quarta-feira, 31 de março de 2010

O voo solo de Dilma











A ex-ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), enfim, deixou o governo. Será mesmo? A coisa ficou meio no ar, quando ela admitiu em seu discurso de despedida, feito há pouco, que não pretende se "desvencilhar" do presidente Lula.

Nem precisava dizer nada. Nos últimos meses, foram muito poucas as aparições públicas do presidente sem ter ao lado a sua ministra-candidata. Ainda assim, pouco se conhece dela. Por enquanto, Lula, sem Dilma, ainda é Lula. Mas Dilma, sem Lula, é muito pouca coisa.

A presidenciável petista deu, inclusive, pistas de quanto essa parceria pode dar trabalho à Justiça Eleitoral. Ao discursar, se emocionou ao elogiar o presidente e seu governo, e declarou que sua candidatura não será um "voo solo", porque o projeto é de continuidade.

Para bom entendedor, ficou a impressão de que continuaremos a assistir um "voo duplo". Dilma, no papel de co-piloto, levará o avião da sua candidatura em voo de cruzeiro. Mas caberá a Lula ocupar o assento da esquerda na cabine, responsável pela parte mais delicada, de fazer as decolagens e aterrissagens.

É bem verdade que, até o momento, a ex-ministra não deu sinais claros de que voaria sozinha. Como estava investida no cargo, e impedida - ao menos oficialmente - de se envolver em ações de cunho eleitoral, limitava-se a voar de carona na popularidade de Lula.

Agora, desembaraçada das obrigações de governo, o eleitorado vai poder sentir melhor a movimentação-solo da candidata. Que assegurou estar absolutamente preparada para encarar a campanha presidencial. No discurso, afirmou, inclusive, já ter vivido situações muito mais duras na vida, como as perseguições da ditadura militar, quando integrava grupos de guerrilha.

Fora do cargo, Dilma vai ter a chance de mostrar que tem luz própria. Que tem preparo. E, acima de tudo, que tem capacidade para substituir o presidente com a maior popularidade de todos os tempos. A partir de hoje, cabe exclusivamente a ela provar ao eleitor que não é apenas um co-piloto de mais um projeto comandado por Lula.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Cai o pano














Dentro de dois dias, Dilma Rousseff abandona a postura de ministra para assumir, em definitivo, a de presidenciável. Sim, porque embora viesse agindo como tal há muito, e tenha sido saudada no encontro nacional do PT como tal, ela jamais admitiu publicamente a postulação.


Bom, mas a saída do governo só acontece daqui a dois dias. Hoje, ainda ministra, Dilma lançou a segunda etapa do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC2), ao lado do presidente Lula, seu grande cabo eleitoral. Sem ele - e o PT sabe disso - ela no máximo continuaria ministra. Candidata, jamais.

Assim como o primeiro, o PAC2 foi colocado sob a coordenação de Dilma. Pelo menos durante os próximos dois dias. Trata-se de um pacote que prevê investimentos da ordem de R$ 1,59 trilhão, entre 2011 e 2014. Verbas direcionadas para projetos sociais em áreas delicadas como saúde e habitação.

Mas as declarações de hoje do próprio presidente sugerem que tudo ainda é mera promessa. Ao lançar o PAC2, Lula admitiu que na primeira etapa o governo concluiu bem menos obras do que esperava. Levantamento da ONG Contas Abertas, feito com base nos relatórios do comitê gestor do PAC, revelou que que somente 11,3% dos projetos previstos na primeira etapa do programa foram executados. Traduzindo: somente 1.378 obras foram concluídas.

Acha muito? Pois a previsão atrevida do governo era realizar 12.163 empreendimentos por todo o País em quatro anos. Foi o que Lula prometeu, lá no começo, ainda sem noção da burocracia e das dificuldades de alocar recursos e gerenciar projetos. Os relatórios revelam que pelo menos 54% dessas promessas sequer saíram do papel.

Mesmo assim, o governo lançou o segundo PAC. Na presença de ministros, governadores, prefeitos e parlamentares ansiosos por tirar uma "casquinha", não só financeira, mas também política, do programa. Embora a maioria estivesse bem consciente de que a solenidade de hoje não passava de uma festa de despedida para Dilma. Uma última ajudinha oficial da máquina administrativa à campanha petista.

E aí, engana-se quem pensar que Dilma, a partir de quarta-feira, ficará por sua própria conta e risco, em plena pré-campanha presidencial. Não é o estilo de Lula criar um projeto político e abandoná-lo. Ela não poderá mais aparecer nos palanques ao lado do presidente.

Habilidoso como ninguém, ele certamente dará um jeitinho de continuar impulsionando sua candidata. E sem nenhum temor de sofrer punições da Justiça Eleitoral.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Um aliado incômodo












Depois de uma bem-sucedida parceria que durou oito anos, o PSDB agora não sabe como se desvencilhar do aliado DEM. Abalados com a comprovação das denúncias de mensalão no Distrito Federal - que excluíram do partido seu único governador, José Roberto Arruda - os ex-pefelistas tinham recolhido as bandeiras e já nem falavam mais em disputar a eleição presidencial.


Antes do escândalo, o nome do governador do Distrito Federal figurava entre os mais cotados para a vice do tucano José Serra. Ganhava corpo a ideia de repetir a dobradinha FHC-Marco Maciel, que governou o País por dois mandatos consecutivos.

Até Arruda jogar "panetone" no ventilador. Depois da divulgação dos vídeos com distribuição de dinheiro entre o governador e seus auxiliares, o papo da vice mixou de vez e o DEM até passou a apoiar a tese da chapa puro-sangue do PSDB, composta por Serra e o governador mineiro Aécio Neves.


Agora que tudo indica que Aécio não vai mesmo topar a parada, o presidente nacional do DEM, Rodrigo Maia, voltou a falar na aliança e na vaga de vice. Até ventilou um nome: o da senadora Kátia Abreu (TO), presidente da poderosa Confederação Nacional da Agricultura.

O perfil da senadora guarda certas semelhanças com o da ex-candidata republicana à vice-presidência dos Estados Unidos, Sarah Palin. Sobretudo na defesa dos interesses da elite produtora. Só que o
jeitão conservador de Sarah foi apontado por pesquisas como um dos fatores que puxaram para baixo a candidatura de John McCain, derrotado pelo superliberal Barack Obama.

Kátia Abreu, por sua vez, defende abertamente as elites ruralistas do País e não esconde a antipatia pelos ambientalistas. Também não tolera os sindicalistas rurais ligados à esquerda, que a apelidaram de "Miss Desmatamento" e a criticam duramente por seu posicionamento contrário à Reforma Agrária.


Mas não é o perfil da senadora do Tocantins que incomoda o PSDB. É o próprio DEM. Depois do mensalão de Brasília, os tucanos já não parecem tão confortáveis com a possibilidade de ter o partido na vice. Tem gente que, mesmo reconhecendo a integridade de Kátia Abreu, avalia que um democrata - qualquer que seja ele - na vice de Serra vai, inevitavelmente, trazer o Arrudagate para as telinhas de TV nos programas do guia eleitoral dos adversários.

O problema é que o DEM sempre foi leal ao PSDB, nos bons e nos maus momentos do governo FHC. E continua tão fiel que, ao anunciar a disposição de brigar novamente pela vice, Rodrigo Maia deixou claro que o partido não criará dificuldades para os aliados.

O que torna ainda mais difícil encontrar uma maneira suave de dizer "não".

sexta-feira, 19 de março de 2010

Acabou o inferno astral?









Há duas semanas, durante um encontro tucano no Recife, comandado pelo presidente nacional do partido, senador Sérgio Guerra, a repórter Sheila Borges, do Jornal do Commercio, ouviu de um aliado de José Serra que o governador é muito supersticioso. Por isso, era capaz de apostar que ele só confirma a candidatura presidencial depois que fizesse aniversário.


Filho de imigrantes italianos e criado no bairro da Mooca, o paulistano José Serra crê em olho gordo, acha que gato preto dá azar e jamais passa por baixo de escada aberta. Além disso, ele acredita que nada deve ser decidido nos trinta dias que antecedem a data de aniversário. É o que os astrólogos chamam de período de transformação. Mais conhecido como "inferno astral".

Pois bem. Hoje pela manhã, Serra foi despertado pelos familiares ao som de "Parabéns pra você". Tomou café, fez a barba, vestiu-se e foi dar uma entrevista na TV Bandeirantes, marcada com antecedência. Uma vez no ar, pela primeira vez deixou de lado as manjadas respostas evasivas e disparou: "Não estou negando (a candidatura). Estou dizendo que neste momento não vou fazer campanha. Faltam poucos dias".

Se para os mais céticos essa declaração ainda não convence, que tal observar a postura de candidato do governador, quando indagado sobre a escolha do vice? "Essa coisa é para mais adiante. Só vai ser resolvido no fim de maio". Mudou ou não mudou o tom?

Parece que o "inferno astral", enfim, acabou. Não só o de Serra, mas dos tucanos de um modo geral. Afinal, o clima de indefinição estava engessando as articulações do PSDB com os aliados nos Estados, e a cada rodada de pesquisa a coisa ficava mais infernal para o lado da oposição.

No próximo dia 3, o governador paulista deve renunciar ao cargo para ser oficializado candidato. O que acontecerá no dia 10, em Brasília, numa festa há muito preparada pelo partido. E em Pernambuco, é provável que as oposições façam outra festa, no mesmo dia. Mas para comemorar a decisão do senador Jarbas Vasconcelos (PMDB).

Jarbas condicionou o anúncio da sua decisão de enfrentar ou não o governador Eduardo Campos (PSB) nas urnas à oficialização de José Serra como presidenciável. E graças à hesitação do governador paulista, teve bastante tempo para pensar. Agora, depende do senador acabar ou não com o "inferno astral" das oposições no Estado.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Robalinho rebate críticas

Por Chico Ludermir, do Blog de Jamildo


Em meio a uma pré-candidatura polêmica ao Senado, Guilherme Robalinho (PPS) disse ao Blog de Jamildo que veio para somar em uma oposição ainda indefinida. Segundo o médico, diversos representantes tucanos e do DEM estão migrando para os braços do governo.

Muito criticado pelos próprios aliados por uma candidatura que supostamente dividiria uma oposição que já tem nomes fortes, como os nomes dos dois senadores que devem tentar a reeleição, Marco Maciel e e Sérgio guerra, Robalinho diz que a crítica não tem nenhum sentido.

"Se fôssemos (a oposição) um partido único, teríamos um só candidato, mas somos partidos diferentes e temos ideias diferentes. Lançar meu nome é legítimo. Ilegítimo é achar que um partido aliado não tem o direito de pensar e lançar seus nomes para que surjam novos caminhos", disse.

Para ele o que existe é uma paralisia. "Colocamos o meu nome que tem história", conta Guilherme, que já foi secretário de Saúde de Pernambuco e de Recife nas gestões de Jarbas Vasconcelos.

Em relação a crítica a sua candidatura por parte dos deputados Antônio Moraes (PSDB) e de Miriam Lacerda (DEM), o médico diz "não estou com eles há muito tempo. Talvez o meu nome tenha um peso maior do que possa se prever. Não estou rompendo nem significa que não estejamos juntos amanhã. É uma divergencia momentânea". afirmou.

Quanto ao prefeito de Jaboatão dos Guararapes, Elias Gomes (PSDB), Robalinho acusa uma indefinição por parte do tucano.

"O prefeito de Jaboatão não vai se definir. Assim, onde não está havendo ideia de oposição não é no PPS", alfineta.

O Blog de Jamildo revelou ontem que o PSB de Milton Coelho e Eduardo Campos anda tão entrosado com o tucano que arrumou um emprego para a filha dele, na secretaria de Habitação de João da Costa.

terça-feira, 16 de março de 2010

Fratura exposta










Dizem os bons manuais de política que uma prática saudável para se galgar espaço é aprender a ouvir e respeitar opiniões discordantes. Espero que assim seja entre os líderes das oposições em Pernambuco. Porque ninguém consegue me convencer que lançar três candidaturas ao Senado - quando só há duas vagas em jogo - é uma estratégia válida para unir os adversários do governador Eduardo Campos (PSB).


Para quem chegou agora: além de Marco Maciel (DEM) e Sérgio Guerra (PSDB), o PPS decidiu entrar na campanha ao Senado com a candidatura do médico Guilherme Robalinho. Nada tenho contra o doutor Robalinho, ex-militante de esquerda na juventude e um bom secretário de Saúde nas gestões de Jarbas Vasconcelos. A crítica incide sobre os idealizadores da estratégia. Que vai, isto sim, dividir ainda mais o já fragmentado bloco oposicionista.

Na segunda-feira à tarde, havia no Palácio do Campo das Princesas um indisfarçável clima de comemoração pelo lançamento da nova candidatura adversária. Tudo, claro, no mais absoluto off record. Mas na avaliação de alguns socialistas, as oposições se perderam ainda mais. Ainda nem conseguiram consolidar um candidato a governador e já saem com três postulantes ao Senado.

Mas essa divisão não é de hoje. Há outros caminhos para explicá-la. Um deles é a antiga e persistente resistência do PPS - sobretudo dos seus dirigentes - em apoiar o senador Marco Maciel.

É bom lembrar que, em 2002, quando Maciel disputava o Senado, ao lado de Sérgio Guerra, o PPS inventou a candidatura de Nelson Borges. E no final das contas, só precisou apoiar seu próprio candidato e o do PSDB, deixando o então pefelista na mão. O que não impediu Maciel de sair das urnas como o senador mais votado.


Vale recordar também que, naquela mesma disputa de 2002, Jarbas - que renovaria o mandato de governador - praticamente botou o PPS debaixo do braço, ajudando a garantir a eleição de pelo menos dois deputados federais do partido: Roberto Freire e Raul Jungmann. Em 2006, quando concorreu ao Senado, Jarbas manteve a fidelidade, colocando Freire como seu suplente.

Está mais que clara a boa relação dos pós-comunistas com o PMDB local. Falta é esclarecer ao eleitor essa aversão ao Democratas. Seria porque o DEM é descendente direto da extinta Arena, combatida duramente pelo antigo PCB - na clandestinidade - durante o regime militar? Será possível que esse ranço persista?

Afinal, os tempos mudaram. Hoje, os ex-comunistas, reunidos no PPS, fazem oposição ao governo do PSB em Pernambuco e à gestão do PT em nível federal. E em ambas as esferas, o PPS é aliado do DEM. Por que, então, não assumir essa aliança também em termos eleitorais? É realmente necessário inventar uma nova candidatura a senador para não ter que apoiar o candidato escolhido pela própria aliança?


Sinto pelos que não toleram opiniões contrárias. Mas por mais que eu me esforce, que puxe pela memória e analise o cenário político atual, continuo enxergando na candidatura do PPS mais um grande e claro sinal de divisão das oposições.

segunda-feira, 15 de março de 2010

O pacificador












Quem danado enfiou na cabeça do presidente Lula que ele tem condições de empunhar a bandeira de grande conciliador do mundo moderno? Mesmo no núcleo duro da Côrte petista, são poucas as pessoas com um perfil tão arrogante e tresloucado a ponto de sugerir posturas dessa natureza ao pé do ouvido do homem.


Há quem diga que Lula exagera na política de boa convivência com governantes "incômodos", como Hugo Chávez (Venezuela) e Evo Morales (Bolívia). Mas estes, ao menos, são vizinhos. E há interesses comuns da América Latina que precisam ser defendidos em bloco. Só não precisa tratá-los como se fossem antigos companheiros de militância sindical.


Ao que parece, em termos de política internacional, Lula está decidido a se colocar na história como o maior pacificador do século. Embora dentro do Brasil a guerra social ainda esteja a léguas de um bom termo.

Em novembro passado, por exemplo, ele estufou o peito, mandou às favas os protestos nas ruas e recebeu o presidente recém-eleito do Irã, Mahmoud Ahmadinejad. Que entre outras "pérolas", defende o fim do Estado de Israel, nega o Holocausto e insiste em enriquecer urânio.

Um detalhe: duas semanas antes, haviam passado pelo Brasil os presidentes de Israel, Shimon Peres, e da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas.


Há cerca de um mês, o presidente brasileiro deu um pulinho em Cuba para visitar o colega Raúl Castro e o ex-presidente Fidel. Não teve muita sorte. Chegou em meio às notícias sobre a morte de Orlando Zapata Tamayo, após 85 dias em greve de fome.

Orlando era um dos 75 "presos de consciência", nome dado aos opositores do regime cubano.
E como Lula reagiu? Nenhum protesto, nenhuma crítica à ausência de direitos humanos. “Imagine se todos os bandidos que estão presos em São Paulo entrarem em greve de fome e pedirem liberdade?”, foi seu comentário, seguido de um intrigante silêncio por parte de algumas entidades civis que, antes de o PT chegar ao poder, eram bastante dadas às passeatas, protestos e gritarias.

Surpresas maiores estavam por vir. Segunda-feira, ao iniciar uma visita a Israel, Lula recusou um convite para colocar flores no túmulo de Theodor Herzl, o fundador do sionismo. Simplesmente disse que não haveria tempo livre na sua agenda.

Que nesta terça prevê uma visita ao túmulo do ex-líder palestino Yasser Arafat, em Ramallah. Exatamente os maiores adversários dos israelenses.
Será que não tinha um único integrante da comitiva consciente o suficiente para soprar no ouvido de Lula que a homenagem a Herzl seria de bom tom?

Os resultados da gafe diplomática foram imediatos. O ministro das Relações Exteriores, Avigdor Lieberman, simplesmente boicotou o discurso de Lula no Knesset, o Parlamento israelense. E de quebra, não participou do encontro entre o presidente brasileiro e o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.


Para quem se pretende um grande estadista, Lula até agora só sugeriu uma única "receita" para promover a paz: um jogo de futebol - em "território neutro" - entre as seleções israelense e palestina.

Não é tão simples assim, presidente! São décadas de lutas por território, envolvendo crenças religiosas consolidadas há séculos. Não se resolve batendo bola. Embora fosse muito bom que as rivalidades no Oriente Médio fossem tão "importantes" para o mundo quanto uma simples briga de torcidas entre a Gaviões da Fiel e a Mancha Verde...

quinta-feira, 11 de março de 2010















Cavaleiros sem cabeça

A situação das oposições em Pernambuco é realmente digna de pena. Não apenas porque estão fragilizadas. Ou por terem sido atropeladas pelo rolo-compressor governista. A penúria deve-se, mais do que nunca, à hesitação dos caciques em formalizar suas candidaturas.

Os oposicionistas estão prontos, armados até os dentes para sair em campanha. Mas lhes faltam as cabeças. Afinal, é praticamente impossível formatar um discurso eleitoral sem citar os candidatos a governador e a presidente da República.


Todo mundo sabe que o governador José Serra (PSDB) e o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB) serão candidatos a presidente e governador, respectivamente. E a demora de Serra em oficializar sua candidatura pode até ter seus motivos. Assim como Jarbas tem lá os seus. O problema é convencer os aliados, que já começam a perder a paciência, publicamente.


A ironia da situação é que o primeiro a protestar contra a hesitação de Serra foi exatamente Jarbas. O senador se mostrou incomodado com o fato de as oposições estarem sendo "atropeladas" pelas candidaturas da ministra Dilma Rousseff (PT) e do governador Eduardo Campos (PSB), ambos em plena campanha.


Mas em vez de as queixas surtirem efeito, Jarbas foi obrigado a botar o pé no freio. Ontem, depois de ser informado que Serra só planeja se declarar candidato no último dia do prazo de desincompatibilização, 3 de abril, o senador se viu obrigado a esperar que o cacique tucano quebre o silêncio.

A explicação, Jarbas já deu: uma candidatura a governador não deve ser movida apenas por motivos paroquiais. Precisa ter um respaldo nacional. E a aliança Serra-Jarbas já é uma velha conhecida dos pernambucanos.


É fato que a candidatura de Jarbas é a única opção viável para que as oposições no Estado consigam fazer alguma frente ao trator pilotado por Eduardo Campos. Que, em pouco mais de três anos, neutralizou - parcial ou completamente - os palanques de oposição em vários municípios pernambucanos.

Em tempos de crise, foram todos atraídos pelo guarda-chuva palaciano e seu link direto com o governo Lula.
E como se não bastassem as deserções, a oposição ainda pena com a antecipação da campanha. Vista com a maior das complacências pela Justiça Eleitoral.

Nem a gritaria dos opositores nas tribunas, nem as várias ações impetradas por eles nas devidas instâncias sensibilizaram os magistrados a punir as "campanhas micaretas". Aquelas feitas fora de época.


E não é porque os juízes são partidários de um ou outro candidato. Essa é uma crítica fácil, que poupa os mais "ofendidos" de olhar para o próprio umbigo.
O que acontece, na verdade, é que eles estão, simplesmente, seguindo o que manda a legislação eleitoral.

Uma legislação com mais buracos que tábua de pirulito, que foi elaborada pelas mesmas pessoas que hoje protestam. E que se recusam a fazer a necessária reforma política.


E como a lei é feita para todos, se o cenário de hoje favorece os governistas, paciência. A vantagem do jogo eleitoral já esteve, no passado, com quem agora está na oposição.


sexta-feira, 5 de março de 2010











Vidraça petista

Antes mesmo de começar a campanha eleitoral propriamente dita, setores menos amistosos do PT, digamos assim, já investem com fúria cega contra a imprensa. Um artigo publicado há alguns dias no site do partido serve como exemplo. Nele, são transcritas várias críticas negativas feitas à candidatura da ministra Dilma Rousseff (PT) durante o 1º Fórum Democracia e Liberdade de Expressão, do Instituto Millenium.

Não importa que elas tenham sido formuladas por reconhecidos adversários do partido. Serviram de mote para generalizar os ataques à "grande mídia golpista" – adjetivo usualmente aplicado, de boca cheia, por alguns petistas.

E antes que apontem, eu mesmo admito: sou corporativista. Talvez não tanto quanto os petistas. Eles bem sabem que anti-éticos e corruptos existem em todos os segmentos, mas também sabem que é preciso sair em defesa dos profissionais éticos e honestos contra as generalizações.

O que esses segmentos mais radicais esquecem é que o PT só é o que é hoje graças, em parte, à "grande mídia". Antes mesmo de o partido ser fundado, jornalistas sérios enfrentavam as investidas dos censores da ditadura para noticiar as movimentações do chamado “novo sindicalismo” do ABC paulista, e sobretudo a sua estrela maior, o então líder metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva.

Foi essa mesma “grande mídia” que divulgou para todo o País as mobilizações democráticas do início dos anos 80. Quando o recém-fundado PT ainda era classificado por assustados reacionários como "um bando de radicais de ultra-esquerda", entre outros adjetivos ainda menos corteses.

Lembro que quando comecei a exercer o jornalismo, há pouco mais de duas décadas, os conservadores bradavam das suas tribunas que as redações dos jornais estavam repletas de comunistas e petistas. Hoje, a mudança é dramática. São os petistas que sobem às suas torres para enxergar nas redações uma “corja” de liberais e conservadores.

Mudaram as redações ou mudou o PT?

Do meu posto de observação pessoal, não tenho dúvidas de onde se deu a mudança. Mas como não sou dono da verdade, prefiro que os “mudados” continuem erguendo suas vozes. Só gostaria de lembrar que, mesmo depois de ascender ao poder – graças a uma extrema do guinada no discurso de esquerda – as ações positivas do governo petista têm sido amplamente divulgadas pela “grande mídia”.

Claro, as críticas negativas também são exploradas. E até com maior peso que as boas ações. Talvez porque, ao longo de pelo menos 22 anos, tenhamos assistido à dura oposição feita pelos petistas a quem quer que ocupasse o poder. Mas, como se sabe, passar da condição de pedra à de vidraça é uma mudança um tanto traumática. O discurso crítico fica arraigado na cabeça, e é preciso, às vezes, descarregá-lo sobre alguém.

Nem todo mundo supera isso com tamanha facilidade como fez, por exemplo, o líder maior do PT. Desde que virou vidraça, Lula tem recebido com surpreendente parcimônia as críticas publicadas pela “grande mídia”. Via de regra, mostra domínio e equilíbrio diante delas. E nas raras vezes em que perde a paciência, no máximo declara em público que não lê mais os jornais.

Lula representa bem o PT moderno. A chamada “nova esquerda”. Não é bairrista, não vê mais teorias da conspiração nem investidas burguesas contra o proletariado. O inverso é que custa a ser verdadeiro: lamentavelmente, nem todo petista conseguiu incorporar o estilo “paz e amor” do seu próprio presidente. Quem sabe se voltarem por um tempo à condição de pedra eles não começam a preservar um pouco mais as vidraças?

terça-feira, 2 de março de 2010













Cegos no tiroteio


O PSDB ainda não se recuperou do susto provocado pelos números da pesquisa Datafolha de domingo passado. A queda de quatro pontos sofrida pelo presidenciável José Serra (37% para 32%) e o crescimento de cinco pontos da petista Dilma Rousseff (23% para 28%) gerou um sentimento semelhante ao pânico no estômago dos tucanos. E só aumentou a o sentimento de desorientação.

Essa deve ter sido, inclusive, a sensação experimentada ontem pela cúpula tucana durante a reunião e o almoço no gabinete do senador Tasso Jereissati (CE). Onde o cardápio, certamente, deve ter tido ingredientes da cozinha mineira.


É que depois de Serra perder a sua principal opção de vice - o governador José Roberto Arruda (DF), preso por corrupção - que sacramentaria a aliança com o DEM, ficou sem alternativas para compor a chapa. E agora enfrenta dificuldades dentro do seu próprio partido para conseguir um companheiro de disputa.

O governador de Minas Gerais, Aécio Neves, cuja pretensão era concorrer ao Planalto - e não ao Jaburu - continua se descartando. E Tasso Jereissati, segundo gente do próprio PSDB, também não estaria muito a fim de trocar o elevador da reeleição para o Senado pela escadaria da corrida presidencial.


Nos últimos dias - e principalmente após a pesquisa Datafolha - a pressão sobre o tucano mineiro triplicou. Mas ele não arreda o pé de disputar o Senado. Estrela das festividades do centenário do seu avô, Tancredo Neves, esta semana Aécio recebe praticamente toda a constelação da oposição nacional em Minas Gerais. Imagine a quantidade de pedidos que vai ouvir para compor a chapa?

Se Aécio ceder, Serra pode até ganhar um fôlego extra, levando em conta a boa aceitação que o colega mineiro tem lá pelas bandas do Sudeste. É o governador melhor aprovado no País, tem poucas arestas com as esquerdas e, de quebra, possui uma imagem bem menos desgastada que a do colega paulista.


Mas Aécio quer, mesmo, é a vaga de presidenciável. Se fracassa essa opção, onde os tucanos vão buscar o vice? No PPS, terceiro aliado nas oposições, não há alternativas com densidade.

A solução caseira, que já chegou a ser ventilada antes, seria manter a chapa puro-sangue, com o presidente nacional do partido, senador Sérgio Guerra. Mas desde a primeira vez que ouviu a sugestão, o pernambucano - como se diz no seu Estado natal - correu léguas de distância.


Na verdade, ninguém da oposição esperava os números que a pesquisa revelou. Por mais que insistam tratar-se apenas de um "cenário de momento", basta pegar lápis e papel e traçar dois gráficos, baseados nos índices das últimas sondagens, para o frio na barriga voltar a assustar. A curva de Serra é absolutamente decrescente, enquanto a de Dilma parece mais a ladeira da Misericórdia. Para quem não conhece, é a subida mais íngreme da Cidade Alta de Olinda.


O fato é que a oposição esperou demais. Fosse por uma decisão de Serra, fosse pela queda de Dilma nas pesquisas. E nenhuma das duas aconteceu. A presidenciável petista subiu e o governador tucano não se decidiu em tempo hábil para botar o bloco na rua.

Agora, vai ter que fazer isso às pressas. A expectativa é de que ainda esta semana - na tentativa de recuperar terreno perdido para os petistas - o PSDB anuncie, formalmente, a pré-candidatura de Serra. Só precisa conseguir, dentro de toda essa adversidade que se criou pós-carnaval, encontrar quem aceite a vice. De bom grado.