quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010
Ó quarta-feira ingrata!
A folia acabou. A partir de agora, como reza a tradição, as coisas começam a funcionar de verdade no Brasil. Inclusive este blog. Assim como as campanhas eleitorais, cujo prazo oficial, previsto apenas para julho, é mera retórica legal.
E não é que a “quarta-feira ingrata” trouxe uma surpresa ainda mais desagradável para os tucanos? Segundo o Ibope, a presidenciável governista Dilma Rousseff (PT) subiu mais oito pontos, enquanto o até agora favorito José Serra (PSDB) caiu dois.
Não é nada, não é nada, mas pode gerar alguma instabilidade nas oposições.
É bem verdade que Serra continua liderando com folga a corrida presidencial. Também é verdade que ele vence Dilma na simulação de segundo turno.
O que a nova pesquisa pode provocar de imediato – sobretudo se vier acompanhada de outras que confirmem o resultado – é uma propagação maior de uma tese que vem sendo comentada já há algum tempo.
Segundo as más línguas – e digo “más” porque creio que a boataria tenha partido, sim, do lado governista – o governador paulista estaria apenas aguardando a consolidação dessa onda de queda nas pesquisas para anunciar sua candidatura. Mas não ao Planalto, e sim à reeleição para o governo de São Paulo. Essa, sim, é dada como favas contadas.
É óbvio que os tucanos, oficialmente, rechaçam com força a possibilidade de Serra vir a ser substituído de última hora pelo governador mineiro Aécio Neves. Argumentam que Aécio já está fora do páreo, candidatíssimo ao Senado ou, quem sabe, a uma vice do próprio Serra, numa chapa pão com pão.
Nos bastidores, porém, o PSDB lê com atenção as pesquisas internas, principalmente aquelas que indicam Aécio como o adversário mais temido pelo Planalto. Só não vão revelar nada disso no momento.
Mas ninguém duvide que, passado o Carnaval, as coisas comecem a mudar de figura. É aguardar as próximas pesquisas para checar. Mas já há, mesmo entre os tucanos, quem aposte que a candidatura presidencial de José Serra não sobreviva até o fim da quaresma.
segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010
Prazo de validade *
O PMDB continua o mesmo: um balcão de negociações que garantam aos seus filiados um naco de espaço no poder, não importando quem o exerça. E foi o que aconteceu na convenção nacional do partido, sábado passado, quando os setores ligados ao presidente Lula trataram de rifar todos os que se opunham à aliança com a presidenciável Dilma Rousseff (PT).
As articulações para garantir ao partido a vice na chapa de Dilma revelam que a palavra “democrático”, no PMDB, está cada vez mais limitada à sigla. O aval à aliança com os petistas foi uma decisão tomada de cima para baixo, isolando os diretórios de São Paulo, Pernambuco, Santa Catarina e Paraná, contrários ao acordo.
Os paranaenses – liderados pelo governador Roberto Requião – alimentam a olímpica tese de candidatura própria. Os outros três núcleos defendem o apoio a José Serra (PSDB).
Não é a primeira vez – nem deverá ser a última – que o PMDB vende caro seu passe. Nos governos Collor, Itamar Franco e, sobretudo, FHC, a legenda sempre utilizou seu peso político para barganhar a ocupação de cargos. Uma espécie de “norma branca”, não incluída no estatuto partidário.
Como bem lembrou, certa vez, o ex-deputado federal Egídio Ferreira Lima – um dos fundadores do partido, na década de 60 – o PMDB foi criado sob permissão da ditadura militar para abrigar toda a oposição, mas perdeu sua razão de existir após a redemocratização. Desde então, vem servindo apenas aos interesses políticos dos grupos que o controlam. O resultado da convenção é apenas mais do mesmo.
* Texto publicado na coluna Cena Política, do JC - 08/02/10
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