Ah, esses fariseus...
O presidente Lula não lançou moda nem inventou nenhuma novidade em termos de alianças políticas. Antes dele, tucanos e democratas deram-se as mãos para garantir o poder. Mais atrás, em 1985, PMDB e PFL – antigos MDB e dissidentes da Arena – formaram a Aliança Democrática para eleger Tancredo Neves presidente no Colégio Eleitoral, contra o candidato da ditadura que o primeiro combatia e o segundo apoiava.
Vasculhando mais fundo a história, Getúlio Vargas foi às turras com os comunistas, cassou o registro do Partidão e perseguiu seus representantes. Logo depois, se aliou a eles para se manter no poder. E por aí vai.
Vejamos o passado recente
Alianças são parte da história da política. E no Brasil, ideologias e programas sempre ficaram em segundo plano. Diferentemente de países como os Estados Unidos e alguns da Europa, onde lado é lado, e ponto final.
O problema não reside nos acordos. Se são questionáveis, que se questione os demais. Reside, isto sim, na verborragia presidencial, qualidade inabalável de Lula. Não há limites diplomáticos, digamos assim, para as declarações do líder da Nação. Nem há quem o advirta de que misturar política e religião é um erro mais grave que crime eleitoral.
No seu universo político particular, Lula nem liga. Vai falando. Comparações pessoais com Juscelino Kubitschek ou Getúlio Vargas já são corriqueiras. Semana passada, no Sertão de Pernambuco, ao destacar a importância das obras da transposição do rio São Francisco, ele se colocou no patamar de Franklin Roosevelt, ao compará-las com o histórico programa do New Deal, que incluía um plano de desenvolvimento para o Vale do Mississipi.
Mas quando afirmou que no Brasil até Jesus Cristo faria alianças com Judas para governar, Lula exagerou, comparando-se ao filho de Deus. Blasfêmia? Talvez, mas não se analisado da forma como o nosso presidente vê as coisas. Por esse prisma, a comparação não está de todo errada, porque Lula não é o primeiro governante brasileiro a vender a alma ao diabo para garantir popularidade.
A diferença é que os outros fazem, mas não dizem abertamente. Sabem que declarações assim fazem o puritanismo e espírito conservador brasileiro saltar dentro das calças e partir para o contra-ataque.
Foi o que fez a CNBB. A organização dos bispos protestou imediatamente, lembrando que, ao contrário de Lula, Cristo não se aliou aos fariseus. Apenas acolheu os pecadores.
Bom, ainda assim o presidente está com certa razão. Afinal, no grande Éden em que se transformou o seu “governo de coalizão” já foram acolhidos muitos que, no passado, ele próprio tratou de rotular como pecadores: José Sarney, Fernando Collor, Paulo Maluf, Inocêncio Oliveira, Renan Calheiros, Jader Barbalho. Só para citar alguns “fariseus”, na ótica petista pré-governo.
Lula, de fato, está longe de ser Cristo. Mas no Brasil que criou a partir do seu primeiro mandato, ele casa e batiza. E às vezes dá até a extrema unção.
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