segunda-feira, 26 de abril de 2010
Terceira via petista
Embora jamais tenha dado resultado nas eleições em Pernambuco, a tese da terceira via começa a ganhar força novamente. Mas dessa vez, dentro do PT. Isso ficou claro no encontro estadual do partido, sábado passado. Depois do rompimento com João Paulo, o prefeito do Recife João da Costa confirmou, extraoficialmente, que não há mais ambiente para ele na corrente Coletivo de Esquerda Unificado (CEU), liderada pelo seu ex-padrinho político.
O desconforto ficou evidente quando os dois sequer trocaram cumprimentos na plenária petista do final de semana. Do slogan "João é João", cunhado durante a campanha vitoriosa de 2008, não sobrou quase nada. Publicamente, João Paulo tem se referido ao ex-afilhado como "um ilustre desconhecido" que ele ajudou a eleger. Nas rodas mais fechadas, as citações ao sucessor são ainda mais duras. Impublicáveis aqui. Digamos que ele faça menção à palavra traição.
E João da Costa, que até pouco tempo fazia questão de não acusar o golpe, decidiu reagir. Ciente de que não tem condições de passar para o lado de Humberto Costa - líder da Construindo um Novo Brasil (CNB) - sem aumentar a munição verbal do antecessor, parece decidido a construir uma nova corrente.
Logo após o rompimento, João da Costa havia sido indagado se não pensava em montar seu próprio grupo, aproveitando o peso político do cargo, como fez João Paulo. E negou. Disse que preferia concentrar suas atenções na administração da cidade. Mudou de ideia.
Deve ter enxergado que, por melhor gerente que seja, se não tiver um mínimo de influência nas decisões internas do PT isso não valerá muita coisa. Ele não passará de prefeito. Pode ter sido a última das lições do ex-padrinho político. Afinal, os oito anos de gestão bem aprovada no Recife não foram suficientes para garantir a João Paulo a tão sonhada vaga de candidato ao Senado. Mesmo após cinco tentativas fracassadas nas urnas para obter um cargo majoritário, Humberto ficou com a vaga.
No início da campanha de 2008, João da Costa foi chamado de "poste" pelos adversários. Diziam que ele não tinha jogo de cintura, carisma, e era eleitoralmente pesado. O petista mostrou que não era bem assim. Venceu a disputa no primeiro turno e, ao assumir, decidiu carimbar de vez a imagem de independência, livrando-se dos resquícios da administração de João Paulo. Um pacote que incluía auxiliares "herdados" por ele na PCR, que deviam obediência ao ex-prefeito.
Foi o suficiente para gerar a mágoa. Depois de lutar contra tudo e todos - inclusive dentro do próprio PT - para provar que o "poste" tinha luz própria, João paulo mudou rápido de opinião. Frustrado na expectativa de construir um terceiro mandato "extraoficial" na Prefeitura, ele se afastou, talvez imaginando que sem sua orientação, o ex-pupilo poderia se dar mal.
Agora, está sujeito a amargar o surgimento de um novo grupo político petista - que contará, certamente, com a simpatia de Humberto - para fazer ainda mais sombra às suas pretensões de poder no PT e no Estado.
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