quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Baixando a guarda













O presidenciável do PSDB, José Serra, acaba de cassar o título que ele próprio outorgou ao presidente Lula, de "entidade acima do bem e do mal". Durante pouco mais de dois meses de campanha oficial, Serra tinha conseguido driblar com maestria todos os possíveis episódios de confronto direto com seu ex-concorrente de 2002. Corretamente, centrou fogo na adversária atual, a petista Dilma Rousseff, que embora seja afilhada política de Lula, está longe de ter a habilidade do padrinho.


A ideia dos tucanos era evitar a todo custo um embate direto com o presidente e seus quase 80% de popularidade. Seria o mesmo que bater de frente com um trator em movimento. No entanto, não contavam que a campanha degringolasse para o campo pessoal, com o envolvimento de parentes de Serra em mais um capítulo da novela dos dossiês pré-fabricados.


E até que o tucano aguentou bem. Resistiu, inclusive, ao impacto da notícia sobre a quebra ilegal do sigilo fiscal da sua filha e do genro. Só não suportou o discurso do próprio Lula na TV, durante o guia eleitoral de Dilma. Até então, ele imaginava que, da mesma forma que evitava o embate direto, o rival se manteria à margem do palco, nas coxias, deixando o espaço sob os holofotes para Dilma.


Errou, porque supôs que Lula adotaria uma linha de pensamento objetiva e racional.


As notícias da semana passada sobre o envolvimento de agentes ligados ao PT na fabricação de supostos dossiês para instrumentalizar a campanha derrubaram o presidente do pedestal. Os petistas, definitivamente, sentiram o golpe. Tanto que passaram ao ataque.

É a leitura que se pode fazer da participação de Lula no programa eleitoral de Dilma. Sem meias palavras, o presidente olha nos olhos dos eleitores e acusa os adversários de lançarem mão de "baixarias" para tentar reverter a desvantagem na corrida presidencial.


Raposa política, Lula jamais faria isso se o universo petista continuasse em perfeito equilíbrio. Mas no momento em que ele lançou o contra-ataque, também baixou temporariamente a guarda, dando a Serra mais munição para se colocar como representante dos insatisfeitos com o atual cenário pro-PT.


É claro que o presidenciável tucano está ciente da sua desvantagem diante de Dilma, inclusive em termos de cabo eleitoral. Serra, na realidade, sabe que a fatura está praticamente liquidada. Resta ver que posição que ele pretende assumir após o dia 3 de outubro.


Porque ao se envolver diretamente no confronto, Lula deu ao rival duas opções distintas: agachar-se diante do rolo-compressor petista, envergando novamente a camisa de candidato derrotado, ou tirar proveito do insucesso, se consolidar como um dos principais opositores do futuro governo Dilma Rousseff e agir assim nos próximos quatro anos.

Mesmo que não seja ele - e certamente não será - o próximo paladino do PSDB a tentar quebrar, agora em 2014, a hegemonia do PT no poder.

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