Abrir mão de uma tese ou postulação “em nome da unidade” é uma ação nobre, mas muito rara na política brasileira. Via de regra, a palavra “unidade” é utilizada apenas como mera retórica. Uma cortina para esconder divergências internas que, se expostas, comprometeriam todo um grupo.
Com o PT não foi diferente. Só ingênuos acreditariam que João Paulo desistiu de disputar a indicação para o Senado, depois de tanta briga, simplesmente em nome da unidade. Desistiu porque foi pressionado e ficou sem saída, como ele próprio reconheceu. Sem demérito para Humberto Costa, que fez por onde garantir a indicação.
Na verdade, João Paulo começou a perder a parada em novembro passado, quando seu grupo foi derrotado na disputa pelo comando estadual do PT. Ao assegurar maioria interna, Humberto começou a pavimentar o processo, que culminou com a decisão da Justiça de inocentá-lo no caso da Máfia dos Vampiros, no mês passado.
Antes disso, a briga interna era tão acirrada que o próprio presidente Lula pediu ao governador Eduardo Campos (PSB) para manter distância, evitando respingos capazes de abalar a aliança PT-PSB no Estado. Se tinha preferência por um ou outro petista, Eduardo não externou.
Agora que a escolha foi feita, porém, o governador sabe que contará com pouco mais da metade do PT estadual na sua campanha. O resto estará empenhado em garantir a João Paulo uma votação expressiva para a Câmara Federal, como derradeira tentativa de reaver parte do terreno perdido para Humberto.
* Publicado na coluna Cena Política, do Jornal do Commercio, em 19/04/10
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