segunda-feira, 12 de abril de 2010
Panetones e ovos de páscoa
Preso desde 11 de fevereiro, o ex-governador do Distrito Federal José Roberto Arruda foi solto hoje. Deixou a carceragem da Polícia Federal acompanhado da esposa e do advogado, sob os protestos de um grupo que o aguardava na porta.
Mas lá também havia um outro pelotão, formado por "amigos" do ex-governador, que aplaudiam e cantavam hinos religiosos. Certamente pela "graça" recebida de oito juízes do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que votaram pela liberação de Arruda.
Não obstante a fé cega demonstrada dos amigos do ex-governador, sua libertação tem muito pouco a ver com milagre. Arruda foi solto porque, no entendimento dos juízes, perdeu seus poderes, seu peso político, sua moral. Enfim, tornou-se um mortal como muitos de nós. Inofensivo.
Não é bem verdade. É bom lembrar que, antes de chegar ao governo do Distrito Federal, José Roberto Arruda foi senador. Envolvido até o pescoço no escândalo da violação do painel do Senado, sob as ordens do então todo-poderoso senador Antônio Carlos Magalhães, renunciou ao mandato, junto com ACM, para não ser cassado e perder seus direitos políticos.
Nas eleições seguintes, o coronel baiano voltou ao Senado nos braços do seu povo. Arruda preferiu outro caminho: o governo de Brasília. Eleito, vinha exercendo o cargo com certa visibilidade. Tanto que chegou a ser disponibilizado pelo DEM como opção para a vice do presidenciável tucano José Serra.
Depois, o vento virou. Já na prisão, Arruda teve o mandato cassado pela Justiça Eleitoral. Não por improbidade administrativa. Muito menos por prevaricação, corrupção, formação de quadrilha. Nada disso. Foi enquadrado apenas na Lei de Fidelidade Partidária. Perdeu o mandato porque deixou o DEM sem justa causa. Tentava escapar do desgaste de uma expulsão.
José Roberto Arruda foi preso em fevereiro, junto com mais cinco integrantes da quadrilha que se beneficiava do desvio de verbas públicas no governo. Guardem bem os nomes e não aceitem cheques desse pessoal: Geraldo Naves, Wellington Luiz Moraes, Antônio Bento da Silva, Rodrigo Diniz Arantes e Haroldo Brasil de Cavalho.
Depois que o esquema foi flagrado pela Operação Caixa de Pandora, da PF, o ainda governador tentou justificar que o dinheiro desviado serviria para comprar 120 mil panetones, a serem doados às comunidades carentes de Brasília no Natal. Mas nenhuma família sentiu sequer o cheio da iguaria. Aliás, o único odor presente era o de meias e cuecas sujas, abarrotadas com o dinheiro distribuído entre o bando.
Que Arruda seria solto a qualquer momento, todo mundo já sabia. Afinal, se a Justiça mal consegue manter presos os homicidas, sequestradores e outros marginais da pesada, que dirá um mero criminoso de colarinho branco, algo tão banal no Brasil?
Só é lamentável que a decisão do STJ não tenha acontecido mais cedo. Se fosse solto na Semana Santa, por exemplo, Arruda bem que poderia retomar todo o seu altruísmo e, quem sabe, distribuir uns ovos de páscoa com o povão.
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