sexta-feira, 5 de março de 2010











Vidraça petista

Antes mesmo de começar a campanha eleitoral propriamente dita, setores menos amistosos do PT, digamos assim, já investem com fúria cega contra a imprensa. Um artigo publicado há alguns dias no site do partido serve como exemplo. Nele, são transcritas várias críticas negativas feitas à candidatura da ministra Dilma Rousseff (PT) durante o 1º Fórum Democracia e Liberdade de Expressão, do Instituto Millenium.

Não importa que elas tenham sido formuladas por reconhecidos adversários do partido. Serviram de mote para generalizar os ataques à "grande mídia golpista" – adjetivo usualmente aplicado, de boca cheia, por alguns petistas.

E antes que apontem, eu mesmo admito: sou corporativista. Talvez não tanto quanto os petistas. Eles bem sabem que anti-éticos e corruptos existem em todos os segmentos, mas também sabem que é preciso sair em defesa dos profissionais éticos e honestos contra as generalizações.

O que esses segmentos mais radicais esquecem é que o PT só é o que é hoje graças, em parte, à "grande mídia". Antes mesmo de o partido ser fundado, jornalistas sérios enfrentavam as investidas dos censores da ditadura para noticiar as movimentações do chamado “novo sindicalismo” do ABC paulista, e sobretudo a sua estrela maior, o então líder metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva.

Foi essa mesma “grande mídia” que divulgou para todo o País as mobilizações democráticas do início dos anos 80. Quando o recém-fundado PT ainda era classificado por assustados reacionários como "um bando de radicais de ultra-esquerda", entre outros adjetivos ainda menos corteses.

Lembro que quando comecei a exercer o jornalismo, há pouco mais de duas décadas, os conservadores bradavam das suas tribunas que as redações dos jornais estavam repletas de comunistas e petistas. Hoje, a mudança é dramática. São os petistas que sobem às suas torres para enxergar nas redações uma “corja” de liberais e conservadores.

Mudaram as redações ou mudou o PT?

Do meu posto de observação pessoal, não tenho dúvidas de onde se deu a mudança. Mas como não sou dono da verdade, prefiro que os “mudados” continuem erguendo suas vozes. Só gostaria de lembrar que, mesmo depois de ascender ao poder – graças a uma extrema do guinada no discurso de esquerda – as ações positivas do governo petista têm sido amplamente divulgadas pela “grande mídia”.

Claro, as críticas negativas também são exploradas. E até com maior peso que as boas ações. Talvez porque, ao longo de pelo menos 22 anos, tenhamos assistido à dura oposição feita pelos petistas a quem quer que ocupasse o poder. Mas, como se sabe, passar da condição de pedra à de vidraça é uma mudança um tanto traumática. O discurso crítico fica arraigado na cabeça, e é preciso, às vezes, descarregá-lo sobre alguém.

Nem todo mundo supera isso com tamanha facilidade como fez, por exemplo, o líder maior do PT. Desde que virou vidraça, Lula tem recebido com surpreendente parcimônia as críticas publicadas pela “grande mídia”. Via de regra, mostra domínio e equilíbrio diante delas. E nas raras vezes em que perde a paciência, no máximo declara em público que não lê mais os jornais.

Lula representa bem o PT moderno. A chamada “nova esquerda”. Não é bairrista, não vê mais teorias da conspiração nem investidas burguesas contra o proletariado. O inverso é que custa a ser verdadeiro: lamentavelmente, nem todo petista conseguiu incorporar o estilo “paz e amor” do seu próprio presidente. Quem sabe se voltarem por um tempo à condição de pedra eles não começam a preservar um pouco mais as vidraças?

Um comentário:

Alexandre Porto disse...

Eu adoraria que os jornalistas que ainda acreditam na imparcialidade da imprensa me respondessem, pq numa semana em que apareceram dois escândalos (inventados, requentados ou não), se escolhe 1?

cito:

1 - Um tucano afilhado do senador Jereissati é CONDENADO por desvios de R$ 7bi no BNB;

2 - Um petista é acusado de desviar R$ 100 milhões de uma cooperativa habitacional.

OK, não quero entrar no mérito e nem defender ou acusar.

Mas pq o primeiro caso é digno de pequenas e raras notas e o segundo vira novela em revista semanal e nos jornais televisivos?

Se o jornalista conseguir me convencer que essa indignação seletiva é justa, eu me rendo.