segunda-feira, 2 de maio de 2011

O terror está vivo

















Não pretendo, aqui, fazer juízo de valor sobre o tratamento que os Estados Unidos dão ao resto do mundo. Nem tampouco condenar o discurso anti-americanista formulado, sobretudo, pelas esquerdas. O que me preocupou mais do que tudo – ao assistir nesta madrugada de domingo para segunda-feira, ao noticiário em tempo real sobre a morte do chefe maior da Al Qaeda, Osama Bin Laden – foi a absoluta falta de reflexão do povo norte-americano.

Ao tomar conhecimento da morte do terrorista – responsabilizado pela morte de milhares de pessoas no atentado às torres gêmeas, em setembro de 2001 – muitos americanos correram às ruas para festejar, de bandeiras em punho. Concentrações em frente à Casa Branca e em outros pontos do país foram transmitidas ao vivo pelas redes de TV dos EUA. Para o mundo todo. O que inclui o mundo árabe.

Os muçulmanos são pessoas tão pacíficas quanto os seguidores de qualquer outra religião. O que preocupa são as exceções. Aqueles que preferem interpretar o Corão pelo ângulo da violência, baseados apenas em trechos de algumas suras.

Essas pessoas, que vivem para difundir o ódio, certamente assistiram às cenas transmitidas pela televisão americana. No exato momento em que lamentavam a morte do seu líder maior – para eles, um herói – viam seus grandes inimigos comemorarem em praça pública. Se isso não é combustível para alimentar mais a raiva, nada mais é.

Em vez de se comportarem como se ninguém mais existisse no planeta, indo às ruas bradar como torcida organizada de futebol, s americanos deveriam engolir esse sentimento de vitória e comemorar de uma forma menos ostensiva.

O problema é que a maior parte da população dos EUA não entende, por exemplo, que enquanto a questão palestina não for resolvida, o ódio e o terror permanecerão. Culpa dos formuladores da política externa dos EUA, que não deixam claro ao povo que o apoio integral do país a Israel custa caro, acirra os ânimos e avoluma os problemas.

Não tiro a razão dos que perderam alguém nos atentados. Ou dos que se sentiram ultrajados com um ataque tão atrevido, dentro das suas fronteiras. Mas para combinar com o discurso feito pelo presidente Barack Obama ainda na madrugada – destacando que a morte de Bin Laden representava uma busca pela paz e liberdade para todo o mundo – não seria melhor manter um comportamento mais low profile?

Afinal, vibrar nas ruas como se a guerra contra o terror tivesse simplesmente ganha é como tapar o sol com a peneira. É ignorar solenemente os efeitos adversos que a morte de Bin Laden pode desfechar sobre os Estados Unidos.


Um comentário:

LeoWanderley disse...

Parabéns pelo texto. Tb fiquei impressionado com a comemoração. Ao festejarem o assassinato (mesmo que do maior inimigo), os americanos se juntam aos fanáticos espalhados no mundo que pregam vingança, morte e o extermínio...