segunda-feira, 30 de março de 2009






















Os cães ladram e as caravanas passam

Inspecionar obras para verificar seu andamento é um dos esportes preferidos dos políticos. Uns, porque as referidas obras fazem parte da sua gestão, e garantir seu bom andamento significa garantir popularidade. Outros, pelo motivo contrário: como opositores, estão ali para fiscalizar e, quiçá, encontrar defeitos que possam servir de munição contra o gestor da obra.

É claro que para saber sobre o andamento de uma obra pública não é preciso ir até lá pessoalmente. Todo mundo sabe que político - sobretudo com mandato - tem um enorme séquito de assessores, que inclui técnicos muito mais capacitados que os próprios chefes, para avaliar a execução de projetos. Mas como ficaria o marketing, se o próprio mandatário não der uma passadinha por lá, vez por outra? Lembrando, é óbvio, de avisar antes à imprensa.

Dois casos exemplares que ocorreram em Pernambuco embasam perfeitamente toda essa teoria. Há duas semanas, o governador Eduardo Campos (PSB) percorreu mais de 30 municípios do Estado, visitando obras da sua gestão. Foi acompanhar seu andamento e, de quebra, colher os frutos pelas realizações, sobre palanques previamente montados em cada ponto do itinerário governista.

Eduardo segue à risca a cartilha do presidente Lula, que toda semana dá uma passadinha em alguma obra ou inauguração pelo País. E sempre que pode, leva a tiracolo sua candidata, a ministra Dilma Rousseff, presidenciável do PT, para com ela dividir os lucros políticos.

Hoje foi a vez do outro lado. A cúpula nacional do Democratas, maior opositor do governo Lula, iniciou por estas bandas a sua "Caravana da Transparência". Trata-se de uma inspeção às obras bancadas com recursos do Programa de Aceleração do crescimento (PAC) - carro-chefe do Planalto - nos Estados. Os ex-pefelistas escolheram Pernambuco para dar a largada por ser o Estado que mais verbas captou até agora do PAC. E ainda pelo sentido emblemático da coisa. Afinal, trata-se da terra natal de Lula. Se conseguirem identificar falhas por aqui, o impacto pode ser mais proveitoso.

Marqueterismos à parte, o que resta de concreto nessas caravanas? O que elas trazem para o cidadão dos grotões do interior? É tão somente uma forma de o político marcar presença. O fato de o presidente ou o governador passar por lá vai acelerar a obra? Certamente que não. Da mesma forma, a presença de opositores no local, documentando a situação, vai fazer com que o gestor agilize as ações? Também é pouco provável.

No fundo, parece mesmo um acordo de cavalheiros - embora saibamos que não o é -, com os governistas tirando sua fatia de proveito das ditas obras, fazendo seus discursos positivos, enaltecendo a si mesmos e aos companheiros que ajudaram a realizar aquele "sonho" da comunidade e deixando gravados seus números na cabeça do eleitor local. Saem de cena para dar lugar aos opositores, que ali vão criticar a lentidão do projeto, questionar sua necessidade e assegurar que, uma vez eleitos, farão mais e melhor, esforçando-se, ao final, para ficar na lembrança da população na próxima disputa eleitoral.

O processo das "caravanas" tem sido mais ou menos assim há muitos anos no Brasil, desde que o próprio Lula, após a eleição de 1989, lançou a "Caravana da Cidadania", e passou a percorrer o Brasil com seu ministério paralelo, fiscalizando as ações do presidente Fernando Collor de Mello, que o derrotara nas urnas.

Há alterações no processo, claro, porque às vezes é a oposição que chega antes dos governistas. Mas o efeito, no final das contas, é praticamente o mesmo. Tudo pode acontecer. Inclusive, nada.



sexta-feira, 27 de março de 2009



















Um dinheiro inflamável

As novas denúncias de distribuição de recursos por uma empresa privada a partidos políticos e candidatos já eram absolutamente esperadas. Numa rápida pesquisa, é possível identificar pelo menos um ou dois escândalos semelhantes, ocorridos após cada eleição no Brasil. E não raro, a empresa envolvida é do ramo da construção civil, um dos mais ativos em qualquer governo, seja ele de qualquer legenda.

Por isso, não surpreende a amplitude da distribuição de recursos pela empreiteira Camargo Correia, cujo caixa - segundo as investigações da Polícia Federal -abarcou desde o PT ao Democratas, passando por vários outros partidos beneficiados. Todos, obviamente, uma vez bancados pela empresa, passam a dever-lhe favores, que podem ser “pagos” agora ou no futuro.

Voltemos, pois, a bater na mesma tecla. Mais uma vez fica comprovada, pelo pior viés possível, a necessidade de uma reforma política que institua o financiamento público de campanhas eleitorais. Senão para garantir transparência sobre quem banca os candidatos, ao menos para assegurar que, uma vez no poder, eles não favoreçam, nas concorrências e licitações públicas, apenas quem encheu seus caixas durante o pleito.

Se aprovado, o financiamento público impediria – em tese – que partidos e candidatos utilizassem recursos de pessoas físicas e jurídicas privadas, como também seus próprios recursos. Daria, inclusive, maior equilíbrio às campanhas. Segundo o projeto, em tramitação há anos no Congresso, as dotações teriam como base o valor de R$ 7,00 por cada eleitor alistado na Justiça Eleitoral até o dia 31 de dezembro do ano anterior às eleições.

O dinheiro público seria gerenciado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e distribuído aos diretórios nacionais dos partidos, observando-se o seguinte critério: 1% em parcelas iguais para todos os partidos existentes e 99% para os partidos com representação na Câmara dos Deputados, proporcionalmente ao número de integrantes das bancadas.

Não é preciso dizer que a aprovação de medidas como essas interessa, e muito, ao eleitor que não deseja ver o dinheiro dos seus impostos loteados entre empresas privadas, em troca de favores pessoais. Mas é bom saber a quem NÃO INTERESSA a aprovação do financiamento público: aos mesmos congressistas que o engavetaram tantas vezes quantas foi apresentado. Uma ampla maioria de deputados e senadores que deseja deixar tudo como está.

Para estes senhores, uma reforma política, no formato da que foi proposta, tira a liberdade de fazer caixa dois nas campanhas, receber verbas privadas por debaixo dos panos e não ter que declará-las à Justiça Eleitoral, manter parcerias escusas com empresários da construção civil, da agroindústria, da metal-mecânica, da tecelagem e de tantos outros setores abastados, que, claro, vão cobrar depois as gentis contribuições de campanha com juros altos.

É assim que funciona hoje o nosso sistema eleitoral. Movido a cimento, tecido, álcool, graxa e tantos outros produtos. A maioria bastante inflamável.


quinta-feira, 26 de março de 2009















Nem sempre João é João


À frente da Prefeitura do Recife desde 1º de janeiro deste ano, o petista João da Costa sofreu hoje seu primeiro grande baque político: obteve um pacatíssimo oitavo lugar entre os nove prefeitos de capitais avaliados pela pesquisa Datafolha, divulgada hoje pelo jornal Folha de S.Paulo (Leia aqui). O levantamento conferiu ao recifense a nota 5,5. Bem distante do líder, o curitibano Beto Richa, que comemorou 7,8 de pontuação. Costa ficou à frente, apenas, do prefeito de Salvador, o peemedebista João Henrique Carneiro, com nota 5,1.

Para quem está iniciando uma gestão, não seria nada demais obter um índice baixo de popularidade. Afinal, tratar-se-ia de um governante ainda desconhecido dos cidadãos. Mas não é o caso do prefeito do Recife. Embora estreante no cargo - foi eleito no ano passado para o primeiro mandato - João da Costa chegou à PCR embalado, exatamente, pela fama de bom administrador. Uma fama apregoada aos quatro ventos pelo PT e pelos outros 15 partidos aliados que o apoiaram. E mais: venceu graças à ajuda de um precioso avalista, o então prefeito João Paulo, seu correligionário e padrinho político.

O que aconteceu, então?

A resposta parece complexa. Mas pode ser resumida da seguinte forma: João da Costa foi um deputado estadual sem destaque, até porque não permaneceu na Assembleia Legislativa. Eleito em 2006, tirou licença imediata para reassumir a forte Secretaria do Orçamento Participativo - posteriormente renomeada de Gestão Participativa. Ali, sim, tinha atuação destacada, que lhe garantiu popularidade suficiente para suceder João Paulo.

Com a vitória em outubro passado, assegurada logo no primeiro turno, pesou sobre os ombros do atual prefeito a responsabilidade de substituir à altura seu antecessor, que na última pesquisa realizada pelo Datafolha, em setembro do ano passado, cravou a nota 7,3. João Paulo, aliás, ao longo de suas duas gestões consecutivas, sempre conseguiu se manter no primeiro pelotão, entre os melhores administradores de capitais.

Por justiça, é bom observar a dificuldade de se suceder um companheiro com tão boa avaliação. Sobretudo um companheiro que, além de bom gerente, sabia fazer política de forma ousada, e ainda dispunha de um marketing arrojado. Duas condições com as quais o atual prefeito não conta. O marketing ele certamente deverá intensificar, principalmente após o resultado nada satisfatório da pesquisa divulgada hoje. Já o jogo de cintura político, isso é algo que ele não herdou do padrinho petista. Que o digam os adversários e, mesmo, alguns aliados.

Mas na opinião de especialistas, esse não é um dote essencial a um prefeito. A característica primordial é o talento para gerenciar. E, dessa, João da Costa dispõe. Até, porque, como se diz, enquanto o Estado e o País são figuras federativas, o município é, de fato, onde se vive. E, se bem administrado, irá alavancar a popularidade de quem o comanda.

O que está faltando mesmo é um start do novo prefeito. Investido no cargo há apenas três meses, ele ainda tem amplas chances de recuperar o placar negativo obtido nesta primeira pesquisa. Para isso, no entanto, terá que se desdobrar para superar o trabalho realizado pelo antecessor. E, acima de tudo, imprimir uma marca própria, que ainda não dispõe. Duas tarefas bastante desafiadoras, sobretudo em tempos de crise econômica.

quarta-feira, 25 de março de 2009












Eduardo na vice de Aécio

Com essa novidade a oposição não contava. No momento em que comemoram o bom índice obtido pelo senador Jarbas Vasconcelos (PMDB) na pesquisa Datafolha sobre a disputa estadual de 2010 – tecnicamente empatado com o governador Eduardo Campos (PSB) em um dos cenários, com 40% a 34% – outra pesquisa, também do Datafolha, divulgada hoje (leia a íntegra), serve como sinal de alerta aos adversários de Eduardo. No ranking de aprovação dos governadores brasileiros, o pernambucano foi considerado o segundo melhor do Brasil.

De acordo com o levantamento publicado hoje pelo jornal Folha de S.Paulo, a gestão de Eduardo recebeu nota 7,0 da população do Estado, numa escala de zero a dez.. Ficou atrás, apenas, do aprovadíssimo governador de Minas Gerais Aécio Neves (PSDB), um dos nomes colocados no PSDB para a sucessão presidencial, que obteve nota 7,6, mantendo a liderança que já lhe pertencia.

Já o tucano preferido pelos oposicionistas pernambucanos para disputar a sucessão de Lula, José Serra, obteve apenas a quinta colocação na pesquisa, com nota 6,6 conferida pela população de São Paulo. Embora não lidere a pesquisa de aprovação administrativa, Serra permanece isolado à frente da disputa pelo Palácio do Planalto.


O levantamento do Datafolha serve, no mínimo, como advertência para que as oposições em Pernambuco festejem com mais discrição o sonho de retomar o poder no Estado. Afinal de contas, em 2007 – quando o Datafolha realizou a mesma pesquisa – Eduardo Campos ficou na quarta colocação, com nota 6,4. De lá para cá, sua taxa de aprovação cresceu de 40% para 56%., conferindo-lhe a vice-liderança no ranking dos governantes estaduais.

É evidente que a ajuda do governo Lula à gestão socialista tem sido um elemento decisivo para alavancar a popularidade do governador pernambucano, que, com verbas federais, tem garantido a continuidade de obras de relevo no Estado. Com isso, ele vai melhorando sua aceitação e tornando uma missão cada vez mais difícil
a de fazer oposição. Mas é a tarefa dos adversários, e eles garantem que ela será cumprida. Falta apenas definir método e discurso.

Entre os tucanos, por exemplo, é muito mais difícil bater em Eduardo que no Democratas, oponente bem mais duro do socialista. Semana passada – antes de tomar conhecimento da pesquisa Datafolha – o presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra, foi instado, em debate na Rádio JC/CBN, a opinar sobre a gestão de Eduardo, de quem foi correligionário durante muitos anos, no PSB de Miguel Arraes. Para não contrariar os hoje aliados do ex-PFL, o senador sapecou uma nota 2.

Ainda assim, Guerra levou puxões de orelha dentro do seu bloco. Sobretudo porque não conseguiu – quando indagado – apontar os maiores problemas do governo. E é claro que o governo os tem. Não se trata, aqui, de fazer apologia à administração do PSB. Mas seria melhor a oposição se armar com mais informações e, principalmente, com mais cautela, antes de puxar o gatilho.



terça-feira, 24 de março de 2009














Lula, o atrevido

A crise continua passando ao largo do Brasil, um oásis de desenvolvimento e fertilidade econômica. Essa é a primeira impressão que se tem ao acompanhar as idas e vindas do presidente Lula pelo País, a inaugurar obras e prometer ações governamentais por onde passa.

Duas novas demonstrações aconteceram ontem. Dessa vez na terra natal do presidente, Pernambuco. Na pequena Vitória de Santo Antão, na Zona da Mata, Lula inaugurou uma nova unidade da Sadia, que, por enquanto, fabrica apenas mortadela, com matéria-prima “importada” do Mato Grosso. A fábrica é, obviamente, um empreendimento privado, dirigido por Luiz Fernando Furlan, ex-colaborador do governo petista. Mas a justificativa é plausível: ao entrar em funcionamento, gera novos postos de trabalho para a população-eleitora.

Em seguida, o presidente inaugurou um novo braço do Metrorec, na Região Metropolitana do Recife, que, quando estiver pronto, deverá transportar 200 mil passageiros/dia. Mas depois de a obra se arrastar por dez anos, ontem ainda operava com apenas 10% dessa capacidade. Se vier a ser concluída em tempo hábil, também rende votos.

Nas duas solenidades, o de sempre: um Lula sorridente para os fotógrafos, otimista para os repórteres, comendo mortadela, andando de metrô e discursando. O tom? Nada de novo: o pior da crise econômica já passou, mas é preciso não contingenciar investimentos. Ao contrário, é preciso investir, gastar para gerar mais emprego e consumo.

Essa é a fórmula do presidente para vencer a crise. Falta combinar com o empresariado, que parece discordar completamente. Caso contrário, já não teria eliminado cerca de 750 mil postos de trabalho, segundo dados do Dieese, como medida de contenção, desde o agravamento da crise mundial.

Outra ladainha cada vez mais repetitiva de Lula é a de que não está fazendo política eleitoral nas viagens. Dessa vez, é verdade, não veio com a ministra-presidenciável Dilma Rousseff (PT) a tiracolo. Ela tinha outros compromissos. Mas nem por isso faltou mote para o discurso eleitoral.


Primeiro, o presidente voltou a defender a reeleição do governador Eduardo Campos (PSB), seu fiel aliado desde o início do primeiro mandato. Depois, rebateu as críticas do senador Jarbas Vasconcelos, voz isolada de oposição dentro do PMDB, reduto mais que governista.

Lula esperou bem a deixa. Aproveitou para devolver as pancadas de Jarbas no Estado natal do senador, que mantém sob mira firme o uso eleitoral de programas federais como o Bolsa-Família e o PAC.

Mesmo com a popularidade em queda, o presidente insiste em não demonstrar preocupação com a crise econômica, embora nos bastidores ela não lhe saia da cabeça. E quando sai, ele se ocupa em antecipar a sucessão de 2010, botando lenha na fogueira de uma discussão que – em nome da estabilidade – deveria adiar.

São posturas atrevidas, pelas quais Lula poderia pagar bem mais caro, não fosse a política brasileira algo tão peculiar como, de fato, é.





segunda-feira, 23 de março de 2009











E agora, Jarbas?

“Não tenho mais projeto político pessoal. Já fui prefeito duas vezes, já fui governador duas vezes, não quero mais. Sei que vou ser muito pressionado a disputar o governo em 2010, mas não vou ceder. Seria uma incoerência voltar ao governo e me submeter a tudo isso que critico.”

A afirmação é do senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), à revista Veja, naquela polêmica entrevista na qual chamou o PMDB de “corrupto” e confessou estar totalmente desiludido com a política.(leia aqui)

Ontem, porém, ao participar de encontro do PMDB em Petrolina, no São Francisco, o senador voltou atrás. Não se declarou candidato ao governo do Estado pela terceira vez, em 2010. Mas também não negou a candidatura, exaltada por todos os peemedebistas e representantes de partidos aliados, presentes ao ato.

Jarbas pode mesmo estar decepcionado com a política. Mas ainda é um político de grande porte, e, com tal, sabe que seu nome é o único capaz de fazer frente à estratégia de reeleição do governador Eduardo Campos (PSB), seu desafeto político. Sendo assim, seria um erro descartar a possibilidade de enfrentá-lo. Estaria desmontando o pouco que restou de oposição no Estado, congregada no PMDB, PSDB, DEM e PPS.

Na verdade, Jarbas não é candidato. Não agora. E quem o conhece sabe que ele trabalhará com todas as forças para não ser. Quer mesmo é colocar alguém à frente dessa missão, um tanto ingrata, de enfrentar a máquina estadual, amparada pelo governo federal – de quem Eduardo é um fiel aliado.

E mais ainda: o atual governador saiu das eleições municipais de 2008 com um batalhão de cerca de 140 prefeitos aliados. Não satisfeito, Eduardo trabalha incansavelmente para atrair para si o resto dos governantes municipais que sobraram no lado oposicionista, cerca de 40 prefeitos.

Já conseguiu uns três ou quatro. Mas está só começando. Munido de uma gorda fatia de recursos federais, e da simpatia pessoal que o presidente Lula nutre por ele, Eduardo fez apenas uma primeira viagem ao Sertão, na semana passada. A primeira de uma série que pretende cobrir todos os municípios do Estado antes da batalha de 2010 começar. E aí, vai ficar bem difícil a situação do candidato de oposição.

Jarbas sabe bem disso. E para ele, bem melhor a situação de permanência em Brasília. A partir de 2010, o peemedebista ainda terá pela frente mais quatro anos de Senado, nos quais poderá se destacar como apoiador de José Serra (PSDB) – forte candidato à sucessão de Lula – e como padrinho de um processo de moralização do Legislativo que parece estar caminhando, ainda que lentamente.

Mas como político vive mesmo de eleição, nada impede que o ex-governador recue do que afirmou à Veja – num momento de real desilusão pessoal – e assuma a candidatura. Até porque, ninguém duvida, dela depende o sucesso da eleição de deputados federais e estaduais de oposição, que precisam de um majoritário forte para liderá-los. E mais ainda: a ela estão atreladas quaisquer chances de reeleição dos atuais companheiros de Senado de Jarbas: Marco Maciel (DEM) e Sérgio Guerra (PSDB).

Em se consolidando o cenário da disputa entre Eduardo e Jarbas, ao contrário do que aconteceu em 1986 e em 1994 – quando Miguel Arraes (PSB) atropelou as fraquíssimas candidaturas de José Múcio (PFL) e Gustavo Krause (PFL), respectivamente – teremos um verdadeiro clássico em Pernambuco. Dois arqui-inimigos fortes disputando o poder. O primeiro, com três máquinas administrativas nas mãos – a federal, a estadual, dele próprio, e as municipais – e o segundo, com um discurso poderoso e uma credibilidade que poucos políticos já conseguiram ganhar e manter.

Até lá, porém, como disse o próprio Jarbas, ainda tem muita água pela frente.

sábado, 21 de março de 2009













Antropofagia política

A oposição tinha mesmo que comemorar a queda da popularidade do presidente Lula nas pesquisas divulgadas ontem. Afinal, sem fôlego para contestar as ações do governo, por ser minoritária, aposta no desgaste natural - acentuado pela crise econômica - para chegar em 2010 com munição suficiente para dar combate à candidatura governista, provavelmente a da ministra Dilma Rousseff (PT).

A estratégia foi admitida pelo senador Sérgio Guerra, presidente nacional do PSDB. Para o tucano, a crise, somada à gritaria do governo - que segundo ele, fala muito mais do que realmente faz - serão instrumentos valiosos para a oposição na campanha, porque farão com que Lula perca força política.

Sem querer ser clichê, e já sendo, é o velho chavão de apostar no "quanto pior, melhor". Afinal, se o governo consegue vencer os efeitos negativos da crise e, ao mesmo tempo, tocar concretamente as obras e ações que iniciou, melhor para a população. Ou não?

É claro que o objetivo maior de todo partido é o poder. Mas chegar a ele investindo no sacrifício do próprio povo é, no mínimo, não merecê-lo. Mais correto seria oferecer alternativas melhores que as implementadas pelo governo, dando ao eleitor a oportunidade de escolher entre a continuidade do que está sendo feito ou apostar em algo ainda mais arrojado.

A oposição, inclusive, torce pelo no fracasso do governo Lula também para reconquistar o poder em Pernambuco, um dos Estados onde o Planalto mais investe em ações federais, sobretudo do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). A "quebra" do governo Lula, por tabela, enfraqueceria a gestão de Eduardo Campos (PSB), até agora bem avaliada pela população, facilitando o discurso adversário.

A perspectiva oposicionista é, de fato, sombria. Sem muito para criticar, se arma com uma expectativa negativa, em busca de assumir o comando e, assim, mostrar que sabe fazer melhor do que os adversários.

Se o fizer, não estará fazendo mais que sua obrigação, já que jogou fichas tão altas na briga pelo poder. Mas se não o fizer, terá sacrificado um projeto em andamento que poderia ter dado certo, com uma maior colaboração de todos. Mas isso seria ir contra a natureza antropofágica da política brasileira.

sexta-feira, 20 de março de 2009













Lula aguenta?

Nuvens escuras começam a se juntar sobre o Planalto Central. As chuvas e trovoadas não estão descartadas. E embora esteja distante do oceano, o governo enfrenta a ameaça de uma ressaca das mais fortes.

De fato, os efeitos da crise econômica começaram a se fazer presentes pelas bandas de Brasília de uma forma que nem mesmo o presidente Lula, do alto do seu otimismo, pode deixar de sentir. É o que comprova a pesquisa Datafolha divulgada hoje pelo jornal Folha de S. Paulo, que aponta a primeira queda na popularidade de Lula, após vários meses em ascensão.

Os sinais de que a crise pegou o presidente estão claros nos cinco pontos percentuais perdidos na sua popularidade, de novembro para cá. Coincidentemente, período em que a crise econômica se agravou. Na última avaliação, Lula dispunha de confortáveis 70% de aprovação do eleitorado. Quatro meses depois, recebeu 65% de sinais positivos.

Ainda é muito. Nunca na história deste País um presidente da República chegou a patamares tão elevados. FHC, no auge do Plano Real, obteve 47%, e a partir daí, rolou ladeira abaixo. Embora afetada pela crise, a imagem de Lula sofreu, até agora, apenas alguns arranhões. Resta saber se ele aguenta o tranco que vem por aí, embalado na tsunami da crise, que ele classificou como "marolinha".

E não se trata apenas da crise. Inevitavelmente, o novo desgaste sofrido pelo Senado - às voltas com novas denúncias de corrupção, inclusive dos seus 181 "diretores" - deve respingar no Planalto. Até porque a briga na Casa envolve os dois principais partidos da base aliada do governo: PT e PMDB.

Mas voltemos aos efeitos diretos da crise, que a cada dia faz com que Lula desperte com um pesadelo diferente. Depois da onda de demissões em massa, provocada pelos abalos no mercado internacional e contra a qual ele pouco pôde fazer, agora vem o anúncio do corte de R$ 21,6 bilhões no Orçamento de 2009, graças à queda na arrecadação de impostos nos dois primeiros meses do ano.

O que falta acontecer? Bom, talvez o registro - feito pelo Datafolha - de que o candidato favorito à sua sucessão continue sendo um opositor, José Serra (PSDB). A pesquisa de ontem mostra que o tucano mantém a liderança com folga, oscilando em torno dos 45%.

Um alento para Lula, talvez, é saber que depois de todos os seus esforços, rodando o país de cima a baixo, conseguiu fazer com que a ministra Dilma Roussef, presidenciável do PT, ganhasse uns pontinhos. Ela agora anda empatada com a candidata do PSOL, ex-senadora Heloísa Helena, lá pelo patamar dos 10% das preferências.

Se não houvesse crise econômica internacional, se a "marolinha" não varresse o Brasil, se não tivesse problemas com os aliados no Legislativo, se não enfrentasse sucessivas denúncias contra setores do governo e se tivesse um pouco mais de dinheiro para injetar no orçamento, talvez Lula estivesse mais sorridente. Mas falta pouco mais de um ano para a campanha começar, e, do jeito que as coisas vão, pode ser que nem mesmo um otimista compulsivo como Lula aguente tanta pressão.

quinta-feira, 19 de março de 2009












Revivendo antigas práticas

Que a campanha de 2010 começou cedo, todo mundo já sabe, já sentiu. Chega a parecer normal, num País que vive eleições a cada dois anos. A novidade é que, quando se pensa que as campanhas estão evoluindo para um nível mais alto, voltam à cena antigos métodos.

A iniciativa da direção estadual do Democratas de visitar os 184 municípios pernambucanos, sob a justificativa de "mapear os problemas", é um exemplo clássico. Na tentativa de fazer frente à peregrinação do governador Eduardo Campos (PSB) pelo interior - iniciada na semana passada no Sertão - o DEM (ex-PFL) adota um discurso muito próximo ao que era utilizado pelos seus próprios adversários, outrora na oposição.

O partido apregoa que as viagens de Eduardo tem como objetivo apenas fazer "oba oba" do seu governo. Ora, até onde se sabe, quem governa costuma alardear o que faz. E até o que não faz. Basta lembrar o forte marketing da gestão Jarbas Vasconcelos/Mendonça Filho (PMDB/DEM). Durante oito anos, a chamada aliança jarbista se empenhou em tocar obras de vulto por todo o Estado. A duplicação da BR 232 e o desenvolvimento do Complexo de Suape são dois bons exemplos. E assim como soube tocá-las, soube muito bem propagandeá-las.

Mas eis que o comando é passado às mãos dos adversários. E dois anos após tomar posse, Eduardo Campos sai às ruas do Estado exatamente para alardear as ações da sua gestão, e - antes que comecem a me chamar de "eduardista" -, as que deu continuidade, herdadas da gestão anterior.

Está no seu papel, uma vez que a legislação permite ao governante fazer seu marketing, como fizeram Jarbas/Mendonça e como o faz, agora, Eduardo. Ao mesmo tempo, o estado democrático de direito - conquistado a duras penas - admite o discurso oposicionista livre.

Curioso, porém, é o fato de o Democratas se utilizar do antigo estilo da crítica pela crítica para fazer oposição. Sobretudo após a disputa municipal do ano passado, quando o candidato do DEM à Prefeitura do Recife, Mendonça Filho, fez questão de promover uma campanha a mais propositiva possível.

O DEM só partiu para a briga franca quando seus conselheiros concluíram que o discurso propositivo não estava conseguindo deter a máquina da candidatura João da Costa (PT). Ainda assim, mesmo tornando a campanha mais agressiva, o embate político foi travado, na maior parte, no tapetão, com tentativas de embargo e impugnação na Justiça Eleitoral.

Esta semana, porém, a conversa foi outra. Seguindo os passos de Eduardo, Mendonça e aliados foram ao interior na busca de fortalecer o DEM, mas terminaram por lançar mão de práticas que, ao que parece, não surtem mais tanto efeito no eleitor como há décadas atrás. Não seria melhor o partido evitar o bate-boca, concluir sua caravana, mapear os problemas, analisá-los e apresentar suas propostas? O eleitor agradece.


quarta-feira, 18 de março de 2009









Está tudo dominado

O governo Lula deu, ontem, uma dura rasteira na oposição. Contou, para isso, com a preciosa ajuda do presidente da Câmara, deputado Michel Temer (PMDB-SP), autor da proposta que permite dar andamento à pauta de votações da Casa, mesmo que existam medidas provisórias aguardando apreciação.

De acordo com a emenda 32 à Constituição, as MPs editadas pelo presidente da República tem prioridade absoluta, e após 45 dias de tramitação, nada mais pode ser votado no Legislativo antes que elas sejam submetidas ao voto dos deputados e senadores. Pela nova interpretação de Temer - acatada pelos líderes governistas - a partir de agora as MPs trancam apenas a votação de leis ordinárias. Mas não impedem que os deputados discutam e votem propostas de emenda constitucional, leis complementares, projetos de resolução e outras matérias afins, em sessões extraordinárias.

Com a decisão, vai por água abaixo um instrumento precioso da oposição, que costumava aproveitar as MPs para obstruir as votações no plenário e, assim, ganhar tempo para combater o governo. Irritados, os líderes oposicionistas vão hoje ao Supremo Tribunal Federal protocolar uma ação contra a decisão do presidente da Câmara, que classificam de "arbitrária".

O paradoxo nisso tudo é que a própria oposição não cansa de criticar o governo por fazer do Congresso um apêndice do Palácio do Planalto, acusando-o de editar sucessivas MPs. De fato, elas neutralizam o Legislativo, porque permitem que o Executivo legisle, prerrogativa para a qual os deputados e senadores foram eleitos.

Especialista no tema das MPs, o advogado pernambucano Eduardo Pugliesi analisa que as leis ordinárias estão "fora de moda" na gestão de Lula, que se habituou a governar por meio desse novo instrumento. Segundo Pugliesi, o que interessa de verdade ao Planalto é a votação de emendas constitucionais e projetos de resolução. Daí porque a iniciativa de Temer encontrou total respaldo - e talvez inspiração - no Planalto.

Quanto às MPs, elas vigoram por 60 dias, prorrogáveis por mais 60, até que sejam aprovadas pelo Congresso e se transformem em lei ou percam o efeito jurídico. É aí que entra o braço político do governo. Se for do seu interesse que elas se mantenham, como leis, basta Lula - extremamente majoritário na Casa - mandar sua bancada aprová-las.

terça-feira, 17 de março de 2009










Um novo conto da carochinha

As posturas eram de confiança. As fisionomias, sorridentes. Mas o discurso sobre uma unidade absoluta do partido parecia uma coisa ensaiada. Esse foi o cenário da primeira aparição conjunta dos governadores José Serra (SP) e Aécio Neves (MG) desde que ambos declararam abertamente ter interesse pela indicação como candidato do PSDB à Presidência da República em 2010.

Aconteceu ontem, no Recife. Os dois chegaram juntos ao lançamento do livro de memórias do ex-ministro da Justiça, Fernando Lyra, e, tanto lá como no ato político realizado depois pelos tucanos locais, na sede do partido, ambos eram só gentilezas. "Se alguém me vir com o dedo no olho do Aécio, estou só lhe tirando um cisco”, brincou um sorridente Serra, diante do rival, que devolveu a cortesia, bem à moda mineira: “Eu e Serra vamos estar unidos em 2010, para desconforto e desencanto de alguns”.

Uma postura como essa chega a parecer brincadeira, só que de mau gosto. Ao menos para o eleitor mais atento, que acompanhou o mínimo do noticiário político recente e sabe da disposição dos dois presidenciáveis tucanos de atropelar um ao outro, se for preciso, para ganhar a briga pelo direito de disputar o Palácio do Planalto.

Do alto do seu favoritismo nas pesquisas, Serra vinha sendo enfático ao combater a realização de prévias internas no PSDB para definir o nome do candidato. Aécio, bem menos citado nas pesquisas, estava remando no sentido contrário, defendendo as prévias com todo empenho. Sabe que, com um discurso mais moderno que o do concorrente e uma administração com índices de popularidade maiores, pode tentar convencer os correligionários de que o paulista já teve a sua chance, em 2002, e desperdiçou.

Ontem, porém, bem ao estilo do líder maior tucano, Fernando Henrique Cardoso, ambos esqueceram tudo o que disseram. Em nome da “unidade”, caíram na mera retórica eleitoral, afirmando que o PSDB está unido contra o lulismo e disposto a apresentar um programa novo para o País.

Aécio foi o primeiro a derrapar no contraditório. Primeiro, afirmou que, no futuro, os historiadores vão apontar o período de FHC e Lula como um só, “voltado para a estabilização econômica”. Em seguida, disse que o eleitor terá que escolher entre o que será proposto pela “candidatura da continuidade” e pelo PSDB. Serra, menos falante, resumiu: “A divergência entre mim e o Aécio é zero. Tudo não passa de folclore”.

Trocando em miúdos, a situação atual no PSDB é a seguinte: as prévias ainda são uma dúvida. O nome do candidato também. E o discurso ainda não está afinado. A única opinião unânime é a de que o partido está perdendo tempo, enquanto os adversários governistas correm o País, já bastante adiantados.

Com tudo isso pesando contra, como se espera que o eleitor acredite que o clima é de paz e unidade? Os tucanos, mais uma vez, estão em cima do muro, sem um rumo definido. Nem na teoria, nem na prática.


segunda-feira, 16 de março de 2009

A transição democrática vista por dentro

Um relato pessoal, com a visão de testemunha ocular da história. É esse o tom do livro de memórias Daquilo que eu sei - Tancredo e a transição democrática, que o ex-ministro da Justiça, Fernando Lyra, lança hoje, às 18h, no Paço Alfândega, Recife Antigo. O livro, editado pela Iluminuras, tem cerca de 300 páginas e traz algumas revelações interessantes sobre os bastidores do processo de abertura.

O relato de Lyra, porém, está longe de ser um documento puramente histórico. Antes disso, é uma análise de vários episódios que antecederam a eleição de Tancredo Neves no Colégio Eleitoral, em 1985, e do período imediatamente posterior, o governo de José Sarney, que assumiu por conta da morte do titular, às vésperas da posse.

Se ao longo dos seus 42 anos de vida pública - durante os quais, além além do ministério, exerceu sete mandatos federais e um estadual - Fernando Lyra sempre levantou polêmicas, o livro, essa característica não ficaria de fora do livro. Em vários trechos da narrativa, ele traz versões analíticas, por vezes surpreendentes. Parte delas, ao discorrer sobre a atuação do deputado Ulysses Guimarães, ideólogo do MDB e, para muitos, o maior ícone da transição.

Para muitos, mas não para Lyra. Ele deixa claro, em algumas passagens, o caráter individualista de Ulysses, que muitas vezes trabalhou de forma pessoal para tentar atingir seu sonho de ser presidente da República. Mas nem por isso o autor deixa de fazer justiça ao ex-presidente da Assembléia Nacional Constituinte, ressaltando sua importante contribuição para o processo de redemocratização.

O ex-presidente José Sarney também é alvo de uma visão bastante crítica de Lyra, que por 11 meses foi seu auxiliar, como ministro da Justiça, embora tivesse sido alçado ao cargo a partir de um compromisso assumido por Tancredo. O ex-deputado fala sobre seu trabalho, na pasta, para remover o "entulho autoritário", ou seja, a censura. Explica também porque chamou Sarney de "a vanguarda do atraso", e esclarece que foi o ex-presidente, e não ele, Lyra, o responsável por censurar o polêmico filme Je Vous Salue Marie, de Jean-Luc Godard.

Por último, Fernando Lyra fala da sua candidatura a vice de Leonel Brizola em 1989, e de como, a partir dali, passou a experimentar uma grande desilusão com a política, que o levou à derrota em 1990 na tentativa de renovar o mandato, reconquistado, porém, em 1994.

A desilusão, ele diz ter "curado" em 2006, quando coordenou a campanha de Eduardo Campos (PSB) ao governo de Pernambuco. Eduardo, aliás, juntamente com o governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB) - neto de Tancredo Neves - são citados por Lyra como os dois nomes que representam melhor o futuro da política brasileira.



sábado, 14 de março de 2009

Serra e Aécio juntos no Recife

Depois de meses de debate sobre a necessidade de prévias para a escolha do candidato do partido à sucessão do presidente Lula, os presidenciáveis do PSDB Aécio Neves e José Serra farão, segunda-feira, no Recife, uma aparição conjunta. A idéia é mostrar que - embora ambos desejem a indicação em 2010 - não há perspectiva de racha na legenda. Pelo contrário, o clima seria de unidade.

Em princípio, estava prevista a visita apenas do governador mineiro. Aécio teria uma agenda de várias reuniões com parlamentares, prefeitos e lideranças tucanas de Pernambuco, a partir do meio dia, além de participar, à noite, do lançamento do livro de memórias do ex-ministro da Justiça de Sarney, Fernando Lyra, um dos principais articuladores da candidatura do seu avô, Tancredo Neves, à Presidência da República, no Colégio Eleitoral de 1985.

Com as mudanças, definidas ontem à tarde pelo presidente nacional do PSDB, o senador pernambucano Sérgio Guerra, o governador de São Paulo incorpora-se à programação. Mas os dois presidenciáveis só chegarão ao Recife às 18h, indo direto para o lançamento do livro de Fernando Lyra. Depois, participam ambos de uma reunião ampliada do partido - com deputados federais, estaduais, prefeitos, vereadores e lideranças tucanas - e seguem para um jantar na casa de Sérgio Guerra, para o qual também foram convidados os líderes do PMDB e DEM, partidos que, junto com o PSDB, formaram em Pernambuco a antiga aliança jarbista.

Como Jarbas, Marco Maciel, Mendonça Filho e tantos outros antigos aliados estarão no jantar, o evento significará um impulso a mais nas articulações já iniciadas para reconstruir a aliança no Estado e enfrentar o projeto de reeleição do governador Eduardo Campos (PSB) no próximo ano.

A tentativa de juntar Aécio e Serra e demonstrar unidade no partido é louvável. Mas para observadores mais atentos, fica claro que o que os tucanos pretendem, mesmo, é mostrar força diante do crescimento da candidatura rival, da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, presidenciável do PT, que vem passeando pelo País em busca de respaldo ao seu nome. E com o aval de Lula.

Colocando Serra e Aécio juntos, o PSDB ganha corpo. Mas assim que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidir as regras, o partido deve mesmo partir rumo às prévias, e a rivalidade entre os dois governadores voltará à tona. Enquanto isso, porém, tudo são flores no tucanato.

sexta-feira, 13 de março de 2009













Marolinha econômica, tsunami político

Até o momento, o presidente Lula parece estar conseguindo convencer a população de que pode mesmo se manter firme na prancha, surfando na "marola" da crise econômica, sem maiores respingos na sua popularidade. Mas a maré anda mudando tão rápido que, se não ficar esperto, Lula pode assistir à sua popularidade levar um tombo dos grandes nos próximos meses.

O alerta vem sendo feito nas últimas semanas por analistas políticos do próprio Palácio do Planalto. O presidente tem sido advertido para que, embora mantenha os discursos otimistas que vem fazendo pelo País, comece a olhar com mais cautela para os efeitos imediatos da crise.

Dois deles são, no mínimo, preocupantes: primeiro, a queda de 3,6% do Produto Interno Bruto (PIB), a maior registrada desde 1996. Por tabela, o PIB puxou para baixo a taxa de juros, reduzida pelo Copom esta semana em 1,5 ponto percentual, maior corte desde novembro de 2003. Se, por um lado, a redução tenta melhorar o PIB no próximo trimestre, por outro assusta investidores, sobretudo os estrangeiros.

O segundo efeito imediato da crise, porém, é o que pode efetivamente dar uma rasteira na popularidade presidencial. Uma pesquisa encomendada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), divulgada ontem, revela que 80% dos empresários brasileiros adotaram medidas de contenção, e 54% já começaram a demitir funcionários. Somente em São Paulo, 236,5 mil já foram dispensados.

Produto Interno Bruto e taxa de juros são temas difíceis para a maioria da população. Mas o emprego, ou melhor, a falta dele - que significa, trocando em miúdos, falta de comida na mesa - é um fator capaz de desmanchar qualquer tipo de discurso político, seja ele otimista ou mesmo realista.

No setor público, além do Planalto anunciar para este mês o contingenciamento de R$ 19 bilhões destinados às emendas parlamentares, há o agravamento dos problemas dos prefeitos, às voltas com cortes profundos nos repasses do Fundo de Participação dos Municípios (FPM). Essa é a verba que, via de regra, sustenta as cidades pequenas e garante não só obras e serviços, mas os salários dos servidores.

Esses sinais da crise já se mostravam há alguns meses, embora o presidente tenha insistido no discurso da "marolinha", preocupado, inclusive, com seus efeitos sobre a disputa sucessória de 2010, que envolve a sua candidata, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff.

Lula, é claro, nega que esteja relacionando as duas situações. Mas de acordo com seus próprios analistas, se continuar a pintar apenas um cenário confortável nos seus pronunciamentos, ele pode amargar em breve um revés político, provocado pelo cenário real. E ver comprovada a máxima que diz que um bom discurso pode até sustentar a política, mas jamais conseguirá segurar a economia.


quinta-feira, 12 de março de 2009















Jarbas e os grampos

O senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) disse ao blog, agora pela manhã, que aceitou o convite da CPI dos Grampos para prestar esclarecimentos sobre a arapongagem da qual estaria, segundo denunciou, sendo vítima. Ele informou ainda que também vai prestar depoimento à Polícia Federal sobre o assunto.

Em discurso na tribuna do Senado - e ainda em uma segunda entrevista à revista Veja desta semana - Jarbas afirmou ter tomado conhecimento de que sua vida estava sendo investigada por detetives de uma empresa do exterior. Coincidentemente, as investigações teriam começado após as críticas contundentes que fez ao PMDB nas páginas amarelas de Veja, na edição da semana passada (leia aqui), na qual chamou o partido de "corrupto" e atacou diretamente o presidente do Senado, José Sarney e o líder da legenda na Casa, Renan Calheiros.

Ontem, os integrantes da CPI dos Grampos instalada na Câmara dos Deputados decidiram convidá-lo para narrar a situação. Jarbas soube da arapongagem, segundo contou à Veja, por meio de um detetive de Pernambuco que teria sido contactado pela referida empresa de investigações, para vasculhar seus antecedentes, documentos e outros dados que conseguisse apurar sobre ele. O detetive, no entanto, teria procurado o senador após saber de quem se tratava, e contado tudo.

"Estou disposto a colaborar, tanto com a CPI como com a Polícia Federal. Vou fornecer todos os dados que eles me pedirem", disse Jarbas, sem, no entanto, revelar que informações pretende repassar.

Ele afirmou não ter conhecimento se José Sarney já teria enviado ofício ao procurador-geral da República, pedindo providências para investigar a arapongagem. Ironicamente, Sarney se antecipou e prometeu, no início desta semana, mandar investigar o caso de arapongagem envolvendo o correligionário "rebelde".

Mas, segundo o próprio Jarbas, na tribuna do Senado, o presidente da Casa distorceu suas declarações, ao afirmar que iria apurar se havia envolvimento do PMDB nas investigações sobre a vida dele.

"Não tenho uma prova material, por isso não posso fazer uma acusação direta. Mas não tenho dúvidas de que a tentativa de espionagem partiu do PMDB. Não tenho inimigos pessoais nem adversários políticos de fora do partido que tenham interesse em espionar minha vida", afirmou o senador pernambucano à Veja desta semana.

Jarbas aguarda as comunicações oficiais da CPI dos Grampos e da Polícia Federal para prestar esclarecimentos.




terça-feira, 10 de março de 2009











Terceira via incômoda

Ocupado com suas andanças pelo interior de Pernambuco - onde pretende, de uma só tacada, visitar 39 cidades - para consolidar sua administração e, de quebra, pavimentar o caminho para a reeleição em 2010, o governador Eduardo Campos, ao retornar ao Recife, deverá dedicar especial atenção a outra atividade. Como presidente nacional do PSB, caberá a ele a tarefa de freiar as investidas, cada vez mais fortes, do deputado federal socialista Ciro Gomes, que nas últimas semanas intensificou as movimentações pelo País na tentativa de se consolidar como uma terceira via na disputa pela Presidência da República.

Com o PSDB em clima de indefinição entre os nomes dos governadores José Serra (SP) e Aécio Neves (MG), e o PT às voltas com os ataques da oposição à pré-campanha da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, Ciro tem enxergado um "caminho do meio" para impor seu nome no quadro de presidenciáveis. Ainda que, mais próximo do pleito, seja forçado a retirá-lo. Mas o fato é que, por enquanto, ele se diz candidatíssimo, sob o discurso - de certa forma, plausível - de que no palanque governista cabem duas postulações.

Ciro Gomes não é uma ameaça ao governo, de quem é aliado. O problema maior é do próprio Eduardo Campos, ex-ministro de Lula e um fiel aliado do Planalto. O governador pernambucano, inclusive, já patrocinou algumas aparições públicas de Dilma Rousseff envergando as vestes de presidenciável, embora em nenhum momento - é bom que se diga - tenha assumido a defesa veemente da candidatura, ao contrário do que fazem alguns petistas locais, como o ex-prefeito João Paulo.

Cauteloso, Eduardo sabe que, no comando do PSB, seria um contrasenso se colocar declaradamente a favor de um nome petista em detrimento de um correligionário. Principalmente em se tratando de Ciro Gomes, cujo temperamento difícil desaconselha um confronto direto, sobretudo se for travado em público.

Nos bastidores, porém, sabe-se que Eduardo torce pela ministra petista, até pela fidelidade que tem a Lula, criador e maior entusiasta da candidatura Dilma. Mas quem o conhece sabe que ele não tornará pública essa preferência até que os ânimos dentro do PSB tenham sido amainados.

Enquanto isso, no entanto, caciques da direção socialista, como o deputado Beto Albuquerque (RS) - segundo vice-presidente nacional do PSB e um dos vice-líderes do governo Lula na Câmara - e o senador Renato Casagrande (MG), secretário-geral do partido, compraram a ideia da pré-candidatura de Ciro Gomes e já trabalham nas bases para consolidá-la.

Albuquerque exibe, para quem quiser ver, os índices das atuais pesquisas de intenção de votos, que conferem a Ciro Gomes índices em torno de 15%. E diz que números assim merecem, no mínimo, atenção. Já Casagrande, líder da bancada socialista no Senado, usa a máxima futebolística que diz que "quem pede tem preferência, e quem se desloca, recebe".

O freio de arrumação, portanto, tem que ser dado agora pelo presidente nacional da legenda. Se Eduardo deixar para depois, pode ser tarde demais.


segunda-feira, 9 de março de 2009










Nas sombras de 64

Embora movida pelo impacto das notícias de que vários ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) estariam sendo alvos de escutas telefônicas, a CPI dos Grampos - instalada em dezembro na Câmara dos Deputados - pouco produziu de concreto. Na semana passada, a comissão chegou a anunciar para esta terça-feira (10/03) a conclusão dos trabalhos e votação do relatório final do deputado Nelson Pellegrino (PT-BA). Uma peça "pilateana", segundo informações da própria Câmara, na qual ele lavava as mãos, sem nominar culpados pelas escutas.

Por coincidência - ou melhor dizendo, ironia - os integrantes da CPI por uma questão de dias não se viram num vexame ainda maior diante da opinião pública: aprovar um relatório frio e inconclusivo e, logo em seguida, ver estourar o mais novo escândalo nacional, protagonizado pelo delegado Protógenes Queiroz, da Polícia Federal, responsável por uma das maiories operações já realizadas, que culminou com a prisão e condenação do banqueiro Daniel Dantas, dono do Opportunity.

Para quem não acompanhou bem os fatos:

No fim de semana passado, reportagem de capa da revista Veja revelou que o delegado foi flagrado pelos seus próprios pares vasculhando de forma ilegal a vida de várias personalidades políticas do País. Em seu computador pessoal, Protógenes dispunha de um verdadeiro arsenal de gravações clandestinas e documentos, também obtidos de forma ilegal, com detalhes que vão desde a vida amorosa da ministra Dilma Rousseff às conversas do presidente do STF, do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e mesmo de um filho do presidente Lula. Resta esperar suas explicações sobre a finalidade daquele material colhido se ordens superiores.

A ação de Protógenes provoca calafrios pelas semelhanças com os métodos utilizados pelo extinto Serviço Nacional de Informações durante o regime militar pós-64. A diferença é que o SNI vasculhava a vida alheia livremente porque o País nao vivia no estado democrático de direito. Hoje, em dias de democracia plena, a iniciativa do delegado da PF é talvez mais grave.

Na avaliação do ex-deputado federal constituinte Egídio Ferreira Lima - fundador do antigo MDB e um dos maiores defensores da redemocratização no Brasil - a sociedade conseguiu identificar essa nova bandalheira graças, sobretudo, à liberdade de imprensa conquistada aós a redemocratização. Nos anos de chumbo, lembra o jurista e ex-parlamentar, ainda que o delegado fosse chamado a responder pelas suas ações, as notícias do escândalo jamais chegariam ao conhecimento do público, e muito menos dos investigados. Estariam fadadas a mofar nas gavetas da repressão.

Quanto aos métodos nada ortodoxos de Protógenes Queiroz, Egídio Ferreira Lima diz ue o fazem lembrar épocas de regime fechado como no Estado Novo de Getúlio Vargas e na ditadura instalada em 1964. Um dos autores do projeto de lei da Anistia, o ex-deputado lamenta o fato, e insiste: vivemos num estado democrático, com liberdade de expressão e imprensa.

Mas é preciso não confundir liberdade plena com libertinagem. Ou pior, para usar uma palavra que voltou à moda: arapongagem.


domingo, 8 de março de 2009

Acelerando candidaturas

Se depender do andamento das propaladas obras incluídas o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) - carro-chefe do governo Lula - a oposição terá munição de sobra para dar o pontapé inicial na pré-campanha dos seus candidatos à Presidência da República, fazendo frente às andanças da presidenciável do PT, Dilma Rousseff, ministra da Casa Civil e "mãe" do PAC pelo Brasil.

Uma série de reportagens dos jornalistas Giovanni Sandes e Renato Lima, da editoria de Economia do Jornal do Commercio, revela - de hoje até terça-feira - as diferenças entre o discurso e a prática no que é apontado pelos petistas como o maior programa de desenvolvimento do País. Segundo apuraram os repórteres, somente 0,6% de todas as obras financiadas pelo PAC em Pernambuco estão concluídas. Para deixar mais claro: 99,4% das obras ainda estão em andamento ou sequer foram iniciadas. Isso após dois anos desde que o programa foi deflagrado. No País inteiro, ainda de acordo com o levantamento, somente 8% dos projetos contemplados pelo PAC chegaram ao término.

Sem conhecimento mais profundo sobre o assunto, seria injusto afirmar se os números estão ou não dentro do esperado pelos coordenadores do PAC. Mas, sem dúvida, é muito pouco, se levarmos em conta o otimismo do discurso político e a intensa movimentação do presidente Lula e de sua candidata à sucessão feitos pelo Brasil afora, apregoando as vantagens do programa, numa clara exploração político-eleitoral.

Os pequenos índices são um prato saboroso para a oposição, que já começou a atacá-los pela imprensa. Haja visto as recentes declarações do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) a respeito do assunto (veja texto publicado logo abaixo), criticando o uso político do PAC e as diferenças entre o discurso adotado por Lula e Dilma e a prática apontada pelos números.

Ao contrário do Bolsa-Família - programa assistencial que norteou o primeiro mandato petista e garantiu uma elevada popularidade do governo nas camadas economicamente menos favorecidas da população - o PAC mexe com obras de pedra e cal, visíveis a olho nu. E embora traga no próprio nome a proposta de aceleração do desenvolvimento, o atraso no cronograma da ampla maioria das obras bancadas pelo programa deixa uma brecha perigosa para as futuras disputas eleitorais.

Afinal, se um veículo de comunicação, em uma breve visita às obras - ou aos locais aonde elas deveriam estar sendo executadas - pôde constatar que o discurso é bem diferente da prática, imagine o estrago que a oposição, com uma estratégia bem articulada e com acesso aos balanços, relatórios e documentos do PAC pode fazer?

sábado, 7 de março de 2009













Gritaria tucana

Devagar e aos poucos, o PSDB vai entrando no confronto direto com o presidente Lula e sua candidata, a presidenciável petista Dilma Rousseff. O embate - que já era de se esperar - tem envolvido nomes graúdos do tucanato. O maior deles, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, bate forte todas as vezes que surge uma oportunidade.

Como quem não quer nada, aproveita as solenidades e atos públicos para alfinetar os adversários, mirando, obviamente, na disputa de 2010. Ontem, o ex-presidente voltou à carga de forma direta: acusou o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) - carro-chefe do governo Lula - de ser um mero instrumento eleitoreiro. E atacou: "O PAC não funciona não por falta de recursos, mas por incompetência de quem o gerencia". E quem o gerencia? Dilma Rousseff.

Defensor da candidatura do seu ex-ministro da Saúde, o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), ao Planalto, FHC afirmou que a cada dia o governo Lula anuncia medidas de impacto com o PAC, que não se concretizam.

Ele fez as declarações um dia após Lula ter dito que o PAC não terminaria com o seu mandato, em 2010, e se comprometeu a anunciar um novo PAC para mais quatro anos. Ou seja: otimista, Lula quer deflagrar um programa para para Dilma.

As críticas de FHC não vem ao acaso. Fazem parte de uma estratégia que o PSDB começou a construir, na tentativa de minar a popularidade de Lula e a pré-candidatura da ministra da Casa Civil. Um tucano de alto escalão confirma a iniciativa, argumentando que o partido estaria preocupado com a perda de terreno, já que, enquanto José Serra e o governador de Minas, Aécio Neves, também pré-candidato do PSDB a presidente, não chegam a um consenso para ganhar a mídia rumo ao Planalto, Lula já botou o bloco na rua e corre o País divulgando sua candidata. "Estamos, mesmo, perdendo tempo com a indefinição", admite.

Outra prova dessa estratégia tucana são as críticas diretas do líder do PSDB na Câmara dos Deputados, José Aníbal (SP) à presidenciável petista, a quem acusa de "cavar oportunidades para aparecer". Sintomático, Aníbal diz que a ministra não perde uma oportunidade de mostrar a cara, "mas sempre precisa de alguém para apresentá-la à população".

A investida tucana faz parte do jogo eleitoral, sem dúvida. E é justa, se considerarmos que o outro lado já está em campo. Mas não vai surtir o efeito devido se não vier acompanhada de um nome, um rosto visível ao eleitor para concorrer com Dilma. Seja ele Serra ou Aécio. Um impasse longe do fim, ao que parece.




sexta-feira, 6 de março de 2009

Transparência pela metade

A onda da transparência e moralização do Legislativo que invadiu as páginas dos jornais, telas e rádios esta semana, a partir da criação da nova frente anticorrupção no Congresso Nacional não pretende ser uma “marolinha”. Aparentemente, o movimento – iniciado por 27 deputados federais e dois senadores – conseguiu sensibilizar, em parte, a Mesa Diretora do hermético Senado. Em reunião na última quinta-feira, os comandantes da Casa decidiram disponibilizar na internet, a partir de abril, as prestações de contas dos 81 senadores dos gastos com as verbas indenizatórias de R$ 15 mil a que cada um tem direito mensalmente.


Mas um detalhe importante: o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP) anunciou que a página na internet só trará as prestações de contas feitas a partir deste mês. Os gastos dos senhores senadores feitos antes disso permanecerão em sigilo. Ou seja: se houve ou não irregularidades no uso do dinheiro por parte de algum parlamentar, não será esclarecido, e o infrator estará automaticamente protegido.

O presidente do Senado justifica que não é responsável por eventuais erros que tenham sido cometidos por seus antecessores. Como se esses antecessores não tivessem sido eleitos pelo povo da mesma forma que os atuais senadores, e ao povo não devessem satisfações. Não abrir as contas anteriores é passar um recibo de suspeição. Alguém tem algo a esconder? Se não, por que não abrir todas as contas?
Na Câmara dos Deputados a abertura das prestações de contas na internet já havia sido decidida, após o escândalo envolvendo o “dono do castelo”, deputado Edmar Moreira (sem partido-MG). Mas, da mesma forma que no Senado, a decisão anunciada pelo presidente da Casa, Michel Temer (PMDB-SP), é incompleta, por não revelar gastos anteriores.

A nova frente parlamentar pela moralização, porém, promete defender uma mudança na decisão das duas Casas, forçando a abertura total das contas dos parlamentares. Pode ser a primeira prova de fogo do movimento. Se perderem a parada para Sarney, Temer e companhia, esses parlamentares estarão dando um passo atrás na campanha recém-lançada.

O grupo, aliás, decidiu mesmo se arriscar diante da opinião pública. Comprou outra briga difícil de ganhar com um número tão pequeno de “soldados” contra um batalhão que ainda não aderiu à onda da moralização: a frente vai tentar aprovar um projeto que determina a abertura de todos os votos na Câmara e Senado, com exceção das votações de nomes dos ministros do Supremo Tribunal Federal e embaixadores, bem como a eleição para a direção da Casa. Mas entre os votos que deixariam de ser secretos está a cassação de deputados e senadores.

Este sim é um desafio. Mas ainda que não saiam da briga bem-sucedidos, esses poucos “paladinos” terão exposto os colegas que ajudarem a derrotar a proposta, contribuindo de certa forma para o eleitor, mais à frente, em 2010, repensar seu voto.