sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Ministro com folha corrida











Pode ser levado a sério um país onde, para nomear um ministro, a presidente da República precisa antes mandar passar um "pente fino" no passado de cada candidato à vaga? Pois foi o que ocorreu com o deputado federal Gastão Vieira (PMDB-MA), substituto do colega peemedebista Pedro Novais, outro maranhense.


Só para refrescar a memória, Novais é o segundo ministro indicado pelo PMDB a ser demitido sob suspeita de corrupção. O primeiro foi Wagner Rossi (Agricultura). Houve um terceiro peemedebista dispensado, Nelson Jobim. Mas este saiu depois de falar mal da própria equipe ministerial.


Além de Gastão Vieira, Dilma Rousseff tinha mais um punhado de nomes do PMDB para o cargo. Ressabiada, mandou investigar a "ficha política" de cada um deles. Dois esbarraram na Lei da Ficha Limpa, enquanto outro carecia de empuxo político. Sobrou Gastão, cuja indicação, de quebra, agradava ao presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), padrinho político do demitido Novais.















Vencida essa página, o que fez a presidente? Foi prestigiar o encontro nacional do PMDB, em Brasília, e lá atuou como mestre de cerimônias. Ao discursar, Dilma rasgou elogios ao partido, que classificou como um "parceiro fundamental" no seu governo, sobretudo as suas bancadas parlamentares na Câmara e no Senado, "sempre presentes e leais quando estão em jogo os interesses do País e do povo".


A retórica da presidente, de fato, está cada dia melhor. E a cada dia ela age com mais naturalidade. Prova disso é vê-la sapecar tantos elogios à uma bancada parlamentar conhecida exatamente pelo capricho de só votar qualquer projeto de interesse do País se, antes, seus próprios "interesses" forem contemplados. E alguns desses interesses, para falar o mínimo, são indizíveis.


Mas cabia a Dilma Rousseff, na festa peemedebista, acalmar os ânimos de um partido que, pela sua força e dimensão, precisa obrigatoriamente ser afagado por qualquer governante que não deseje ser inviabilizado. A presidente mostrou ter aprendido bem essa lição desde a época em que atuou como ministra da Casa Civil do ex-presidente Lula, seu padrinho político e professor de jogo de cintura com o Congresso Nacional.


Afinal de contas, embora esteja cercada por mulheres nos cargos-chave da política na sua equipe, pairam sobre Dilma a sombra de dois homens poderosos, que não devem ser contrariados: o vice-presidente da República, Michel Temer, e o presidente do Senado José Sarney.

O primeiro, que é ex-presidente nacional do PMDB, até hoje vem cumprindo à risca as determinações que lhe são repassadas pelo segundo. E este segundo, a cada dia se mostra mais cardeal dentro do governo petista.


De fato, é uma relação complicada para a presidente, esta com o PMDB. Do tipo ruim com ele, pior sem ele.