sábado, 19 de dezembro de 2009
Café sem leite
Ao que tudo indica, quem estiver esperando o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, na vice da chapa presidencial do colega paulista José Serra, pode sentar-se para não cansar. Uma leitura atenta das entrelinhas da carta do tucano mineiro, na qual ele anuncia sua desistência de concorrer ao Palácio do Planalto, expõe, sem deixar dúvidas, sua descendência do ex-presidente Tancredo Neves.
Sem citar nomes, nem se mostrar agressivo, Aécio revela uma mágoa grande com Serra, Fernando Henrique Cardoso e o restante da cúpula do PSDB, por não aceitarem a sua proposta de prévias internas, ainda em 2009, para a escolha do presidenciável do partido. O neto de Tancredo também é claro ao sinalizar que não ficará a reboque de Serra, assumindo uma candidatura a vice apenas para dar ao colega paulista a vitória que não aconteceu em 2002.
Na carta, Aécio sequer cita o nome de Serra, e promete apenas trabalhar pelas “bandeiras do partido”. Ora, se a principal delas é o poder central, nada demais fazer campanha para o correligionário. E Aécio fará. Mas em segundo plano. Porque seu maior interesse agora é eleger seu atual vice, Antônio Anastásia, como sucessor, e conquistar, junto com ele, uma vaga no Senado, para a qual – dizem as pesquisas – o governador mineiro é imbatível.
Em sendo assim, a esperada repetição da política do “café com leite” que marcou a primeira República – quando São Paulo, maior produtor de café do País, dividia o monopólio do poder com Minas, principal produtor de leite – não deve mesmo acontecer.
E se isso é ruim para os tucanos, pode piorar.
É que, ciente da indisposição de Aécio de compor a chapa serrista, o Democratas não perdeu tempo. Quer reeditar a vitoriosa dobradinha FHC-Marco Maciel de 1994 e 1998. Ontem mesmo, o presidente nacional do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), começou a sinalizar a vontade do partido de pegar uma carona na chapa tucana.
O problema é que, embora tenham se livrado do governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, que pediu desfiliação do DEM para não ser expulso, os escândalos do mensalão de Brasília, capitaneados por ele, serão certamente protagonistas de programas do horário eleitoral gratuito de rádio e televisão durante a campanha.
Isso torna a presença do DEM na chapa de Serra uma espécie de cavalo de tróia. Se, por um lado, o partido, embora minguando, ainda conta com algum lastro eleitoral, por outro traz na bagagem o fantasma de Arruda. Que pode, ou não, assombrar os tucanos. Mas depois de duas derrotas consecutivas para o PT de Lula, talvez eles não estejam dispostos a pagar para ver.
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