terça-feira, 19 de abril de 2011

Pessedismo de roupa nova













Certa vez, li uma definição interessante para a expressão "pessedismo": o exercício da moderação e do equilíbrio, que gera a capacidade de sobreviver sempre, tão perto do poder quanto possível. Na ocasião, estava sendo descrito o velho pessedismo, linha política da qual foram adeptos vários personagens históricos, a exemplo dos ex-presidentes Juscelino Kubitschek e Eurico Gaspar Dutra, e em Pernambuco, os ex-governadores Agamenon Magalhães e Miguel Arraes.


O velho Partido Social Democrático (PSD) foi fundado em 1945, sob os auspícios do então presidente Getúlio Vargas, que queria ampliar sua base de sustentação e garantir proteção contra os ataques da conservadora UDN. Para isso, tratou de solidificar no PSD o apoio das elites municipais, os chamados "coronéis", interessados em se manter dentro do círculo de poder. Anos depois, quando o golpe militar de 64 extinguiu a legenda, expôs seu "ecletismo". Enquanto parte dos filiados migrou para o MDB - de oposição aos generais - outra parte buscou abrigo sob o guarda-chuva da Arena governista.

Quase 70 anos depois, o fantasma do pessedismo é invocado das profundezas pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab. Embora com raízes fincadas no DEM, ex-PFL, ex-PDS e ex-Arena, Kassab revelou um jogo de cintura bem pessedista logo nas primeiras costuras do novo partido. Com a tradicional simplicidade com que os políticos costumam justificar seus atos, explicou que pretende fazer uma "oposição responsável" à presidente Dilma Rousseff (PT), "criticando o que considerar errado e elogiando o que for correto".

Curioso é como o discurso pessedista ainda tem o poder de "abrandar" o fogo das oposições. Hoje, Kassab tem como principal aliado e conselheiro o presidente nacional do PSB, Eduardo Campos. Mas o respaldo do governador de Pernambuco não é gratuito. Muito pelo contrário. Raposa política, Eduardo já joga com a hipótese de fundir o PSD ao PSB, ampliando sua força política no País para o projeto maior dos socialistas em 2014.

Mais curiosos ainda são alguns nomes que poderão vir a cerrar fileiras com Kassab e, por consequência, com Eduardo Campos. Já estão de malas prontas para ingressar no PSD figuras como a senadora Kátia Abreu (DEM-TO) - líder da bancada ruralista e duríssima adversária de DIlma e do MST -, o vice-governador baiano Otto Alencar (PP), eleito na chapa do petista Jaques Wagner, e o vice-governador de São Paulo Guilherme Afif Domingos (DEM), companheiro do governador tucano Geraldo Alckmin.

E Pernambuco não poderia ficar ausente do novo pessedismo. O comando local do partido será entregue ao ex-deputado federal André de Paula, que por longos 17 anos presidiu o PFL estadual e atuou no alto comando da oposição a Miguel Arraes e ao seu neto, o atual governador. Eduardo Campos, agora, tornou-se padrinho da filiação do ex-adversário ao PSD, deixando claro, mais uma vez, o dote pessedista que herdou do avô.

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