quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Sabão no olho
















O ministro da Agricultura Wagner Rossi, que entregou o cargo ontem, provavelmente não será a última baixa sofrida pelo governo Dilma Rousseff (PT) com a "faxina ética" que a presidente deflagrou há cerca de um mês.


Muito pelo contrário, talvez esse processo de desinfecção no Planalto esteja apenas começando. Afinal, mesmo após cinco trocas de ministros, as denúncias de corrupção, de malversação de verbas públicas e de tráfico de influência continuam a pipocar.


As mangueiras e vassouras estão, agora, voltadas para o Ministério do Turismo, cujo secretário executivo Fred Costa - que pode ser chamado de vice-ministro - é suspeito, segundo a Polícia Federal, de envolvimento em (mais um) esquema de desvio de recursos que seriam destinados a emendas parlamentares.

O caso, guardadas as devidas proporções, é semelhante ao que culminou com a saída de Rossi. Para quem não lembra, os problemas na Pasta de Agricultura começaram com denúncias envolvendo o segundo no comando, Milton ortolan, envolvido com um lobista que fazia "ponto" dentro do ministério.

Como é sempre bom refrescar a memória é sempre bom, vamos lá: o primeiro a deixar o governo Dilma foi o ministro da Casa Civil Antônio Palocci. O petista é reincidente, já que, no governo Lula, foi obrigado a entregar o Ministério da Fazenda depois das acusações de que teria ordenado a quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo, que testemunhara a presença do ministro numa mansão "suspeita" no Lago Sul de Brasília, onde empresários e lobistas se reuniam para, digamos, trocar umas "ideias".

O segundo a perder a pose na equipe foi também um petista, Luiz Sérgio. Com a saída de Palocci, ele foi remanejado do Ministério das Relações Institucionais para a obscura Secretaria de Pesca. O motivo: Dilma queria dar mais força à pasta, e ele não tinha o perfil adequado. em seu lugar a presidente nomeou a combativa ex-senadora petista Ideli Salvatti.

Pivô da maior crise política da nova gestão, o terceiro a cair foi o ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento. Filiado ao PR, Nascimento foi uma "herança" deixada por Lula para Dilma. Um verdadeiro presente de grego, e foi exatamente por causa das denúncias na pasta dos Transportes que a presidente deflagrou sua faxina ética. Com o ex-ministro, caíram mais de 20 auxiliares.

Antes da queda de Wagner Rossi, Dilma Rousseff ainda amargou a saída do peemedebista Nelson Jobim, titular da pasta da Defesa. Mas Jobim não entregou o cargo sob denúncias de corrupção. Ao contrário, ele se queimou por falar mal, com certa frequência, dos próprios colegas de ministério.

É bom lembrar que Dilma tem apenas oito meses de governo. Ainda lhe restam três anos e quatro meses para concluir o mandato. Se fizermos um cálculo proporcional, quantos ministros ela ainda terá que substituir nesse período?

O problema mais sério, porém, não é mudar auxiliares. Nomes, existem às toneladas. A questão é o tamanho da ressaca que algumas eventuais trocas possam causar à presidente. Porque se ela começar a mexer demais nas indicações dos aliados - leia-se, o PMDB - pode terminar perdendo o controle da sua base de apoio no Congresso Nacional, onde o partido do vice-presidente Michel Temer manda e desmanda.

Se o PMDB - dono da maior bancada na Câmara dos Deputados e a segunda maior no Senado - decidir seguir o exemplo do PR, que, simulando indignação com a demissão de Alfredo Nascimento, decidiu romper com Dilma, vai faltar voto para aprovar projetos de interesse do governo no Legislativo. Pior ainda: podem sobrar votos para aprovar a criação da CPI da corrupção, tão sonhada pelas oposições.

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