terça-feira, 8 de junho de 2010

Sapos barbudos
















Bom petista é aquele que, mesmo depois de tantas mudanças de rumo, ainda se surpreende com as guinadas políticas promovidas, vez por outra, pelo comando da legenda. Mas poucos deles conseguiriam imaginar o pacote eleitoral que vem sendo preparado pela cúpula partidária para alguns Estados.

A ordem é suspender projetos de candidatura própria e hipotecar apoio a concorrentes de partidos aliados do Palácio do Planalto. Ainda que seus nomes tenham figurado, no passado, no index de inimigos do PT.


Que petista de carteirinha esperaria, por exemplo, receber orientação para apoiar a candidatura de Fernando Collor de Mello (PTB) ao governo de Alagoas? Só para ativar a memória: além de derrotar Lula em 1989, Collor foi apeado da Presidência com a ajuda dos caras-pintadas e dos parlamentares do PT. Mas depois de quase vinte anos, o ex-presidente, hoje senador, conquistou a simpatia do Planalto. E alguns bons cargos também.


Calma, que o pacote eleitoral é maior que isso. Qual petista imaginaria, há dez anos atrás, ter que pedir votos para eleger Roseana Sarney (PMDB) governadora do Maranhão pela terceira vez? Pois o "pesadelo" está para acontecer. Falta apenas selar o acordo, gestado com o aval de Lula e do seu amigo José Sarney - "capo" do clã maranhense e pai de Roseana - que há alguns anos era chamado por ele de "o maior ladrão do Brasil".


E pouco interessa se a direção estadual do PT no Maranhão já tinha costurado uma aliança com o PSB e o PCdoB, para apoiar a candidatura de Flávio Dino ao governo. Se depender da cúpula nacional petista, no feudo sarneyzista não vai ter candidato de oposição.


Por último, o pacotaço eleitoral governista traz o apoio incondicional do Planalto à candidatura do ex-ministro Hélio Costa (PMDB) ao governo de Minas Gerais. Uma decisão que só pode ser chamada de surpreendente pelos petistas "de raiz". Porque qualquer observador mais desapaixonado há tempos já teria notado a intenção da direção nacional de "rifar" a candidatura própria do ex-prefeito de Belo Horizonte, o petista Fernando Pimentel, para garantir apoio ao fiel ex-auxiliar de Lula.


Traduzindo para bom português, a orientação do comando petista nesses Estados é a de engolir sapos, em nome da governabilidade. E já não se trata mais do governo Lula. Estamos falando do governo Dilma Rousseff. Até porque, Lula não parece mesmo lidar com a possibilidade de sua candidata perder a eleição.


Depois de preparar um sólido palanque - sacrificando, para isso, algumas regras até então bastante caras aos petistas mais aguerridos - agora, o presidente sacrifica candidaturas dos próprios companheiros nos Estados.
É o poder, custe o que custar.