Enquanto a temporada de troca-troca esteve aberta, ele procurou não se manifestar, para evitar uma debandada ainda maior no já debilitado quadro da oposição. Afinal, muita gente se segurou por lá movida pelo fio de esperança de tê-lo na chapa majoritária.


No fim de semana, porém, Jarbas começou a pôr um freio nos aliados mais otimistas. Deixou clara, em alguns trechos do seu discurso, a cautela com que trata o assunto. Por exemplo, quando afirmou que "... pode ser A, B ou C que vá disputar o governo. Essa pessoa vai ao guia eleitoral mostrar o que Pernambuco fez quando o PMDB foi governo".

Não nominou quem seriam esses "A, B ou C". Nem precisava. Mas a cúpula da União por Pernambuco entendeu a mensagem. E provavelmente não gostou.